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Traficante propõe à PF delação premiada
Colombiano disse informalmente que entregaria policiais que corrompeu no Brasil em troca de cumprir a pena nos EUA
Juan Carlos Ramírez Abadía afirmou que mostrará onde mantém mais dinheiro para demonstrar que a proposta de acordo não é um blefe
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O traficante colombiano
Juan Carlos Ramírez Abadía,
44, propôs informalmente à
Polícia Federal um acordo de
delação premiada. Ele se dispôs
a entregar os nomes dos policiais que corrompeu desde que
chegou ao Brasil em 2004. Em
troca, quer que a Justiça autorize que ele cumpra a pena por
lavar dinheiro no Brasil em
uma prisão nos EUA.
Para demonstrar que a proposta de acordo não é um blefe,
o traficante disse que irá mostrar onde tem mais dinheiro.
O suposto local já foi alvo de
uma operação de busca e
apreensão da PF. Na última
terça-feira, quando foi preso, a
PF apreendeu em sua casa US$
544 mil, R$ 55 mil e 250 mil.
Parte das notas estava escondida dentro de caixas acústicas.
Ele vivia numa casa de 1.800
m2, num condomínio em Aldeia da Serra, em Barueri, na
Grande São Paulo.
Abadía era um dos traficantes mais procurados do mundo.
Nos EUA, ele é acusado de tráfico de drogas no Colorado e
em um dos distritos de Nova
York. Em nenhum desses locais, no entanto, foi condenado. Ele é apontado pelo DEA
(Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas
americana) como o chefe do
Cartel do Vale do Norte, da Colômbia, que teria enviado mil
toneladas de cocaína para
aquele país. Ele é acusado pela
Justiça dos dois países de ordenar 315 assassinatos -300 na
Colômbia e 15 nos EUA.
No Brasil, até onde a PF conseguiu apurar, Abadía não teria
traficado cocaína. Ele usava o
país para lavar o dinheiro que
arrecadou em mais de 20 anos
de tráfico -as autoridades
americanas estimam que sua
fortuna possa ser de US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 3,5 bilhões).
Segundo a investigação da
PF, ele usava uma rede de 17
empresas para lavar dinheiro.
As empresas ficam em São
Paulo, no Paraná e no Rio
Grande do Sul e cobrem negócios que vão de computadores a
alimentos, de perfume a carros,
de jet ski a piscicultura.
A pena para lavagem de dinheiro no Brasil é a reclusão de
três a dez anos e multa.
Em tese, a proposta do traficante pode ser contemplada
em parte pela legislação brasileira -a delação premiada está
prevista no Código Penal.
A idéia por trás do acordo de
delação é permitir que o Estado chegue ao criminoso mais
importante e mais difícil de ser
preso. Cabe ao juiz decidir o
quanto a pena será reduzida
-dependendo do caso, ele pode até perdoar o réu.
Já o cumprimento de pena
nos EUA não está previsto na
lei brasileira, segundo o criminalista Adriano Salles Vanni. O
juiz da delação premiada poderia, porém, fazer esse tipo de
transação. Ontem, o Supremo
Tribunal Federal autorizou a
extradição para os Estados
Unidos de outro traficante, o
colombiano Mario Fernando
Camacho Martinez. Ele foi indiciado na Justiça americana
sob acusação de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
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