São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Mestre-de-obras virou profissão de rico
UM LEVANTAMENTO que fiz na semana passada em departamentos de recursos humanos de construtoras mostra que um mestre-de-obras experiente e disputado já consegue ganhar até R$ 10 mil por mês na cidade de São Paulo. A média salarial é obviamente mais baixa, girando em torno dos R$ 5.000 -mais alta, porém, do que a da maioria dos professores universitários. O boom imobiliário combinado à falta de trabalhadores qualificados levou à inusitada situação de um trabalhador numa obra, apenas com diploma de ensino médio, conseguir, em alguns casos, ganhar mais do que um engenheiro. É um exemplo para ilustrar uma informação levantada pelo Datafolha, ao investigar o perfil socioeconômico da cidade de São Paulo: 72% da população entre 16 e 24 anos tem diploma de ensino médio. Vamos repetir: 72%. Está aí a nova e quase desconhecida composição da paisagem humana de uma comunidade -a julgar pelas propostas de governo, é desconhecida dos candidatos à prefeitura. A explicação para esse movimento aparece nas estatísticas da Secretaria do Trabalho da capital paulista. Nos últimos 12 meses, foi criado, na cidade, 1,7 milhão de empregos: 60% dos contratados tinham ensino médio; mais 18% concluíram ou estão concluindo algum curso superior; a imensa maioria do restante chegou até pelo menos a 8ª série do ensino fundamental. O salário médio do mestre-de-obras que, pelos cálculos da FGV, o coloca na categoria dos ricos (acima dos R$ 4 mil) reflete a crescente procura das empresas por gente capacitada -uma gritaria que se vê em todos os setores que exigem um mínimo de sofisticação. Basta dar uma olhada nos bancos públicos de empregos: uma imensa quantidade de vagas não é preenchida. Na cidade de Indaiatuba, próxima de Campinas, a prefeitura, em parceria com o governo estadual e federal, universalizou o ensino técnico, respeitando as vocações locais. Lembrete: Indaiatuba apareceu em primeiro lugar na lista de qualidade de vida feita pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Na imensa maioria das vezes, como mostram as estatísticas oficiais, sair de cursos técnicos ou tecnológicos significa emprego garantido. Em alguns setores, como apontam relatórios do Centro Paula Souza e do Senai, a procura é bem maior do que a oferta da mão-de-obra formada em seus cursos. Em São Paulo, cursos técnicos começam a ser oferecidos nas escolas regulares da rede estadual. Ainda é um projeto que engatinha, não dá para ser avaliado. Mas tenho acompanhado a reação de alunos em uma das escolas que se tornou, desde o ano passado, piloto para esse programa, oferecendo cursos de webdesign e gestão de pequenos negócios. Percebo, ali, alunos mais motivados, por verem uma porta de saída e significado prático no que estão estudando. Um prefeito de São Paulo será, mais cedo ou mais tarde, forçado a se conectar menos ao hardware (obras) do que ao software (o capital humano), o que exige os mais diferentes arranjos de uma comunidade em torno do conhecimento. Temos aí alguns exemplos de arranjos produtivos locais que produzem bons e abundantes empregos, como São José dos Campos, Piracicaba ou Santa Rita do Sapucaí (MG), onde se montaram pólos de tecnologia em torno de suas vocações, respectivamente, aeronáutica, álcool e telecomunicações Coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br) o detalhamento da pesquisa Datafolha. Detalhei também os casos de Indaiatuba, Piracicaba, São José dos Campos e Santa Rita do Sapucaí. gdime@uol.com.br Texto Anterior: Angelo Margarido (1930-2008): E suas mil bengalas baratas para cegos Próximo Texto: Treinamento: Nova turma de jornalismo gráfico começa amanhã Índice |
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