São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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Especialistas criticam a "violência" da intromissão

Desembargador Siro Darlan diz que direito do adolescente é desrespeitado

Para psiquiatra, a medida é um sinal de que algo vai mal na relação da família e precisa ser mudado logo

DO RIO
DE SÃO PAULO

Apesar de estar se tornando cada vez mais comum, a contratação de detetives para monitorar a vida dos filhos é criticada por especialistas, que acreditam que a ação é uma violação do direito dos adolescentes e um sinal de que o convívio familiar não vai nada bem.
O desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Siro Darlan -que trabalhou 14 anos como juiz na 1ª Vara da Infância e Juventude- classifica a vigilância dos filhos como um ato de "violência" dos pais.
"Se isso não é feito pela polícia oficial porque não tem amparo legal, como justificar que um ente privado invada a privacidade de terceiros, sejam eles maiores ou menores?", questiona.
"Eles estão afrontando o direito da criança e do adolescente à privacidade. O artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que a criança tem direito ao respeito e esse respeito consiste na inviolabilidade da sua integridade física, psíquica e moral, que está sendo invadida por esses detetives."

CONFIANÇA
"Se um pai ou uma mãe contrata um profissional para ir atrás do filho é porque eles não têm afinidade com esse filho, eles não confiam nele", afirma o chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio de Janeiro, Fábio Barbirato.
"Por que eles não confiam no filho? Alguma coisa está errada. Então, tem que tentar mudar isso", completa.
O psiquiatra explica que as consequências do ato dos pais pode gerar problemas ainda maiores para a vida familiar do que as suspeitas que originaram a vigilância. "Se o adolescente descobre, ele vai se sentir acuado, vistoriado 24 horas. Os filhos têm que entender que devem respeitar as regras e os pais", afirma Barbirato.
Para ele, os pais devem ficar atentos para não deixar que a situação chegue a esse ponto. "Os pais não querem coibir, eles dão liberdade e a criança vai crescendo. Chega um momento que eles perdem o controle e ficam desesperados atrás de detetive, sem saber o que fazer."
Até mesmo a detetive Angela Bekeredjian, 69, há 48 anos atuando na área e acostumada a receber esses pais, se espanta com algumas atitudes que vê em seu escritório, em São Paulo.
"É impressionante como ainda há preconceito dos pais, muitos preocupados em saber se o filho é gay", revela Angela.
Mais acostumada a comprovar traições conjugais, a detetive estima que 30% dos casos que ela investiga hoje se relacionem a bisbilhotar a vida de jovens. (DB e GBJ)


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