São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

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Traficante propõe à PF delação premiada

Colombiano disse informalmente que entregaria policiais que corrompeu no Brasil em troca de cumprir a pena nos EUA

Juan Carlos Ramírez Abadía afirmou que mostrará onde mantém mais dinheiro para demonstrar que a proposta de acordo não é um blefe

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, 44, propôs informalmente à Polícia Federal um acordo de delação premiada. Ele se dispôs a entregar os nomes dos policiais que corrompeu desde que chegou ao Brasil em 2004. Em troca, quer que a Justiça autorize que ele cumpra a pena por lavar dinheiro no Brasil em uma prisão nos EUA.
Para demonstrar que a proposta de acordo não é um blefe, o traficante disse que irá mostrar onde tem mais dinheiro.
O suposto local já foi alvo de uma operação de busca e apreensão da PF. Na última terça-feira, quando foi preso, a PF apreendeu em sua casa US$ 544 mil, R$ 55 mil e 250 mil. Parte das notas estava escondida dentro de caixas acústicas. Ele vivia numa casa de 1.800 m2, num condomínio em Aldeia da Serra, em Barueri, na Grande São Paulo.
Abadía era um dos traficantes mais procurados do mundo. Nos EUA, ele é acusado de tráfico de drogas no Colorado e em um dos distritos de Nova York. Em nenhum desses locais, no entanto, foi condenado. Ele é apontado pelo DEA (Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas americana) como o chefe do Cartel do Vale do Norte, da Colômbia, que teria enviado mil toneladas de cocaína para aquele país. Ele é acusado pela Justiça dos dois países de ordenar 315 assassinatos -300 na Colômbia e 15 nos EUA.
No Brasil, até onde a PF conseguiu apurar, Abadía não teria traficado cocaína. Ele usava o país para lavar o dinheiro que arrecadou em mais de 20 anos de tráfico -as autoridades americanas estimam que sua fortuna possa ser de US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 3,5 bilhões).
Segundo a investigação da PF, ele usava uma rede de 17 empresas para lavar dinheiro. As empresas ficam em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul e cobrem negócios que vão de computadores a alimentos, de perfume a carros, de jet ski a piscicultura.
A pena para lavagem de dinheiro no Brasil é a reclusão de três a dez anos e multa.
Em tese, a proposta do traficante pode ser contemplada em parte pela legislação brasileira -a delação premiada está prevista no Código Penal.
A idéia por trás do acordo de delação é permitir que o Estado chegue ao criminoso mais importante e mais difícil de ser preso. Cabe ao juiz decidir o quanto a pena será reduzida -dependendo do caso, ele pode até perdoar o réu.
Já o cumprimento de pena nos EUA não está previsto na lei brasileira, segundo o criminalista Adriano Salles Vanni. O juiz da delação premiada poderia, porém, fazer esse tipo de transação. Ontem, o Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição para os Estados Unidos de outro traficante, o colombiano Mario Fernando Camacho Martinez. Ele foi indiciado na Justiça americana sob acusação de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.


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