São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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Prefeitura agora quer implodir o São Vito

Secretário de Kassab diz que recuperação do prédio, símbolo da degradação do centro de SP, é "inviável'; urbanistas criticam proposta

Prefeitura esvaziou prédio em 2004 para iniciar a revitalização e, desde então, paga bolsa-aluguel de R$ 300 às 360 famílias

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo do prefeito Gilberto Kassab (PFL) quer demolir o edifício São Vito, ex-cortiço vertical de 624 apartamentos e 27 andares no Parque Dom Pedro, centro de São Paulo.
A proposta surge depois de a gestão Marta Suplicy (PT) anunciar a reforma do local, conhecido como "treme-treme" e de a prefeitura pagar, desde junho de 2004, uma bolsa-aluguel de R$ 300 mensais às 360 famílias que deixaram o prédio, um dos maiores símbolos da decadência da área central.
"A solução viável é a demolição", afirmou o secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, também subprefeito da Sé. Segundo ele, a decisão no âmbito municipal deve ocorrer neste ano.
De acordo com Matarazzo, a degradação do edifício fez a prefeitura pretender enterrar o projeto de recuperação gestado no governo Marta. "Não tem como revitalizar e daqui a seis anos estar igual", disse o secretário, que classificou a recuperação como "improvável".
No lugar do São Vito, afirmou o secretário, a prefeitura pode instalar uma garagem ou implantar outro equipamento urbano. "Mas não está decidido ainda", disse.

Inviável?
Além de argumentar que o edifício enfeia a paisagem do centro, a prefeitura sustenta que, sete projetos depois, ainda não conseguiu viabilizar o São Vito como habitação popular -para isso, cada unidade precisaria custar até R$ 40 mil, para que o projeto pudesse ser enquadrado no PAR (Programa de Arrendamento Residencial) da Caixa Econômica Federal.
"Está difícil, muito apertado chegar [aos R$ 40 mil]", afirmou Edsom Ortega, presidente da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação). "Estamos alterando o projeto para ver se conseguimos chegar ao perfil. O fato é que até agora não conseguimos chegar a esse valor", afirmou. O custo de recuperação do São Vito é de R$ 18 milhões -na gestão Marta, foi avaliado em R$ 8 milhões. "A demolição é uma alternativa se não conseguirmos viabilizar a solução habitacional." Os técnicos da Cohab devem entregar mais um estudo de viabilidade em um prazo de 30 a 40 dias.
Não há outro uso exceto o habitacional, segundo ele. A prefeitura descartou, após pesquisa na região central, implantar um hotel ou uma repartição municipal, duas hipóteses aventadas na gestão José Serra.
A demolição custaria entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,5 milhão, segundo uma estimativa encomendada pela prefeitura. Por meio da assessoria de imprensa, o prefeito Gilberto Kassab confirmou que a demolição está em discussão, embora a considere mais uma "hipótese" integrante do projeto de recuperação do Parque Dom Pedro.
Para Paulo Teixeira, secretário da Habitação na gestão Marta, a demolição é um "profundo equívoco". "A decisão de requalificar o edifício foi tomada em consulta com urbanistas, a inúmeros segmentos e também em debate com a Caixa", afirmou. "Qual a simbologia de se demolir habitação de interesse social em São Paulo? Muita gente não tem onde morar." Para ele, há também um empecilho técnico para pôr abaixo o prédio: o fato de o São Vito ser geminado com o edifício vizinho, Mercúrio.

Projeto enterrado
A intenção de transformar o São Vito em um edifício de habitações populares foi anunciado em 2003 pela então prefeita Marta Suplicy. O plano era desapropriar o prédio e financiar as moradias por meio da Caixa. "Esse projeto vai ser um marco na cidade. Mostra como será possível recuperar um prédio e encaminhar soluções inovadoras para a população carente", declarou, em discurso, em 13 de agosto daquele ano.
O projeto dos arquitetos Roberto Loeb e Helena Saia previa uma pintura do artista Eduardo Sued na fachada. Os 624 apartamentos passariam a ser 463, entre 35 m2 e 60 m2. À Folha, ontem, Loeb disse que a demolição seria "problemática". "A pilha de escombros atingiria 7 ou 8 andares. Seria jogar, numa comparação, a poeira equivalente à do avião do 11 de setembro em São Paulo. Remover tudo aquilo demoraria."

Não voltarão
Segundo Edsom Ortega, o projeto de Loeb foi alterado pelos técnicos da Cohab. E, diferentemente do que previa o governo petista, os antigos moradores do São Vito não voltarão mais para o edifício, mesmo se a implantação das moradias populares fosse possível. "Eles foram informados no início do ano que não voltarão mais. Foram incluídos em programas habitacionais do município em parceria com o Estado." De acordo com a Cohab, 80% das 360 famílias apresentaram documentação para receber carta de crédito e adquirir outro imóvel. A prefeitura não tem levantamento, no entanto, de quantos já estão com casa assegurada. Todos recebem bolsa-aluguel da prefeitura desde que saíram do São Vito -o valor chega a R$ 300 mensais.


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