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POLÍCIA
Criminoso diz que rede italiana paga brasileiro para explorar caça-níqueis e lavar dinheiro; Noal nega
Italiano liga Noal a crime internacional
LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília
A DIA (Direção Investigativa
Antimáfia) de Roma (Itália) obteve um testemunho que liga o empresário Ivo Noal a uma rede do
crime organizado internacional
envolvida com tráfico de drogas e
lavagem de dinheiro. Noal é acusado de ser o principal banqueiro
do jogo do bicho em São Paulo.
Preso em Roma, Lillo Rosario
Lauricella -um dos líderes da
Banda Magliana (maior grupo
criminoso da capital italiana)-
contou, no dia 24 de abril passado, em depoimento oficial à Justiça e à polícia italianas, que era associado a Ivo Noal na exploração
de caça-níqueis em São Paulo.
No depoimento, Lauricella disse que pagava US$ 80 mil a Noal
por mês para poder instalar caça-níqueis nas áreas controladas pelo
bicheiro na capital paulista. A
DIA investiga o caso porque acredita que o negócio de caça-níqueis no Brasil sirva para lavar dinheiro do tráfico de drogas.
Noal diz que não conhece Lauricella e que o acusam de qualquer
coisa ligado ao jogo que acontece
em São Paulo (leia texto ao lado).
As 11 páginas com a transcrição
do depoimento de Lauricella foram obtidas pela Folha. Nelas, o
criminoso -que se tornou colaborador da Justiça italiana- conta que ficou "impressionado"
com a organização do jogo do bicho no Brasil.
A DIA já conseguiu levantar boa
parte do funcionamento da rede.
Grupos mafiosos da Itália -como Barbaro (Calábria) e Senese
(Nápoles)- "importam" cocaína
e heroína da Colômbia. A droga
passa então por pelo menos um
entreposto (como o porto de Santos) e depois segue para a Itália.
Parte do dinheiro arrecadado é
usado para comprar componentes eletrônicos na Espanha, que
são utilizados para montar as máquinas de caça-níqueis (também
conhecidas como videopôquer).
As máquinas são distribuídas
para vários países -entre eles, o
Brasil. Dessa forma, no final do
processo, o dinheiro da droga volta para a Itália lavado.
Em São Paulo, os caça-níqueis
eram distribuídos pela empresa
Nevada Diversões, onde chegou a
trabalhar um dos filhos de Noal,
Cristian Noal.
Os caça-níqueis chegam ao Brasil sob patrocínio da Banda Magliana (grupo criminoso que atua
de forma independente da máfia).
No depoimento que deu à Justiça
e à polícia italianas, Lauricella
afirmou que as máquinas só são
instaladas em São Paulo com o
consentimento de Ivo Noal, que
recebe 40% do faturamento.
"Para colocar as máquinas tem
de pedir permissão", disse o criminoso. "A Ivo Noal nós pagávamos US$ 80 mil por mês."
Segundo Lauricella, livros com
a contabilidade do esquema registram os pagamentos a Noal, inclusive um empréstimo de US$
200 mil feito em abril de 97.
No depoimento, Lauricella fez
uma descrição de como funcionam os grupos que controlam o
jogo do bicho em São Paulo e no
Rio. "Parece quase uma máfia",
diz ele a respeito do esquema carioca do jogo do bicho.
O criminoso italiano explica
que, logo que trouxeram o negócio para o Brasil, foram informados de que teriam de pagar porcentagem aos bicheiros. Em Santa
Catarina, começaram a atuar sem
"proteção" dos bicheiros locais e
tiveram um carro incendiado.
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