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comentário
Religioso segue a sua ideologia nas respostas
RUBEM ALVES
COLUNISTA DA FOLHA
É preciso não acreditar
nos números da pesquisa.
Pessoas religiosas respondem segundo aquilo que a
ideologia religiosa os obriga a dizer. Perdão, Fernando Pessoa, pelo que farei
com teus versos: "O religioso é um fingidor. Finge
tão completamente que
chega a fingir que é gozo a
dor que deveras sente...".
A religião dos pentecostais e evangélicos promete
felicidade. Cristo dá paz a
quem o tem no coração e
resolve pelo milagre (bênção!) seus problemas. Se o
fiel se disser infeliz, ou sua
religião é falsa, não cumpre o que promete, ou ele
não tem Cristo no coração.
A ideologia católica permite dizer-se infeliz pois o
mundo é mesmo um "vale
de lágrimas". Felicidade só
no céu. Para protestantes,
um hino diz: "Não há dor
que seja sem divino fim". A
ideologia espírita vê sofrimento como instrumento
do karma para a evolução.
"Bendita a dor que me purifica a alma", dizia a espírita no sofrimento do câncer. Já o sem-religião, sem
amarras ideológicas, está
livre para chamar infelicidade de infelicidade.
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