São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2011

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Falhas e omissões mantêm "meninas do arrastão" na ativa

Divergências no cumprimento da lei fazem com que crianças voltem às ruas para cometer pequenos furtos

Menores de 12 anos não podem ser mantidas na Fundação Casa, a antiga Febem; nos abrigos, elas fogem com facilidade

Danilo Verpa/Folhapress
Menina esconde o rosto depois de tentar furtar produtos em uma loja da estação Paraíso

RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

DANILO VERPA
DE SÃO PAULO

Elas vagam pelas ruas da Vila Mariana e cometem pequenos furtos. A polícia chega e as deixa na delegacia. Lá, o delegado aciona os conselheiros tutelares. Mas no final de tudo, geralmente elas voltam para as ruas.
São crianças que dizem ter menos de 12 anos e, por isso, não são mandadas para a Fundação Casa. Acabam em abrigos, mas fogem sem ser incomodadas.
Essa é a rotina de um grupo de crianças, pelo menos 15 e na maioria meninas, que furta lojas e pedestres no bairro da zona sul da cidade.
Nos abrigos, o entendimento geral é que essas crianças, que dizem não ter família nem documentos, não podem ser mantidas à força. Não há vigias nem regras claras que obrigue as crianças a ficar nesses locais.
A Folha ficou no bairro das 10h às 14h de ontem. As "meninas do arrastão", como ficaram conhecidas, começaram a andar na rua e avançar com os braços ou colocar a cabeça dentro dos carros tentando achar algo para pegar. Uma mulher, sozinha no carro, se assustou e buzinou. As crianças então correram para o metrô.
Na estação, entraram em uma loja de doces. Andaram para lá e para cá e, ao perceberem a presença do fotógrafo da Folha, correram.
De volta às ruas, elas entraram em uma pizzaria, na Domingos de Morais. Lá, elas tentaram tomar um pedaço de pizza de uma cliente, mas foram impedidas pela dona.
Logo em seguida, foram abordadas por um policial militar e levaram uma bronca. Mas não saíram da rua.
"São sempre as mesmas. Tentam pegar produtos e assustam os clientes", diz a gerente da loja no metrô, que não se identificou.
"Quando a gente avista o grupo, já fica atento", diz Angélica dos Santos, 28, gerente da Droga Raia. Segundo ela, a loja foi atacada duas vezes nos últimos 15 dias.
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Martim Sampaio, critica. "Um caso social como esse vira policial e não há estrutura de ressocialização."
Achar vaga nos abrigos também não é fácil. Das 2.904 existentes, apenas 74 estavam livres no fim de semana. "Quando não há vaga em uma região, achamos em outra", diz Edna Santos, coordenadora de assistência social sudeste da prefeitura.

ABRIGO FORÇADO
Para o desembargador Antônio Carlos Malheiros, do Tribunal de Justiça de São Paulo, o problema é que os abrigos não estão preparados para acolher as crianças de forma compulsória.
Malheiros, acompanhado do promotor Tales de Oliveira, se reuniu com conselheiras tutelares para discutir a situação das crianças.
"Essas meninas precisam ser encaminhadas para a Fundação Casa, onde serão identificadas. Fica nessa brincadeira [apreende e solta] e não resolve."
"Diante dessa repetição de casos do mesmo grupo, a própria segurança das crianças está em risco", diz.


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