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Delegado é suspeito de 2º caso de extorsão
Pórrio, citado no caso do megatraficante Abadía, é investigado em Campinas sob suspeita de extorquir outro criminoso
Promotores decidiram investigar o caso porque um traficante preso disse ter R$ 50 mil, mas os policiais apresentaram só R$ 34 mil
MARIO CESAR CARVALHO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado Pedro Luís Pórrio, citado por comparsas do
megatraficante Juan Carlos
Ramírez Abadía como um dos
policiais que teriam extorquido
o colombiano no Brasil, é investigado sob suspeita de ter praticado o mesmo tipo de crime
contra outro traficante que
prendeu em Campinas.
Pórrio foi afastado no último
sábado pela Secretaria da Segurança Pública depois que a Folha revelou que ele teria participado de uma suposta extorsão contra uma integrante da
quadrilha de Abadía, chamada
Ana Maria Stein, que teria rendido US$ 800 mil aos policiais.
Ao todo, foram afastados oito
policiais -três delegados, quatro investigadores e um agente.
Com a medida, a maioria prestará serviços administrativos
em delegacias do idoso.
A Folha apurou que há pelo
menos mais uma investigação
sobre supostas irregularidades
praticadas por Pórrio, que era
do Denarc (a delegacia antinarcóticos) até o ano passado. Ele
é investigado sob suspeita de
ter participado de uma extorsão contra um traficante que
prendeu em Campinas (95 km
de SP). Esse caso está sendo investigado pela Corregedoria da
Polícia Civil, pelo Gaerco de
Campinas e pelo Gaeco de São
Paulo (Gaerco e Gaeco são o
grupo do Ministério Público
que trata do crime organizado).
No Gaeco, a investigação não
se limita a Pórrio. Os promotores buscam saber se seus superiores hierárquicos no Denarc
e na delegacia de Osasco teriam
ou não participação nas supostas extorsões.
Escutas
No caso de Campinas, a possível extorsão aparece em escutas feitas pelo Gaerco de Campinas, com autorização da Justiça, em telefones de supostos
traficantes. Numa dessas conversas, a mulher de um investigado diz que não tem mais dinheiro, que já deu tudo que tinha para um certo delegado.
Em outra conversa gravada,
um investigador fala com uma
pessoa a quem chama de "chefe" sobre valores. Quem teria
feito a ligação é um chefe de investigadores que trabalhou
com Pórrio no Denarc, Antonio
Cabalero Cursi.
Os promotores de Campinas
decidiram investigar o caso
porque o traficante dizia ter R$
50 mil em casa no momento da
prisão, mas os policiais apresentaram apenas R$ 34 mil. O
preso também diz ter sido torturado pelos policiais.
À época, Pórrio era do SIG
(Setor de Investigações Gerais)
de Osasco. Ele efetuou a prisão
em Campinas sem comunicar a
chefia da Polícia Civil naquela
cidade -o que é, em tese, uma
irregularidade administrativa.
Pórrio confirmou em entrevista à Folha que, durante uma
investigação sobre tráfico em
Osasco, efetuou uma prisão em
Campinas. Ele e os investigadores que participaram da prisão apresentam dois álibis para
negar a extorsão:
1. A prisão foi acompanhada
por policiais da corregedoria, e
o suposto traficante não falou
nada aos corregedores sobre a
suposta extorsão;
2. Os investigadores e Pórrio
apreenderam cerca de R$ 34
mil, cifra apresentada como
atestado de honestidade. O raciocínio por trás desse exemplo
é o seguinte: se fosse para achacar, não teria sobrado esse valor para ser apreendido.
Outros investigados
Pórrio e Cursi já apresentaram esses argumentos para a
corregedoria, mas nem por isso
a apuração foi encerrada. Também são investigados outros
sete investigadores: Daniel Pereira Dutra, Regina dos Santos,
Pablo Ricardo Pereira Xavier,
Sandro dos Santos, Eduardo da
Silva Benevides, Francisco Pessoa, Luiz Cláudio de Oliveira.
A Folha não localizou os investigadores, que trabalhavam
com Pórrio em Osasco.
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