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São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

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URBANIDADE

Um trem no fim do túnel

11h38, NO SHOPPING Por terem sido desafiados, os deuses condenaram Tântalo a ficar imerso num lago: água apenas até o pescoço e galhos de frutas a roçar-lhe a cabeça. Atormentado pela sede e pela fome, nunca podia saciar suas necessidades: quando abaixava a boca para beber, a água também se abaixava; quando tentava morder as frutas que pendiam acima dele, estas se levantavam. (VINCENZO SCARPELLINI)

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Um dos mais famosos arquitetos de projetos corporativos do Brasil -fez o prédio da Rede Globo, em São Paulo, por exemplo-, Edo Rocha tem uma idéia fixa: construir uma cidade dentro de São Paulo. Isso numa área de 10 milhões de metros quadrados, o equivalente a oito parques Ibirapuera, ao longo de 34 quilômetros de ferrovia.
Nem de longe Edo Rocha afastou o óbvio ceticismo sobre a viabilidade do empreendimento. Não existe, afinal, nenhum plano tão ousado de reocupação da cidade de São Paulo. Mas, pelo menos, seu autor não é visto como vítima do excesso de imaginação. O pragmático empresário Mário Garnero aposta no projeto e está usando suas conexões internacionais para atrair investidores europeus e americanos.
Tudo começou em Milão, onde a Pirelli desativou uma fábrica que ficava ao lado de uma linha férrea e ergueu edifícios residenciais e comerciais, uma universidade, teatros, cinemas. A iniciativa deu certo.
Com a ajuda de Edo, a Pirelli decidiu reproduzir a experiência em Santo André, onde tem uma fábrica. Estão prestes a serem construídos ali uma universidade e um complexo destinado a empresas de call center. "Aí começou a viagem", comenta.
A viagem é literalmente uma viagem. A 34 quilômetros da Pirelli, em Santo André, seguindo a linha de trem, está a Siemens, na Lapa, que também decidiu reciclar seu espaço para dar lugar a um empreendimento que reunisse lazer, comércio e residências. Apostou-se, então, na possibilidade de unir as duas pontas.
Entre as duas empresas, avoluma-se, em São Paulo, à margem da linha férrea, o que Edo chama de "lixo urbano". "São terrenos abandonados após a saída das indústrias."
Para ocupar o "lixo" e fazer a passagem do passado para o futuro, seriam criadas várias pequenas cidades -com moradia, comércio, serviços, educação- unidas pelo trem, livres dos congestionamentos.
Mas tão complexa quanto a engenharia financeira -o projeto é estimado em R$ 10 bilhões- é a engenharia política. O programa só é viável se à mesa se sentarem prefeito, governador e presidente da República, tantas são as autorizações necessárias. "É um projeto interessante, que merece o nosso apoio", elogia a arquiteta Nadia Somek, presidente da Emurb, braço de planejamento urbano da prefeitura.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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