São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

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900 cédulas e moedas raras são furtadas do museu do Ipiranga

Não havia sinais de arrombamento e polícia acredita em envolvimento de funcionários; sumiço foi no final de semana

Peças levadas têm "valor histórico inestimável", segundo especialista da USP; coleção não ficava em exposição pública

LILIAN CHRISTOFOLETTI
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Museu Paulista, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, teve cerca de 900 peças furtadas no setor de numismática (ciência que estuda as moedas e medalhas). Foram levadas três coleções de cédulas antigas e algumas moedas. No lote estão notas emitidas na Áustria e na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, e cédulas brasileiras do início do século 20.
O furto foi no último final de semana. As peças não integravam a exposição ao público. Ficavam em salas de acesso restrito, em armários trancados.
"O valor histórico é inestimável. É um desastre que o patrimônio público seja lesado dessa maneira. Se alguém rouba uma quantidade de peças assim é um absurdo", disse Beatriz Florenzano, professora de arqueologia clássica da USP.
Segundo a professora, as coleções furtadas permitem traçar uma história do dinheiro. "O conjunto de peças tem um papel importante. É um conjunto homogêneo. Isso é alguém que sabe o valor das peças, porque foi roubado o conjunto", diz. "É muito triste que isso aconteça na minha universidade, que fica exposta."
Pela dinâmica do crime, a Polícia Civil acredita no envolvimento de funcionários do próprio museu no furto.
No livro de registro mantido pelos vigilantes, consta uma anotação, de segunda de manhã, dando pela falta das chaves da sala de numismática. Em seguida, um novo registro, desta vez para informar que o molho estava "indevidamente" com um funcionário.
A professora Ângela Maria Gianeze Ribeiro, responsável pelo setor, disse à polícia que apenas ela tem as chaves da sala invadida e que, na sua ausência, elas ficam com os vigias.
Todos que trabalharam no final de semana serão ouvidos, diz a polícia -cerca de 20 pessoas no sábado e 15, no domingo. De 1.500 a 2.000 pessoas visitaram o museu no período.

Lixo
Foi na segunda-feira, dia 6, por volta das 8h, que um funcionário do setor de limpeza descobriu o furto. Ao limpar o banheiro masculino dos funcionários, encontrou dentro de um saco de lixo pelo menos dez notas antigas e dezenas de envelopes de acetato usados para armazenar as peças.
Na sala de numismática, o furto foi confirmado. Não há sinal de arrombamento. A polícia recolheu amostras de digitais.
Da sala de numismática ao banheiro masculino, o criminoso teve de percorrer de 100 a 150 metros e passou por pelo menos duas câmeras de vídeo.
A diretoria em exercício do museu, Heloísa Barbuy, afirmou que já pediu pelo menos mais dez vigilantes para o prédio -hoje há 22 vigias de uma empresa terceirizada.
O valor das obras furtadas depende do interesse do colecionador, afirmou Barbuy, que evitou falar em montante.
A coleção de cédulas da Áustria e da Alemanha era formada por 330 notas, a maioria da Primeira Guerra Mundial. Chamadas "Notgeld" ("dinheiro de emergência"), foram fabricadas para suprir a escassez da emissão do dinheiro oficial.
A segunda coleção era de notas emitidas em cidades do interior quando faltavam valores usados como trocos, no início do século 20. A terceira reunia cédulas oficiais brasileiras desde 1830, emitidas pelos primeiros bancos nacionais.

Outros casos
Outros acervos importantes foram alvo de furtos: em setembro de 2006, a biblioteca Mário de Andrade teve furtados, entre outros itens, um livro de orações de 1501 impresso em pergaminho e gravuras dos séculos 18 e 19. No primeiro semestre do mesmo ano, os museus da Cidade e Chácara do Sul, no Rio, já haviam sido furtados.


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