São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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Polícia separa 70 brigas de trânsito por dia em SP

Capital tem, em média, um registro de desentendimento a cada 20 minutos

"Eu viro um monstro; entro no carro, passo a esquina e já estou xingando alguém", diz motorista "brigão"

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

O corretor de seguros Gilberto, 45, deu uma bronca em um motorista de táxi que lhe cortou a frente. Ao ouvir um atravessado "não reclama porque você ainda está vivo", não pensou duas vezes. Partiu para a briga.
"Quase matei o cara. Sabe aquele desenho do Walt Disney da década de 50? O Pateta motorista que se transforma dentro do carro? Aquele sou eu. Eu viro um monstro. Entro no carro, respiro fundo e digo: "Hoje nada vai me afetar". Eu viro a esquina e já estou xingando alguém"."
O problema de Gilberto, que buscou tratamento após perder a conta do número de brigas em que se envolveu no trânsito, está cada vez mais comum nas ruas da capital. E quem diz isso não são os médicos, mas a polícia.
Todos os dias, segundo a Polícia Militar, entre as 35 mil chamadas há, em média, 70 para atendimentos de brigas de trânsito na capital -uma a cada 20 minutos.
Parte dos desentendimentos e agressões ocorre após pequenos acidentes, sem vítimas. Outra parte, porém, segundo a PM, é fruto da disputa entre motoristas por espaços nas ruas da capital (a frota paulistana é de 7 milhões de veículos).
"Uma buzinada, um carro quer passar e o outro não deixa. Tudo isso pode ser motivo para um xingamento, um gesto obsceno, e dar início a uma briga", diz o porta-voz do comando da PM, capitão Cleodato Moisés do Nascimento.

"LEI DE GERSON"
Para a psicóloga Liliana Seger, parte dos motoristas não tolera ter sua frente "roubada" numa fila e vê essa ação até como um deboche. "Ele entende: "eu sou esperto e você é bobão"."
Para o gerente de produto Breno Lopes, 31, foi um sentimento assim que o fez instalar uma buzina náutica no veículo e a andar com uma lanterna comprida, que também servia de cassetete, no banco de trás por um tempo.
"Eu não gosto de gente espertona, de "Gersons'", disse ele que não chegou a brigar fisicamente, mas já foi ameaçado por motorista armado.
Dos desentendimentos, diz o capitão, mais da metade envolve motociclistas.
O motorista Josias de Oliveira, 39, está nessa lista. No início do ano, conta, estava em um semáforo quando, de repente, um motoqueiro chutou a porta do seu carro.
"Eu abaixei o vidro e perguntei se ele estava maluco. Ele disse: "É isso mesmo, mané". Ele partiu para cima de mim e eu para cima dele. Quando vi, tinha uns 15 motoboys e umas 50 pessoas me olhando", diz Josias.


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