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900 cédulas e moedas raras são furtadas do museu do Ipiranga
Não havia sinais de arrombamento e polícia acredita em envolvimento de funcionários; sumiço foi no final de semana
Peças levadas têm "valor histórico inestimável", segundo especialista da
USP; coleção não ficava em exposição pública
LILIAN CHRISTOFOLETTI
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Museu Paulista, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, teve
cerca de 900 peças furtadas no
setor de numismática (ciência
que estuda as moedas e medalhas). Foram levadas três coleções de cédulas antigas e algumas moedas. No lote estão notas emitidas na Áustria e na
Alemanha, durante a Primeira
Guerra Mundial, e cédulas brasileiras do início do século 20.
O furto foi no último final de
semana. As peças não integravam a exposição ao público. Ficavam em salas de acesso restrito, em armários trancados.
"O valor histórico é inestimável. É um desastre que o patrimônio público seja lesado dessa maneira. Se alguém rouba
uma quantidade de peças assim
é um absurdo", disse Beatriz
Florenzano, professora de arqueologia clássica da USP.
Segundo a professora, as coleções furtadas permitem traçar uma história do dinheiro.
"O conjunto de peças tem um
papel importante. É um conjunto homogêneo. Isso é alguém que sabe o valor das peças, porque foi roubado o conjunto", diz. "É muito triste que
isso aconteça na minha universidade, que fica exposta."
Pela dinâmica do crime, a Polícia Civil acredita no envolvimento de funcionários do próprio museu no furto.
No livro de registro mantido
pelos vigilantes, consta uma
anotação, de segunda de manhã, dando pela falta das chaves da sala de numismática. Em
seguida, um novo registro, desta vez para informar que o molho estava "indevidamente"
com um funcionário.
A professora Ângela Maria
Gianeze Ribeiro, responsável
pelo setor, disse à polícia que
apenas ela tem as chaves da sala
invadida e que, na sua ausência,
elas ficam com os vigias.
Todos que trabalharam no final de semana serão ouvidos,
diz a polícia -cerca de 20 pessoas no sábado e 15, no domingo. De 1.500 a 2.000 pessoas visitaram o museu no período.
Lixo
Foi na segunda-feira, dia 6,
por volta das 8h, que um funcionário do setor de limpeza
descobriu o furto. Ao limpar o
banheiro masculino dos funcionários, encontrou dentro de
um saco de lixo pelo menos dez
notas antigas e dezenas de envelopes de acetato usados para
armazenar as peças.
Na sala de numismática, o
furto foi confirmado. Não há sinal de arrombamento. A polícia
recolheu amostras de digitais.
Da sala de numismática ao
banheiro masculino, o criminoso teve de percorrer de 100 a
150 metros e passou por pelo
menos duas câmeras de vídeo.
A diretoria em exercício do
museu, Heloísa Barbuy, afirmou que já pediu pelo menos
mais dez vigilantes para o prédio -hoje há 22 vigias de uma
empresa terceirizada.
O valor das obras furtadas
depende do interesse do colecionador, afirmou Barbuy, que
evitou falar em montante.
A coleção de cédulas da Áustria e da Alemanha era formada
por 330 notas, a maioria da Primeira Guerra Mundial. Chamadas "Notgeld" ("dinheiro de
emergência"), foram fabricadas
para suprir a escassez da emissão do dinheiro oficial.
A segunda coleção era de notas emitidas em cidades do interior quando faltavam valores
usados como trocos, no início
do século 20. A terceira reunia
cédulas oficiais brasileiras desde 1830, emitidas pelos primeiros bancos nacionais.
Outros casos
Outros acervos importantes
foram alvo de furtos: em setembro de 2006, a biblioteca Mário
de Andrade teve furtados, entre
outros itens, um livro de orações de 1501 impresso em pergaminho e gravuras dos séculos
18 e 19. No primeiro semestre
do mesmo ano, os museus da
Cidade e Chácara do Sul, no
Rio, já haviam sido furtados.
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