|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO PATAXÓ
Vasilhames que continham o álcool usado para atear fogo ao índio Galdino não estavam no local determinado
Busca por provas tumultua julgamento
France Presse
|
Fila para entrar no Tribunal do Júri, em Brasília, para o último dia do julgamento do caso Galdino |
SILVANA DE FREITAS E
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O júri do caso pataxó viveu ontem momentos de tensão com o
desaparecimento temporário dos
dois vasilhames que continham o
álcool comprado pelos acusados
da morte do índio Galdino Jesus
dos Santos para atear fogo nele.
Assistente da acusação, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT-SP) pediu os dois frascos,
material importante no processo
como prova, para concluir sua exposição com uma encenação.
A sessão teve de ser suspensa
após o promotor Maurício Miranda procurar em vão os vasilhames. O material estava em um saco de papel pardo com restos do
tecido da calça jeans usada por
Galdino. Greenhalgh e a advogada Herilda Balduíno já cogitavam
pedir a anulação do julgamento,
se o sumiço persistisse, quando os
frascos foram encontrados.
Nos bastidores, comentava-se
que o sumiço pode ter ocorrido
por falta de orientação aos serventes da limpeza do Tribunal do Júri
do Fórum de Brasília, que teriam
retirado o material ontem de manhã pensando ser lixo.
O julgamento dos réus -Max
Rogério Alves, Tomás Oliveira de
Almeida, Eron Chaves de Oliveira
e Antônio Novely de Oliveira-
estava previsto para acabar hoje
de madrugada. Eles são acusados
de homicídio triplamente qualificado por terem ateado fogo no índio pataxó, em 20 de abril de 1997,
quando ele dormia em uma parada de ônibus, em Brasília.
Após um dia inteiro de debates,
os sete jurados deveriam apreciar
nove quesitos para decidir o crime e a punição. A pena será arbitrada pela juíza Sandra de Santis.
O auditório, onde cabem 264
pessoas, foi praticamente tomado
por curiosos, advogados e alunos
de direito ontem. Apesar do credenciamento de alunos de direito
(além de 20 cadeiras reservadas
para familiares dos réus e 32 lugares para a comunidade indígena),
o tribunal teve de improvisar bancos e cadeiras avulsas. Mas cerca
de 50 pessoas queriam entrar no
final da tarde no local.
O último dia
O promotor Maurício Miranda
iniciou a acusação dizendo que o
crime foi premeditado e que os jovens tinham consciência do risco
de causar a morte, o que evitaria
condenação mais branda por lesão corporal seguida de morte.
Em forte apelo emocional, o
promotor exibiu fotos de Galdino
em slide e, em seguida, Greenhalgh mostrou aos sete jurados
as mesmas imagens, em papel.
Em seguida, a assistente Herilda
Balduíno criticou depoimentos
emocionados dos parentes dos
acusados. Anteontem e ontem,
amigos e parentes de alguns réus
depuseram. A fala da irmã de
Eron fez a juíza Sandra de Santis, a
digitadora e duas juradas chorarem. A juíza negou ter chorado e
disse ser muito sentimental.
Até o fechamento desta edição,
os três advogados da defesa não
haviam concluído sua exposição.
Dois deles centravam a argumentação em bom comportamento
dos jovens e exploração sensacionalista do caso pela mídia.
O debate da defesa começou
com Walter José de Medeiros, advogado e padrasto de Max e ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em vários momentos a defesa reconheceu que o crime foi "abominável" e que os resultados foram cruéis, mas afirmou que eles já estão pagando pelo que fizeram e que devem receber punição justa.
Veja o resultado do julgamento na Folha Online: www.folha.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Promotoria exibe imagens de queimaduras Índice
|