São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2004

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AMBIENTE

Em um ano, dobra o número de locais com resíduos tóxicos fiscalizados pela Cetesb; lista oficial sai em dezembro

SP detecta 750 novas áreas contaminadas

Ricardo Lima - 13.jun.2001/Folha Imagem
Aterro contaminado com resíduos industriais tóxicos em área rural do município de Santo Antônio de Posse, na região de Campinas (SP)


VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um ano, a Cetesb constatou a existência de cerca de 750 novas áreas contaminadas no Estado de São Paulo, com diferentes graus de risco à população. Com isso, o total de áreas deve chegar a cerca de 1.500, praticamente o dobro do número registrado em outubro do ano passado. A lista oficial deve ser divulgada em dezembro.
Mesmo com esse crescimento, o número de áreas identificadas pela agência ambiental paulista está muito longe de apontar a realidade no Estado, como a própria Cetesb admite. De acordo com estimativas do Instituto Ekos Brasil, que faz estudos na área ambiental, os locais contaminados em São Paulo são cerca de 30 mil. A maioria causada por vazamentos em postos de gasolina.
A Cetesb investiga se há contaminação quando recebe denúncias, quando alguma indústria encerra atividades ou em ações regulares de fiscalização.
De acordo com o diretor de engenharia do órgão, Lineu José Bassói, de posse das informações sobre a contaminação, a Cetesb pode autuar o proprietário da área para que uma "remediação" (recuperação ou isolamento da área) seja feita. Além disso, a agência pode prevenir danos futuros no uso do local.
Segundo o diretor de projetos do instituto Ekos, Délcio Rodrigues, a estimativa de 30 mil áreas é feita com base no universo de indústrias de São Paulo e também usando comparações com estatísticas internacionais de regiões com características semelhantes às encontradas no Estado.
De acordo com ele, os problemas estão concentrados na Grande São Paulo e, dentro da capital, em antigos bairros industriais, como o Brás (região central de SP).
Os fatores para a contaminação do solo são vários, segundo Rodrigues. "Até muito recentemente os postos podiam usar tambores de paredes simples. Aquilo enferruja, fica enterrado e começa a vazar. E há acidentes industriais, que podem ocorrer na produção, no transporte e na armazenagem inadequada, além dos lixões urbanos e dos incineradores", disse.

Industrialização
Para especialistas ouvidos ontem pela Folha, em seminário sobre remediação de áreas contaminadas realizado em São Paulo, a capital paulista tem características de cidades com alta concentração de locais afetados.
Isso porque, em razão de seu processo de industrialização e posterior abandono de parte do setor, áreas inteiras foram deixadas sem que fosse feita uma análise dos resíduos deixados no solo pelas empresas. Além dos danos à saúde e ao ambiente, a contaminação do solo causa a desvalorização imobiliária das áreas.
Para o consultor Andreas Marker, da GTZ, empresa estatal alemã de gestão ambiental, que atua no Brasil, é importante que as áreas contaminadas sejam recuperadas, e não abandonadas. Caso contrário, segundo Marker, a falta de espaço urbano para a construção civil provocará o crescimento da cidade em direção a áreas de manancial, prejudicando ainda mais o ambiente.

Na própria Cetesb
Nem mesmo a sede da Cetesb em São Paulo, localizada na rua do Sumidouro (zona oeste da capital paulista), parece livre do problema. Estudo realizado pela Prefeitura de São Paulo em um incinerador vizinho ao prédio da agência apontou contaminação.
De acordo com o geólogo da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente Francisco Adrião Neves da Silva, a probalidade de que o terreno onde fica a Cetesb tenha algum grau de contaminação é alta, uma vez que na região funcionou um "lixão", do final da década de 40 até o início da década de 70. A agência, no entanto, não tem avaliação de contaminação do local.
Segundo Neves da Silva, o terreno onde fica o incinerador, que pertence à prefeitura, será recuperado e no local poderá ser construído um centro cultural.


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