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Tropa de elite do Rio mata 5 pessoas a cada 6 que prende
Proporção abrange número oficial de mortes; realidade é pior, dizem homens do Bope
Neste ano, 10% da tropa foi punida por conduta; "Seja bem-vindo, visitante, mas não faça movimentos bruscos", diz placa na sede
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio matou 38 pessoas,
prendeu 45 e apreendeu 73 armas, em 57 operações em favelas neste ano até 15 de outubro,
contando mais de 543 horas de
ação. A proporção é de seis presos para cada cinco mortos.
A Folha obteve com exclusividade dados operacionais da
unidade, inspiradora do polêmico filme "Tropa de Elite".
O Bope foi responsável por
4% das 961 mortes de civis em
suposto confronto com a polícia do Rio, que neste ano bate
recorde. Tendo em vista que
923 foram na região metropolitana, com 35 batalhões, a média do Bope -especializado em
confrontos em favelas e situações hostis, que fogem ao controle da PM convencional-
não é tão superior à das demais
unidades (2,8%), que têm menos ações de risco.
Para o comandante da tropa,
tenente-coronel Pinheiro Neto, 43, 13 anos de Bope, "a técnica substitui a violência. O Bope é a polícia que resolve".
Além de operações em favelas, mais freqüentes e que ocupam metade de seus homens, o
batalhão tem 30 homens em
unidade de intervenção tática,
para resgate de reféns.
Em 2007, a média do Bope
foi de 0,67 morto, 0,79 preso e
1,28 arma apreendida por operação, que pode durar mais de
um dia -no complexo do Alemão, houve uma de 11 dias e
outra de 12. Em 2 de maio, também no Alemão, depois de três
anos, um PM do Bope (Wilson
Santana Lopes, 28) foi morto
em ação -o último havia sido
em 2004. Treze membros se
feriram neste ano (um a cada
cinco ações).
Número real
O número real de mortes em
operações policiais, porém,
costuma superar com folga o
dado oficial, dizem os próprios
policiais. PMs contam que criminosos recolhem corpos e armas antes que a polícia se aproxime. Os tiroteios em favelas
são cada vez mais à distância
(100 m, 150 m), e é difícil progredir sob fogo nesses locais.
Recolher corpos "minimiza a
derrota moral", explicam.
"O Bope tem atividade especial, que não é para ser rotina
policial, senão sai todo mundo
dando tiro. Qualquer ação que
termina com morte deve ser
considerada frustrada. Bandido é para ser preso", diz o antropólogo Roberto Kant, doutor por Harvard e professor da
UFF (Universidade Federal
Fluminense).
Para o ex-secretário nacional
de Segurança José Vicente da
Silva Filho, não é possível prescindir do Bope. "O Estado precisa ter um grau de intimidação
dos grupos, que têm de ser intimidados por algum meio. Talvez o número de mortes do Bope não seja tão alto proporcionalmente pelo preparo. O Bope
vem se especializando, até pela
geografia, e é uma das tropas
mais bem treinadas do mundo
em combate localizado, porque
aprende fazendo. Não é na escolinha cenográfica do FBI."
Quase 10% punidos
Tida como tropa disciplinada
-segundo o corregedor da PM,
coronel Paulo Ricardo Paúl,
"um batalhão de excelência"-,
o Bope teve neste ano quase
10% do efetivo punido: dois
PMs licenciados por responderem a processo na Justiça, um
cabo excluído, dois oficiais e 33
praças punidos disciplinarmente. A Corregedoria não informou os motivos das sanções.
Pinheiro Neto afirmou que
as punições foram por deficiência tática, indisciplina, problemas de relacionamento. E que
nenhum integrante do Bope foi
investigado por corrupção.
Para entrar no Bope, é preciso ser PM há dois anos e não ter
punição grave ou responder a
processos criminais.
Munidos de fuzis FAL 7.62
mm ou Colt 5.56 mm, pistola
.40, coletes balísticos à prova
de projéteis de fuzil e carregadores extras, os policiais chegam nos três Caveirões (blindados) disponíveis -o quarto está
em manutenção- que ostentam a caveira com o punhal na
lataria.
Na placa na entrada do batalhão, no alto de morro em Laranjeiras, vista para a Baía de
Guanabara, está escrito: "Seja
bem-vindo, visitante. Mas não
faça movimentos bruscos".
Contrariando moradores da
vizinhança, Pinheiro Neto nega
que a tropa ainda cante "Homem de preto, qual é sua missão? Entrar na favela e deixar
corpo no chão! Homem de preto, o que é que você faz? Eu faço
coisas que assustam Satanás!"
"O Bope não é uma seita.
Aqui não se adora o diabo, como não se adora santo. Só recebemos voluntários", diz ele.
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