São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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SAÚDE PÚBLICA

Mudança de tom surge em conferência latino-americana, que ocorre em SP

Universidade quer diálogo com Lula

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

No tempo todo em que o país vem sendo governado por um acadêmico -o sociólogo Fernando Henrique Cardoso-, as principais vozes da universidade se restringiram a proposições e debates. Agora que um metalúrgico chega ao palácio, a academia manifesta sua intenção de sentar-se à mesa e contribuir com idéias, "humildemente".
A mudança de tom aparece na 3ª Conferência Regional Latino-Americana de Promoção da Saúde e Educação para a Saúde, que começou ontem e vai até terça-feira, em São Paulo. Programada bem antes de Lula ser candidato eleito, os temas da conferência deixam de ser vistos apenas com olhos de oposição, pelo menos para a maior parcela dos participantes brasileiros.
"A participação da universidade é uma exigência pelo estilo de Lula, pelas circunstâncias de sua eleição e pelo jeito que ele está conduzindo os trabalhos", diz o professor Fernando Lefevre, titular de promoção de saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP e um dos debatedores.
"Deve-se cobrar que a universidade sente com o meio político e com os setores sociais e debata propostas concretas para o país."
Em se tratando da área da saúde, as soluções terão "que ser mais criativas", diz Lefevre. A política atual, de incorporar cada vez mais novas tecnologias e contabilizar hospitais, leitos e remédios, não vai conseguir resolver. Prevenção e tratamento deverão ser conduzidos de forma "ousada e criativa", ele afirma.
Lefevre cita como bom exemplo de participação acadêmica o secretário municipal Márcio Porchman, do Trabalho, que trouxe para a prefeitura os intelectuais do Instituto de Economia da Unicamp. "A universidade tem que ir ao debate com humildade", diz.
No centro da promoção da saúde está a exclusão e a equidade, lembra Márcia Faria Westphal, professora da Faculdade de Saúde Pública e coordenadora-geral da conferência. Equidade vai além da igualdade, pois contempla com "mais", os que "têm menos".
Na saúde, esse conceito é fundamental, pois é sua ausência que leva à exclusão. Westphal diz que na exclusão há dois lados, aquele que exclui e aquele que se sente tão sem direitos que não reivindica mais nada.
Uma das propostas mais bem sucedidas na redução da exclusão são as comunidades ou cidades saudáveis. A idéia é bastante difundida no Canadá e na Europa e já atinge dezenas de cidades no Brasil. No geral, são universidades que "adotam" municípios e passam a trabalhar com seus representantes. Além de responsável por esse projeto no Brasil, a professora Westphal coordena programas em cinco cidades, entre elas, Bertioga, no litoral paulista.
Professores e alunos do projeto identificam as lideranças de cada cidade, definem com elas as prioridades, as melhores metodologias e as melhores ações para a democratização e equidade. A questão da sustentabilidade é sempre prioritária, pois o desemprego, que costuma reforçar a baixa auto-estima, está sempre presente nas comunidades.
Os organizadores lembram que, embora o fato de que Lula estará na Presidência, a maioria das cidades está nas mãos de outros partidos. E os trabalhos, especialmente na saúde, devem começar na célula menor, as cidades.


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