São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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comentário

Religioso segue a sua ideologia nas respostas

RUBEM ALVES
COLUNISTA DA FOLHA

É preciso não acreditar nos números da pesquisa. Pessoas religiosas respondem segundo aquilo que a ideologia religiosa os obriga a dizer. Perdão, Fernando Pessoa, pelo que farei com teus versos: "O religioso é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é gozo a dor que deveras sente...".
A religião dos pentecostais e evangélicos promete felicidade. Cristo dá paz a quem o tem no coração e resolve pelo milagre (bênção!) seus problemas. Se o fiel se disser infeliz, ou sua religião é falsa, não cumpre o que promete, ou ele não tem Cristo no coração.
A ideologia católica permite dizer-se infeliz pois o mundo é mesmo um "vale de lágrimas". Felicidade só no céu. Para protestantes, um hino diz: "Não há dor que seja sem divino fim". A ideologia espírita vê sofrimento como instrumento do karma para a evolução. "Bendita a dor que me purifica a alma", dizia a espírita no sofrimento do câncer. Já o sem-religião, sem amarras ideológicas, está livre para chamar infelicidade de infelicidade.


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