São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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Delegado é suspeito de 2º caso de extorsão

Pórrio, citado no caso do megatraficante Abadía, é investigado em Campinas sob suspeita de extorquir outro criminoso

Promotores decidiram investigar o caso porque um traficante preso disse ter R$ 50 mil, mas os policiais apresentaram só R$ 34 mil

MARIO CESAR CARVALHO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Pedro Luís Pórrio, citado por comparsas do megatraficante Juan Carlos Ramírez Abadía como um dos policiais que teriam extorquido o colombiano no Brasil, é investigado sob suspeita de ter praticado o mesmo tipo de crime contra outro traficante que prendeu em Campinas.
Pórrio foi afastado no último sábado pela Secretaria da Segurança Pública depois que a Folha revelou que ele teria participado de uma suposta extorsão contra uma integrante da quadrilha de Abadía, chamada Ana Maria Stein, que teria rendido US$ 800 mil aos policiais.
Ao todo, foram afastados oito policiais -três delegados, quatro investigadores e um agente. Com a medida, a maioria prestará serviços administrativos em delegacias do idoso.
A Folha apurou que há pelo menos mais uma investigação sobre supostas irregularidades praticadas por Pórrio, que era do Denarc (a delegacia antinarcóticos) até o ano passado. Ele é investigado sob suspeita de ter participado de uma extorsão contra um traficante que prendeu em Campinas (95 km de SP). Esse caso está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Civil, pelo Gaerco de Campinas e pelo Gaeco de São Paulo (Gaerco e Gaeco são o grupo do Ministério Público que trata do crime organizado).
No Gaeco, a investigação não se limita a Pórrio. Os promotores buscam saber se seus superiores hierárquicos no Denarc e na delegacia de Osasco teriam ou não participação nas supostas extorsões.

Escutas
No caso de Campinas, a possível extorsão aparece em escutas feitas pelo Gaerco de Campinas, com autorização da Justiça, em telefones de supostos traficantes. Numa dessas conversas, a mulher de um investigado diz que não tem mais dinheiro, que já deu tudo que tinha para um certo delegado.
Em outra conversa gravada, um investigador fala com uma pessoa a quem chama de "chefe" sobre valores. Quem teria feito a ligação é um chefe de investigadores que trabalhou com Pórrio no Denarc, Antonio Cabalero Cursi.
Os promotores de Campinas decidiram investigar o caso porque o traficante dizia ter R$ 50 mil em casa no momento da prisão, mas os policiais apresentaram apenas R$ 34 mil. O preso também diz ter sido torturado pelos policiais.
À época, Pórrio era do SIG (Setor de Investigações Gerais) de Osasco. Ele efetuou a prisão em Campinas sem comunicar a chefia da Polícia Civil naquela cidade -o que é, em tese, uma irregularidade administrativa.
Pórrio confirmou em entrevista à Folha que, durante uma investigação sobre tráfico em Osasco, efetuou uma prisão em Campinas. Ele e os investigadores que participaram da prisão apresentam dois álibis para negar a extorsão:
1. A prisão foi acompanhada por policiais da corregedoria, e o suposto traficante não falou nada aos corregedores sobre a suposta extorsão;
2. Os investigadores e Pórrio apreenderam cerca de R$ 34 mil, cifra apresentada como atestado de honestidade. O raciocínio por trás desse exemplo é o seguinte: se fosse para achacar, não teria sobrado esse valor para ser apreendido.

Outros investigados
Pórrio e Cursi já apresentaram esses argumentos para a corregedoria, mas nem por isso a apuração foi encerrada. Também são investigados outros sete investigadores: Daniel Pereira Dutra, Regina dos Santos, Pablo Ricardo Pereira Xavier, Sandro dos Santos, Eduardo da Silva Benevides, Francisco Pessoa, Luiz Cláudio de Oliveira.
A Folha não localizou os investigadores, que trabalhavam com Pórrio em Osasco.


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