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BARBARA GANCIA
Justiça ao avesso
O juiz tem saudades dos tempos em que homossexuais eram obrigados a andar com estrelas costuradas na manga?
ALÔ, MINISTRO Tarso Genro!
Organizações internacionais
de direitos humanos como os
Repórteres Sem Fronteiras e o Human Rights Watch pediram explicações sobre a nebulosa recondução a
Cuba de Guillermo Rigondeaux e
Erislandy Lara, os boxeadores fugitivos da delegação cubana no Pan.
Mas, até agora, ninguém no Ministério da Justiça se pronunciou oficialmente sobre os procedimentos
adotados no caso.
Ao mesmo tempo, ficamos sabendo que a Polícia Federal está toda,
toda com a promessa de pagamento
de recompensa, por parte do Departamento de Estado dos EUA, pela
captura do traficante colombiano
Juan Carlos Ramírez Abadía.
Ainda bem que o sempre sensato
José Carlos Dias fez questão de notar que o recebimento dessa recompensa é imoral e antiético. Abro aspas para as palavras do advogado e
ex-ministro: "A PF existe como instituição para combater o crime. Ela
não tem de receber prêmio de país
estrangeiro por cumprir seu dever".
Do jeito que a coisa vai, enquanto
os cubanos passam o pão que o diabo amassou em algum porão de Havana, é bem capaz de a Justiça decidir que o traficante colombiano deva ficar por aqui ensinando aos nossos presidiários suas técnicas, em
vez de ser extraditado para os EUA.
É "le monde à l"envers", o mundo ao
avesso, como diriam os franceses.
Por ter um filho com uma brasileira, Ronald Biggs pôde ficar no Rio
como hóspede o quanto quis. Mas os
atletas foram mandados de volta para uma ditadura que fuzila seus opositores, condena a liberdade de expressão e o ir e vir de seus cidadãos.
Mais: na quarta-feira, o Supremo arquivou inquérito contra Paulo Maluf, por suposto crime de corrupção
na construção do túnel Ayrton Senna. Se a Justiça sabia que o crime ia
prescrever, por que não acelerou o
processo? Digamos, hipoteticamente, que Maluf fosse condenado. Já
imaginou a dinheirama que seria devolvida aos cofres públicos? Ou será
que, no caso dos que têm dinheiro
suficiente para colocar um escritório de advocacia com mais de 100
pessoas trabalhando inteiramente
ao seu dispor, é só ir deixando o tempo passar, entre uma liminar e outra, até o crime prescrever?
E o que dizer da sentença do juiz
Manoel Maximiano Junqueira Filho? Ele arquivou processo movido
por Richarlyson contra um diretor
do Palmeiras, que teria insinuado
ser o atleta homossexual. Não entro
no mérito da avaliação, sentença de
juiz não se discute, acata-se. Mas
deixo com o nobre leitor alguns trechos do parecer que, na minha modestíssima opinião, demonstram
evidente saudades dos tempos em
que homossexuais eram obrigados a
andar com estrelas costuradas na
manga. Veja: "Não que homossexual
não possa jogar bola. Pois que jogue,
querendo. Mas, forme seu time e inicie uma Federação. Agende jogos
com quem prefira pelejar contra si";
"Não se mostra razoável a aceitação
de homossexuais no futebol, pois
prejudicam a uniformidade do pensamento da equipe"; "Para não falar
no desconforto do torcedor (....) de
perder-se em análise dos comportamentos deste ou aquele atleta, com
evidente problema de personalidade ou existencial". Por fim, ele conclui brilhantemente: "Cada um na
sua área, cada macaco no seu galho,
cada galo em seu terreiro, cada rei
em seu baralho".
barbara@uol.com.br
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