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SEGURANÇA ÀS AVESSAS
Funcionários teriam levado R$ 1 milhão de sete imóveis do residencial; pegada foi a principal pista
Vigias são acusados de furtos em Alphaville
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de R$ 1 milhão desapareceu de dentro de imóveis do residencial Alphaville 10, condomínio com 476 unidades de alto padrão em Santana de Parnaíba
(Grande São Paulo). Foram sete
furtos nos últimos seis meses.
Ontem, a Polícia Civil disse ter
descoberto os culpados: exatamente dois dos homens encarregados de dar segurança aos moradores. Um dos acusados chefiava
as equipes noturnas de ronda e lá
trabalhava havia oito anos.
O residencial é cercado por 3
km de muralhas com sensores de
movimentação. Na portaria,
2.500 pessoas são diariamente registradas e fotografadas. Apesar
dos cuidados, furtos sucessivos
sugeriram à direção de segurança,
no final de 2003, que o condomínio estava sendo alvo de uma ação
criminosa mais organizada.
A polícia foi acionada, e o padrão dos ataques foi logo identificado: ações noturnas, em casas
cujos moradores estavam viajando, com arrombamentos quase
imperceptíveis e sumiço de jóias e
dinheiro, ficando para trás tudo o
que deixa rastro, como cheques.
O último furto ocorreu em 29 de
julho, mas desde 2002 pelo menos
16 ações tiveram as mesmas características descritas acima.
O cenário era esse, não muito
claro, até que pegadas foram
identificadas em quatro dos sete
imóveis atacados neste ano. Eram
marcas de um coturno.
"Elas também sugeriam que os
invasores pisavam em orvalho
-por isso a terra aderia tanto à
sola dos sapatos deles. Daí tivemos certeza de que a ação era noturna", narra Ricardo Dantas, 38,
um dos três investigadores da
Seccional de Carapicuíba que
atuaram na apuração do caso.
As pegadas foram medidas:
eram de sapatos 41, segundo o fabricante dos calçados. As botas
dos 30 vigias noturnos foram analisadas, e a prova final veio de uma
cicatriz na sola de uma delas
-marca provavelmente feita por
um caco de vidro e que se repetia
nos rastros deixados nas casas.
Era o coturno de Antonio Augusto Turim, 34, subencarregado
de segurança em todos os plantões noturnos nos quais furtos foram registrados. Há um ano ele
rejeitara uma promoção porque
teria de trabalhar de dia.
Interrogado, Turim confessou
os furtos deste ano e, segundo a
polícia, indicou um comparsa: o
vigia Gérson de Souza, 36.
"Eles integravam um das duas
equipes noturnas. Tinham 36 minutos para agir, sob o risco de serem flagrados pelos colegas da segunda equipe", afirma o delegado
seccional Wagner Lombisani.
Turim e Souza responderão ao
processo em liberdade e não quiseram dar entrevistas ontem, segundo os investigadores.
A ourives que recebeu as jóias
-e que pagou por elas 3% do que
valiam- foi indiciada por receptação. Em seu escritório, no Jardim Paulistano (zona oeste), estavam algumas das jóias supostamente furtadas, mas elas ainda
não haviam sido submetidas ao
reconhecimento dos moradores
lesados até a noite de ontem.
As vítimas não quiseram comentar o fato. Uma delas mudou-se ontem mesmo do residencial.
"Para nós foi um choque. Fazemos uma seleção extremamente
minuciosa e uma investigação social anual da vida de nossos funcionários. Eles não tinham antecedentes. Não se pode adivinhar",
disse Isnard Glênio Pereira, 71,
coronel da reserva do Exército, diretor de segurança e morador há
nove anos do Alphaville 10.
Diferentemente do que relata a
polícia, Pereira afirma que todos
os cerca de dez furtos anuais registrados no residencial em anos
anteriores já foram esclarecidos.
Ele diz ainda que as casas furtadas não têm o sistema de monitoramento de presença -incluído
no condomínio, que custa R$ 450
mensais. Para ter o serviço, porém, o morador deve comprar os
sensores (cerca de R$ 400 cada).
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