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Na Justiça, mães cobram intérprete para alunos surdos
Grupo entrou com ação contra o Estado de SP e alega que seus filhos não conseguem acompanhar classe de ouvintes
Exigência é que haja o uso da língua de sinais para que os estudantes entendam o que está sendo dito pela professora na sala de aula
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A MARÍLIA (SP)
Um grupo de mães de crianças surdas se juntou à comerciante Paula Cristina Martelato, 38, em uma ação na Justiça
de Marília contra o Estado de
São Paulo, para reivindicar intérpretes em libras (língua brasileira de sinais) nas salas de
aula.
Paula argumenta que sua filha Juliana, 11, e as outras
crianças surdas não conseguem
acompanhar a classe de ouvintes porque não entendem o que
está sendo dito.
"Os educadores contam com
a capacidade da criança de ler
os lábios da professora, mas e
quando ela vira de costas para
escrever na lousa?", pergunta
Paula.
A diretora regional de ensino
de Marília, Conceição Grandis,
diz que as crianças podem estudar nas chamadas "salas especiais", com uma professora
fluente em libras.
As mães que se juntaram na
ação dizem que as "salas especiais" são muito poucas, "quase
inexistentes", e revelaram-se
ineficientes.
"Colocam na mesma turma
alunos de todas as idades, diferentes séries e níveis de informação. É impossível haver progresso. Quando minha filha entrou na escola, já sabia libras.
Aí, foi para uma classe de ouvintes e ficou completamente
defasada", explica Paula.
Estudar em uma classe de
ouvintes sugere a inclusão social do aluno surdo mas, segundo as mães, acontece justamente o contrário.
"As crianças se sentem inferiores, e, pela impossibilidade
de acompanhar a aula, desmotivadas. A Glace tem chegado
em casa chorando, porque quer
muito aprender", diz a costureira Ângela Magalhães, 36.
O advogado de Paula, Rabih
Nemer, cuja mulher, Sara, é vice-presidente de uma associação pró-surdos sem fins lucrativos (tel. 0/xx/14/3454-6063),
diz que durante dois meses tentou argumentar com a professora Conceição mas não conseguiu -aí decidiu notificar judicialmente a diretoria regional
de ensino da cidade:
"Como é que essas crianças
podem acompanhar a aula se
não ouvem o que vão escrever?", questiona.
De acordo com o advogado, a
lei determina que o atendimento educacional especializado
aos portadores de deficiência
deve ser obrigatório em escolas
municipais, estaduais e federais.
A reportagem fez um teste
com crianças surdas que estudam em escolas estaduais de
Marília e são filhos das mães
empenhadas na ação.
Caio, 10, terceira série, escreve o alfabeto de A a Z, mas com
apenas dez letras.
No caderno de Jefferson, 15,
quinta série, há sentenças grandes e de estrutura relativamente difícil, mas quando pedem
em libras que ele escreva "Um
gato preto é bonito", sai: "Bonito perto azul".
A segurança Josefa Aparecida Santos, 38, mãe de Alexandre Jr. Santos Vicente, 15, quinta série, diz que seu filho acaba
sendo um "copista". "Ele copia
os sinais que estão na lousa (palavras), sem saber o significado
de nada", diz.
A diretora do Centro de
Apoio Pedagógico Especializado da Secretaria de Educação
de São Paulo, professora Maria
Alice Rosmaninho, reconhece
que a situação dos jovens surdos é complicada -ainda que
que eles tenham acompanhamento de intérpretes.
"Sou a favor do uso de libras,
mas não podemos abrir mão da
língua portuguesa. Há poucos
intérpretes com conceituação
para acompanhar os alunos",
explica.
As mães concordam, mas,
diante da situação, "melhor um
desconceituado do que nada".
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