São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Até onde suportamos a violência?
DUAS CENAS , quase simultâneas, ocorridas na quarta-feira passada, resumem com
extraordinária precisão o maior desafio brasileiro. Tal embate é o que vai ocupar o tempo do próximo presidente e dos governadores. Se continuarmos crescendo tão pouco por muito mais tempo -e com gastos públicos de tão baixa qualidade-, as cidades simplesmente ficarão ainda mais violentas. A mais importante questão que se coloca é qual nosso limite de suportar tanta insegurança. Em São Paulo, nunca se prendeu tanta gente e, mesmo assim, aumenta o número de seqüestros relâmpagos. Na capital, são 320 por mês. O PCC fez com que nunca nos sentíssemos tão vulneráveis. Se as duas cenas indicam nosso maior problema, elas também mostram uma porta de saída. A crise de segurança nas ruas, acompanhada pela persistência de altos níveis de desemprego, vai ajudando a consolidar alguns consensos. Apenas se derrotou a inflação depois de anos de construção de um consenso sobre o déficit público e, por isso, se aprovaram medidas como a Lei de Responsabilidade Fiscal e a venda de bancos estaduais. Assim como só se eliminou o regime militar depois que os principais grupos de pressão viram que a democracia era o melhor mecanismo de resolução de conflitos. Quando os mais importantes empresários brasileiros resolvem, pela primeira vez em nossa história, estabelecer uma agenda de longo prazo para melhorar a qualidade de ensino, constrói-se uma concepção de nação, na qual se valoriza o capital humano -um tema que, também pela primeira vez, apareceu com destaque máximo no discurso dos candidatos. Juntam-se aqui dois fatores: a paz social (pessoas sem educação tendem à marginalidade) e o crescimento econômico (a produtividade das empresas depende da qualificação da mão-de-obra). Um dos fatores que levaram ao movimento abolicionista, além da indignação moral, era a percepção de que os escravos não satisfaziam as novas demandas econômicas. Um dos fatos mais interessantes destas eleições é a visão disseminada, à direita e à esquerda, de que o Estado se transformou num obstáculo ao crescimento, ao produzir juros e impostos altos, sem contrapartida em bons serviços e mais investimentos. Esses obstáculos crescem a cada cena como a que vimos, na quarta-feira, em Brasília. Lula beneficiou-se, até aqui, da ampliação do Bolsa-Família e do aumento do salário mínimo. Foi o que compensou, em larga escala, o crescimento ridículo da economia. Conseguirá aumentar esses recursos, sabendo que eles não param de ampliar o rombo das aposentadorias e que incham os gastos correntes? Lula sabe dos riscos de um segundo mandato. Basta mirar-se em Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente virou motivo de desgaste para os candidatos do PSDB, que o afastaram de sua propaganda eleitoral. Se não tivesse tentado um segundo mandato, provavelmente seria hoje reverenciado como o indivíduo que derrotou a inflação e criou programas sociais, e não como aquele que gerou desemprego. Não existe alternativa. Para sobreviver politicamente, o próximo presidente terá de se desgastar para fazer o Estado gastar melhor -ou o desgaste será, no final, ainda maior. P.S. - A cena do museu do Ipiranga deveria ser um motivo de orgulho para os brasileiros, mais especialmente para os paulistanos. A cidade foi descuidada pelo PT, que a deixou repleta de dívidas e obras inacabadas. Logo em seguida, foi menosprezada pelo PSDB, que a usou como trampolim para pretensões presidenciais. E, enfim, ficou acuada pelo terror do PCC. Diante do descuido do PT, do menosprezo do PSDB e da selvageria do PCC, organizou-se aqui uma bela resposta -estabelecer a educação como a nova declaração de independência do país. É o fato mais interessante até aqui nestas eleições. Texto Anterior: Santos: Motorista de ônibus mata PM à paisana Próximo Texto: Saúde/Biologia: Aumenta o registro de picadas de serpente no país Índice |
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