São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA ÀS AVESSAS

Funcionários teriam levado R$ 1 milhão de sete imóveis do residencial; pegada foi a principal pista

Vigias são acusados de furtos em Alphaville

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de R$ 1 milhão desapareceu de dentro de imóveis do residencial Alphaville 10, condomínio com 476 unidades de alto padrão em Santana de Parnaíba (Grande São Paulo). Foram sete furtos nos últimos seis meses.
Ontem, a Polícia Civil disse ter descoberto os culpados: exatamente dois dos homens encarregados de dar segurança aos moradores. Um dos acusados chefiava as equipes noturnas de ronda e lá trabalhava havia oito anos.
O residencial é cercado por 3 km de muralhas com sensores de movimentação. Na portaria, 2.500 pessoas são diariamente registradas e fotografadas. Apesar dos cuidados, furtos sucessivos sugeriram à direção de segurança, no final de 2003, que o condomínio estava sendo alvo de uma ação criminosa mais organizada.
A polícia foi acionada, e o padrão dos ataques foi logo identificado: ações noturnas, em casas cujos moradores estavam viajando, com arrombamentos quase imperceptíveis e sumiço de jóias e dinheiro, ficando para trás tudo o que deixa rastro, como cheques.
O último furto ocorreu em 29 de julho, mas desde 2002 pelo menos 16 ações tiveram as mesmas características descritas acima.
O cenário era esse, não muito claro, até que pegadas foram identificadas em quatro dos sete imóveis atacados neste ano. Eram marcas de um coturno.
"Elas também sugeriam que os invasores pisavam em orvalho -por isso a terra aderia tanto à sola dos sapatos deles. Daí tivemos certeza de que a ação era noturna", narra Ricardo Dantas, 38, um dos três investigadores da Seccional de Carapicuíba que atuaram na apuração do caso.
As pegadas foram medidas: eram de sapatos 41, segundo o fabricante dos calçados. As botas dos 30 vigias noturnos foram analisadas, e a prova final veio de uma cicatriz na sola de uma delas -marca provavelmente feita por um caco de vidro e que se repetia nos rastros deixados nas casas.
Era o coturno de Antonio Augusto Turim, 34, subencarregado de segurança em todos os plantões noturnos nos quais furtos foram registrados. Há um ano ele rejeitara uma promoção porque teria de trabalhar de dia.
Interrogado, Turim confessou os furtos deste ano e, segundo a polícia, indicou um comparsa: o vigia Gérson de Souza, 36.
"Eles integravam um das duas equipes noturnas. Tinham 36 minutos para agir, sob o risco de serem flagrados pelos colegas da segunda equipe", afirma o delegado seccional Wagner Lombisani.
Turim e Souza responderão ao processo em liberdade e não quiseram dar entrevistas ontem, segundo os investigadores.
A ourives que recebeu as jóias -e que pagou por elas 3% do que valiam- foi indiciada por receptação. Em seu escritório, no Jardim Paulistano (zona oeste), estavam algumas das jóias supostamente furtadas, mas elas ainda não haviam sido submetidas ao reconhecimento dos moradores lesados até a noite de ontem.
As vítimas não quiseram comentar o fato. Uma delas mudou-se ontem mesmo do residencial.
"Para nós foi um choque. Fazemos uma seleção extremamente minuciosa e uma investigação social anual da vida de nossos funcionários. Eles não tinham antecedentes. Não se pode adivinhar", disse Isnard Glênio Pereira, 71, coronel da reserva do Exército, diretor de segurança e morador há nove anos do Alphaville 10.
Diferentemente do que relata a polícia, Pereira afirma que todos os cerca de dez furtos anuais registrados no residencial em anos anteriores já foram esclarecidos.
Ele diz ainda que as casas furtadas não têm o sistema de monitoramento de presença -incluído no condomínio, que custa R$ 450 mensais. Para ter o serviço, porém, o morador deve comprar os sensores (cerca de R$ 400 cada).


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Crime na rede: 9 são presos por desvio de dinheiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.