São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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CASO PATAXÓ

Vasilhames que continham o álcool usado para atear fogo ao índio Galdino não estavam no local determinado

Busca por provas tumultua julgamento

France Presse
Fila para entrar no Tribunal do Júri, em Brasília, para o último dia do julgamento do caso Galdino


SILVANA DE FREITAS E
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O júri do caso pataxó viveu ontem momentos de tensão com o desaparecimento temporário dos dois vasilhames que continham o álcool comprado pelos acusados da morte do índio Galdino Jesus dos Santos para atear fogo nele.
Assistente da acusação, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) pediu os dois frascos, material importante no processo como prova, para concluir sua exposição com uma encenação.
A sessão teve de ser suspensa após o promotor Maurício Miranda procurar em vão os vasilhames. O material estava em um saco de papel pardo com restos do tecido da calça jeans usada por Galdino. Greenhalgh e a advogada Herilda Balduíno já cogitavam pedir a anulação do julgamento, se o sumiço persistisse, quando os frascos foram encontrados.
Nos bastidores, comentava-se que o sumiço pode ter ocorrido por falta de orientação aos serventes da limpeza do Tribunal do Júri do Fórum de Brasília, que teriam retirado o material ontem de manhã pensando ser lixo.
O julgamento dos réus -Max Rogério Alves, Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves de Oliveira e Antônio Novely de Oliveira- estava previsto para acabar hoje de madrugada. Eles são acusados de homicídio triplamente qualificado por terem ateado fogo no índio pataxó, em 20 de abril de 1997, quando ele dormia em uma parada de ônibus, em Brasília.
Após um dia inteiro de debates, os sete jurados deveriam apreciar nove quesitos para decidir o crime e a punição. A pena será arbitrada pela juíza Sandra de Santis.
O auditório, onde cabem 264 pessoas, foi praticamente tomado por curiosos, advogados e alunos de direito ontem. Apesar do credenciamento de alunos de direito (além de 20 cadeiras reservadas para familiares dos réus e 32 lugares para a comunidade indígena), o tribunal teve de improvisar bancos e cadeiras avulsas. Mas cerca de 50 pessoas queriam entrar no final da tarde no local.

O último dia
O promotor Maurício Miranda iniciou a acusação dizendo que o crime foi premeditado e que os jovens tinham consciência do risco de causar a morte, o que evitaria condenação mais branda por lesão corporal seguida de morte.
Em forte apelo emocional, o promotor exibiu fotos de Galdino em slide e, em seguida, Greenhalgh mostrou aos sete jurados as mesmas imagens, em papel.
Em seguida, a assistente Herilda Balduíno criticou depoimentos emocionados dos parentes dos acusados. Anteontem e ontem, amigos e parentes de alguns réus depuseram. A fala da irmã de Eron fez a juíza Sandra de Santis, a digitadora e duas juradas chorarem. A juíza negou ter chorado e disse ser muito sentimental.
Até o fechamento desta edição, os três advogados da defesa não haviam concluído sua exposição. Dois deles centravam a argumentação em bom comportamento dos jovens e exploração sensacionalista do caso pela mídia.
O debate da defesa começou com Walter José de Medeiros, advogado e padrasto de Max e ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em vários momentos a defesa reconheceu que o crime foi "abominável" e que os resultados foram cruéis, mas afirmou que eles já estão pagando pelo que fizeram e que devem receber punição justa.


Veja o resultado do julgamento na Folha Online: www.folha.com.br


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