ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS

A Shell Brasil comprou ontem a primeira das 66 chácaras do bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia (126 km de São Paulo), supostamente contaminado por pesticidas fabricados pela empresa entre 1974 e 1993.
Foi pago R$ 189 mil ao dono do imóvel, o presidente da Associação de Moradores do bairro e atual diretor do Meio Ambiente da Prefeitura de Paulínia, Vicente de Paulo Souza.
A primeira compra ocorre sete anos após a Shell reconhecer, em autodenúncia, a contaminação da área. A Shell informou, por meio de sua assessoria, que recebeu 60 propostas de venda de imóveis.
A assinatura do contrato de compra e venda, que estava prevista para as 16h, atrasou quase três horas porque o morador não acreditava na negociação. "Eu não acreditava que isso pudesse acontecer, depois de tantos anos de luta. Mas as negociações não param com a compra da minha chácara", afirmou Souza.
Os moradores exigem a compra das chácaras desde fevereiro, quando a Shell anunciou publicamente que já havia assumido a contaminação em 94. Mas 3 dos 66 proprietários não querem sair do local. "O sonho da gente não tem preço. Investi toda a minha vida ali [na chácara]. Só saio se a Shell provar realmente que o local está contaminado", disse uma das proprietárias, Sônia Lemos, 50.
O Ministério Público Estadual de Paulínia indeferiu ontem dois pedidos da Shell sobre o relatório técnico do órgão e o Termo de Ajustamento de Conduta proposto. Com isso, a Promotoria vai entrar com ação civil pública, com pedido de liminar, contra a Shell, para que a empresa custeie a remoção e o tratamento de saúde dos 200 moradores do bairro.


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