São Paulo, Terça-feira, 10 de Agosto de 1999
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POLÍCIA

Criminoso diz que rede italiana paga brasileiro para explorar caça-níqueis e lavar dinheiro; Noal nega

Italiano liga Noal a crime internacional


LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília

A DIA (Direção Investigativa Antimáfia) de Roma (Itália) obteve um testemunho que liga o empresário Ivo Noal a uma rede do crime organizado internacional envolvida com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Noal é acusado de ser o principal banqueiro do jogo do bicho em São Paulo.
Preso em Roma, Lillo Rosario Lauricella -um dos líderes da Banda Magliana (maior grupo criminoso da capital italiana)- contou, no dia 24 de abril passado, em depoimento oficial à Justiça e à polícia italianas, que era associado a Ivo Noal na exploração de caça-níqueis em São Paulo.
No depoimento, Lauricella disse que pagava US$ 80 mil a Noal por mês para poder instalar caça-níqueis nas áreas controladas pelo bicheiro na capital paulista. A DIA investiga o caso porque acredita que o negócio de caça-níqueis no Brasil sirva para lavar dinheiro do tráfico de drogas.
Noal diz que não conhece Lauricella e que o acusam de qualquer coisa ligado ao jogo que acontece em São Paulo (leia texto ao lado).
As 11 páginas com a transcrição do depoimento de Lauricella foram obtidas pela Folha. Nelas, o criminoso -que se tornou colaborador da Justiça italiana- conta que ficou "impressionado" com a organização do jogo do bicho no Brasil.
A DIA já conseguiu levantar boa parte do funcionamento da rede. Grupos mafiosos da Itália -como Barbaro (Calábria) e Senese (Nápoles)- "importam" cocaína e heroína da Colômbia. A droga passa então por pelo menos um entreposto (como o porto de Santos) e depois segue para a Itália.
Parte do dinheiro arrecadado é usado para comprar componentes eletrônicos na Espanha, que são utilizados para montar as máquinas de caça-níqueis (também conhecidas como videopôquer).
As máquinas são distribuídas para vários países -entre eles, o Brasil. Dessa forma, no final do processo, o dinheiro da droga volta para a Itália lavado.
Em São Paulo, os caça-níqueis eram distribuídos pela empresa Nevada Diversões, onde chegou a trabalhar um dos filhos de Noal, Cristian Noal.
Os caça-níqueis chegam ao Brasil sob patrocínio da Banda Magliana (grupo criminoso que atua de forma independente da máfia). No depoimento que deu à Justiça e à polícia italianas, Lauricella afirmou que as máquinas só são instaladas em São Paulo com o consentimento de Ivo Noal, que recebe 40% do faturamento.
"Para colocar as máquinas tem de pedir permissão", disse o criminoso. "A Ivo Noal nós pagávamos US$ 80 mil por mês."
Segundo Lauricella, livros com a contabilidade do esquema registram os pagamentos a Noal, inclusive um empréstimo de US$ 200 mil feito em abril de 97.
No depoimento, Lauricella fez uma descrição de como funcionam os grupos que controlam o jogo do bicho em São Paulo e no Rio. "Parece quase uma máfia", diz ele a respeito do esquema carioca do jogo do bicho.
O criminoso italiano explica que, logo que trouxeram o negócio para o Brasil, foram informados de que teriam de pagar porcentagem aos bicheiros. Em Santa Catarina, começaram a atuar sem "proteção" dos bicheiros locais e tiveram um carro incendiado.


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