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ANÁLISE
A experiência das marginais de Seul
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
São Paulo está gastando
R$ 1,3 bilhão para ampliar a
marginal Tietê, ou seja, para sufocar ainda mais as margens do
rio com asfalto. Como não esperar mais enchentes?
Como lembrou ontem na Folha o engenheiro Roberto Watanabe, da Unicamp, Seul está
fazendo o oposto. Decidiu encolher as pistas que percorrem 40
km ao longo do rio Han pela capital sul-coreana. Em 20 anos
de programa de despoluição,
que localiza e multa quem lança
dejetos no rio, o Han está mais
limpo e agora chegou a vez de
mudar o entorno.
O projeto foi lançado há dois
anos, mas eles já conseguiram
inaugurar três parques ao redor
do rio em 2009. Planejam criar
outros 30 espaços verdes até
2013, ligados por ciclovias, acessos para pedestres e terminais
de ônibus.
Dezoito quilômetros de concreto ao longo do Han desaparecerão nos próximos três anos.
De embarcações turísticas a
restaurantes e ginásios, a prefeitura já pensa na nova vocação
econômica da área recuperada.
"De uma cidade orientada para carros viramos um lugar pensado para humanos", diz Lee
In-Keun, secretário de Infraestrutura. Um canal está em construção para evitar enchentes.
Em 2003, Seul ressuscitou
um riacho que tinha sido canalizado e coberto por um elevado
de 6 km, o dobro do Minhocão.
O elevado foi demolido e o novo
rio virou cartão-postal -o parque horizontal às suas margens
recebe 90 mil pessoas por dia.
Seul quer ser um modelo de
cidade do século 21. Com menos
carros nas ruas e mais transporte público, com menos emissão
de gases e ar mais limpo. Ao
mesmo tempo, vira "marca" de
cidade bacana, que atrai investimentos, turistas, moradores.
Kassab esteve lá em maio.
Mas São Paulo não tem coragem de interromper o que não
deu certo nas últimas sete décadas. Refém de empreiteiras, dinheiro não falta para viadutos e
túneis que só mudam os congestionamentos de lugar, priorizando o uso do carro ao transporte público.
Cada túnel prometido como
solução se revela ineficaz logo
após ser inaugurado. Como o
Minhocão, as marginais que asfixiam os rios são um legado do
malufismo urbanístico.
A falta de uma política habitacional permitiu a ocupação e
a favelização de áreas de mananciais e riachos da periferia.
O escoamento natural da água
das chuvas foi concretado pelo
homem.
Se as marginais Tietê e Pinheiros encolherem, talvez milhares de paulistanos comecem
a exigir mais transporte público em vez de novos túneis e viadutos. Para um caos que parece
irreversível, será auspicioso.
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