|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
URBANIDADE
Um trem no fim do túnel
11h38, NO SHOPPING Por terem sido desafiados, os deuses condenaram Tântalo a ficar imerso num lago: água apenas até o pescoço e galhos de frutas a roçar-lhe a cabeça. Atormentado pela sede e pela fome, nunca podia saciar suas necessidades: quando abaixava a boca para beber, a água também se abaixava; quando tentava morder as frutas que pendiam acima dele, estas se levantavam.
(VINCENZO SCARPELLINI)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Um dos mais famosos arquitetos de projetos corporativos do Brasil -fez o prédio
da Rede Globo, em São Paulo,
por exemplo-, Edo Rocha tem
uma idéia fixa: construir uma cidade dentro de São Paulo. Isso
numa área de 10 milhões de metros quadrados, o equivalente a
oito parques Ibirapuera, ao longo de 34 quilômetros de ferrovia.
Nem de longe Edo Rocha afastou o óbvio ceticismo sobre a viabilidade do empreendimento.
Não existe, afinal, nenhum plano tão ousado de reocupação da
cidade de São Paulo. Mas, pelo
menos, seu autor não é visto como vítima do excesso de imaginação. O pragmático empresário
Mário Garnero aposta no projeto e está usando suas conexões
internacionais para atrair investidores europeus e americanos.
Tudo começou em Milão, onde
a Pirelli desativou uma fábrica
que ficava ao lado de uma linha
férrea e ergueu edifícios residenciais e comerciais, uma universidade, teatros, cinemas. A iniciativa deu certo.
Com a ajuda de Edo, a Pirelli
decidiu reproduzir a experiência
em Santo André, onde tem uma
fábrica. Estão prestes a serem
construídos ali uma universidade e um complexo destinado a
empresas de call center. "Aí começou a viagem", comenta.
A viagem é literalmente uma
viagem. A 34 quilômetros da Pirelli, em Santo André, seguindo
a linha de trem, está a Siemens,
na Lapa, que também decidiu
reciclar seu espaço para dar lugar a um empreendimento que
reunisse lazer, comércio e residências. Apostou-se, então, na
possibilidade de unir as duas
pontas.
Entre as duas empresas, avoluma-se, em São Paulo, à margem
da linha férrea, o que Edo chama de "lixo urbano". "São terrenos abandonados após a saída
das indústrias."
Para ocupar o "lixo" e fazer a
passagem do passado para o futuro, seriam criadas várias pequenas cidades -com moradia,
comércio, serviços, educação-
unidas pelo trem, livres dos congestionamentos.
Mas tão complexa quanto a
engenharia financeira -o projeto é estimado em R$ 10 bilhões- é a engenharia política.
O programa só é viável se à mesa
se sentarem prefeito, governador
e presidente da República, tantas são as autorizações necessárias. "É um projeto interessante,
que merece o nosso apoio", elogia a arquiteta Nadia Somek,
presidente da Emurb, braço de
planejamento urbano da
prefeitura.
E-mail - gdimen@uol.com.br
Texto Anterior: É preciso ser realista, diz secretário Próximo Texto: Trânsito: Interditados trechos da av. Nove de Julho Índice
|