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VÔO 1907/INDENIZAÇÃO
Advogado procura parente até em enterro
Profissionais chegaram a ficar hospedados no mesmo hotel de familiares e a colocar currículos por baixo da porta dos quartos
Indenizações pagas em caso de mortes em acidentes aéreos podem ultrapassar a casa dos US$ 2 milhões,
ou R$ 4,4 milhões
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A professora Luciana Siqueira, irmã de Plínio Siqueira, presidente da Bombardier de
Campinas, uma das vítimas do
acidente com o Boeing da Gol,
estava enterrando o irmão no
cemitério de Parque Flamboyant por volta das 12h30 do último sábado, quando foi abordada por um advogado, oferecendo serviços. "O advogado
era de São Paulo. Ele disse que
era amigo, mas ficou claro que
ele estava ali como profissional.
Ele até nos sugeriu que citássemos o nome dele em entrevistas à imprensa. Isso nos chateou demais", disse Luciana.
De olho nas polpudas indenizações que se pagam em casos
de acidentes aéreos (que podem ultrapassar a casa dos US$
2 milhões, ou R$ 4,4 milhões),
escritórios de advocacia têm
usado métodos agressivos para
conquistar clientes entre os familiares dos 154 mortos do vôo
1907. Parentes de vítimas que
foram alojados pela Gol em três
hotéis de Brasília disseram que
representantes de escritórios
se hospedaram nos mesmos
hotéis a fim de se aproximar de
seus potenciais clientes.
Entre os expedientes para estabelecer contato, um dos mais
freqüentes foi o da "panfletagem". Funcionou assim: durante a noite, quando percebiam a
cessação de movimento nos
quartos, esses advogados enfiavam cartões de visitas e até currículos embaixo das portas dos
apartamentos que sabiam ocupados por parentes de vítimas.
Uma família conta ter recebido
mais de 20 desses "ataques".
Outro método foi o da abordagem direta. "A gente estava
em um estado de aflição enorme para encontrar as nossas vítimas e esses advogados ficavam rondando o saguão do hotel, pedindo para fazer reunião.
Eles deixaram muitos familiares constrangidos. Achei até
que podia dar briga", disse a parente de uma vítima.
Todas as armas
Segundo Leonardo Amarante, advogado que representa os
familiares de André Fontoura,
morto aos 31 anos no acidente,
"é tão compreensível o assédio
dos advogados quanto é compreensível que os parentes exijam respeito à sua sensibilidade, ao seu luto".
Amarante, que se apresenta
com a frase "onde há uma tragédia eu estou", conta entre os
clientes de seu escritório com
um grupo de 300 hemofílicos
do Rio de Janeiro contaminados com o vírus HIV por um fator sangüíneo importado, ex-moradores do Palace 2, vítimas
do Penha Shopping e do Bateau
Mouche, todos casos de repercussão pelo grande número de
pessoas atingidas.
Ele está em Brasília para
acompanhar dois advogados
americanos do escritório Lieff
Cabraser Heinann & Bernstein, que vieram se oferecer para defender os direitos dos familiares diante dos tribunais
americanos, onde "estão indenizações muito mais vultosas".
As aspas são da advogada Lexi
Hazam, sócia do escritório e
desde ontem em Brasília.
Hoje, deve chegar outro sócio, Robert Lieff, além do perito
em colisões aéreas, o suíço
Hans-Peter Graf.
Segundo Amarante, que hoje
pela manhã reúne-se com cinco famílias, o objetivo das visitas dos estrangeiros "é, antes de
mais nada, mostrar aos parentes das vítimas todas as armas
de que dispomos para defender
seus interesses".
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