São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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"Brigões" chegam a 4% da população

Psicóloga Liliana Seger, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, explica que "pavios curtos" podem ser doentes

O Transtorno Explosivo Intermitente, ou apenas TEI, é um doença e leva pessoas com esse mal a ser menos tolerantes

DE SÃO PAULO

"Barberou'? Fechou alguém no trânsito? Levante a mão e peça desculpas. Esse simples gesto, segundo a psicóloga Liliana Seger, pode evitar o início de uma briga de consequências imprevisíveis.
Principalmente se do outro lado estiver um motorista que sofra de uma doença chamada TEI (Transtorno Explosivo Intermitente). Liliana coordena um estudo sobre essa doença no Instituto de Psiquiatria do HC de SP.
Pessoas com esse mal, segundo ela, são "extremamente intolerantes aos erros dos outros" e numa briga são capazes de tudo -até matar. "Se o cara do outro lado está armado, ele não está nem aí. Vai para cima. A pessoa fica cega de raiva. E se ela tiver uma arma, ela mata", diz. "Se você levantar a mão e pedir desculpa, pelo menos ela não vai te arrebentar."
O corretor de seguros Gilberto, que faz parte do grupo de tratamento de Liliana, concorda. O motorista de táxi que ele quase matou teria se livrado da surra com um simples pedido de desculpas, diz. Segundo a psicóloga, estima-se que cerca de 4% da população possua a doença.
"São aquelas pessoas popularmente chamadas de 'pavio curto'", diz. "Elas não medem as consequências. Depois, ficam arrependidas."
Um motorista que briga no trânsito, mesmo quando está com crianças no carro, por exemplo, muito provavelmente tem a doença.
Em São Paulo, em apenas um mês, pelo menos três mortes ocorreram em brigas de trânsito. A polícia diz não ter um levantamento exato de quantas pessoas são assassinadas dessa forma.
Para o delegado-geral Marcos Carneiro Lima, o maior rigor na liberação de armas no Brasil -que praticamente acabou com o porte de armas para civis-, reduziu muito o número de pessoas que se matavam nas ruas. "Você tinha no trânsito um dentista matando um engenheiro.
Pessoas de bem, mas que se matavam porque brigavam no trânsito. Com essa redução [de armas nas ruas], esses casos tornaram raros."

GENTILEZA
O sociólogo Álvaro Gullo, da USP, diz que a violência no trânsito é resultado do estilo de vida que a cidade adotou: altamente competitivo e que joga as pessoas umas contras as outras.
"A boa notícia é que poderíamos amenizar muito esse sofrimento, se desenvolvêssemos nossa capacidade de resiliência", diz Elko Perissinotti, vice-diretor do Hospital-Dia do Instituto de Psiquiatria do HC. (ROGÉRIO PAGNAN)

FOLHA.com
Veja depoimento em
folha.com.br/mm941254


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