São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Declaração de major "não foi feliz", diz Bope em nota

Em palestra a policiais no Sul, oficial ironizou morte do seqüestrador do ônibus 174

A Anistia Internacional, entidade de Direitos Humanos, protestou contra as declarações de Soares, consideradas "levianas"

Ana Carolina Fernandes - 06.nov.2007/Folha Imagem
Ricardo Soares, major do Bope, que falou do caso do ônibus 174


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio emitiu nota ontem em que afirma que o major Ricardo Soares, chefe de Pessoal da unidade, "não foi feliz ao citar as circunstâncias da morte de Sandro Nascimento, seqüestrador do ônibus 174".
A Folha mostrou ontem que Soares contou com detalhes, em palestra a cerca de 130 policiais de todo o país, em Porto Alegre (RS), como Nascimento morreu após ele ter apertado seu pescoço, asfixiando-o. "E eu não fiz questão realmente de ressuscitá-lo muito, não. Foi embora!", disse o oficial, absolvido no Tribunal do Júri e no Tribunal de Justiça pela morte de Sandro Nascimento. Ontem, ele disse não ter sido irônico.
O governo do Estado e a Anistia Internacional condenaram as declarações do major.
"Embarquei junto com o Sandro na viatura. Logicamente, eu vou ser sincero: entre ele e eu, vai ele, porque tenho muita vida pela frente, se Deus quiser. Então, de verdade, ele lutou muito conosco, dois camaradas, dois soldados estavam segurando as pernas dele, ele me mordeu, tentou se livrar do golpe e eu acabei apertando o pescoço dele, e aí ele desfaleceu. E eu não fiz questão realmente de ressuscitá-lo muito, não. Foi embora! A verdade é essa", afirmou.
Em nota, o comandante do Bope, tenente-coronel Pinheiro Neto, comenta as afirmações do major, chefe da seção de Pessoal, correição disciplinar e processos administrativos da unidade.
"O oficial não foi feliz ao citar as circunstâncias da morte de Sandro Nascimento, seqüestrador do ônibus 174. Entretanto Soares foi julgado e inocentado por júri popular no episódio. O comando do Bope ressalta que o papel da tropa é intervir em casos críticos de segurança, o que por si só explica o risco das ações, que muitas vezes resultam em mortes. Entretanto o objetivo do Bope é, e sempre será, realizar suas operações sem sacrifício de vidas humanas."
A assessoria do Governo do Estado emitiu nota em que "fixa posição já difundida pelo governador Sérgio Cabral, de que ele é frontalmente contra qualquer ato lesivo à lei".
A Anistia Internacional, entidade de Direitos Humanos, protestou contra as declarações de Soares, consideradas "levianas". Seu representante para o Brasil, Tim Cahill, comentou ainda que é "irônico" que José Padilha, diretor do filme "174", seja também o diretor de "Tropa de Elite".
"É chocante e aterrorizante ouvir isso [Soares]. Permanece o conceito de confronto e aceitação de que as pessoas são descartáveis. Sandro é um exemplo de como uma vida é desperdiçada pela sociedade. Não é justificar os crimes que cometeu nem dizer que não devesse ser punido, mas há uma aceitação [da morte]", disse Cahill, por telefone, da Inglaterra.


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