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URBANISMO
Donos de imóveis criticam prefeitura e prometem parar investimentos
Comerciante da "cracolândia" diz temer desapropriações
AMARÍLIS LAGE
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Proprietário de duas lojas na rua
Aurora, que totalizam cerca de
800 m2, o comerciante Luíz Antonio Costa, 80, pretendia construir
no local uma galeria com 30 lojas.
A obra estava prevista para o próximo ano. Ontem, porém, ele começou a repensar o projeto, pois
soube que o local foi declarado de
utilidade pública pela prefeitura,
que agora pode desapropriá-lo.
A medida atinge 105 mil m2 na
"cracolândia", uma das regiões
mais deterioradas do centro de
São Paulo.
Assim como Costa, comerciantes e proprietários de imóveis da
região criticaram a medida da
prefeitura, publicada nesta semana no "Diário Oficial da Cidade".
O decreto prevê a desapropriação
de imóveis da área para a realização de um projeto de reurbanização, que ainda não foi definido.
Confiante na melhoria da região
após a "Operação Limpa", realizada pela prefeitura em março, o
dono da loja Paris Cabos abriu
uma loja no espaço onde há 16
anos só funcionava um ponto de
vendas para o atacado. "Investimos na reforma e o retorno desse
dinheiro é a longo prazo. Se a loja
for desapropriada, será um prejuízo significativo", disse o gerente, Rogério Bombonatti.
A princípio, a prefeitura pode
adquirir os imóveis pelo seu valor
venal -geralmente inferior ao
valor de mercado. Mas os proprietários podem recorrer à Justiça por uma indenização maior.
"O valor venal equivale ao que investimos na construção", afirmou
o comerciante Luís Alberto Loricchio, 38, que, há seis meses, comprou com seus sócios um prédio
de 1.000 m2 na rua Aurora.
Já urbanistas e especialistas em
mercado imobiliário ouvidos pela
reportagem afirmam que a medida deve valorizar os imóveis da
área, pois indica que a prefeitura
pretende investir financeiramente no local. "A "cracolândia" vai virar uma grande área de especulação", diz o arquiteto Ciro Pirondi,
da Escola da Cidade.
Há, porém, uma ressalva: o novo projeto urbanístico deve ser
concluído e implementado logo.
Caso haja demora, os quarteirões
escolhidos podem ficar ainda
mais deteriorados. "Se houver demora, a região ficará congelada",
diz o presidente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida.
"Estamos na expectativa, mas
ficamos preocupados com a morosidade do poder público, principalmente quando as ações envolvem questões judiciárias, como desapropriações", disse Claudio Anauate, presidente da Aabic
(associação das administradoras
de imóveis e condomínios).
Para Nabil Bonduki, professor
da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP, a prefeitura
deveria ter definido qual a proposta urbanística para o local antes de declarar a região como área
de utilidade pública.
A desapropriação poderia ser
válida, diz ele, para a construção
de praças. Mas não é adequada
para a proposta divulgada pela
prefeitura, que é atrair empresas
de tecnologia, pois o repasse desses imóveis só pode ser feito por
licitação. "A desapropriação e o
repasse tomam muito tempo",
diz Bonduki. Segundo ele, a prefeitura poderia ter optado por
mediar a venda dos imóveis.
Segundo o subprefeito da Sé,
Andrea Matarazzo, a prefeitura
optou por esse caminho pois os
imóveis da "cracolândia" são
compostos por lotes pequenos e
muitos têm problemas nas escrituras, o que dificultaria a negociação com a iniciativa privada.
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