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Imigrantes revisitam sonhos durante tradução de fichas
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O processo de transliteração
fonética dos kanji (ideogramas
japoneses) para os caracteres
romanos exigiu o trabalho de
voluntários como a senhora
Yoshiko Hanashiro, de 99 anos.
De origem burguesa, ela veio
para o Brasil para casar com um
imigrante japonês de quem só
tinha visto um retrato -ela diz
que o noivo era muito bonito.
Yoshiko foi a mais velha participante do grupo de cem voluntários que realizaram as traduções das fichas.
Já Kaoru Matsui, 67, outro
dos voluntários, veio para o
Brasil em 1965. Ele também desembarcou em Santos, mas,
bem diferente dos primeiros
imigrantes, que eram contratados como lavradores no interior do Estado, Matsui veio para trabalhar na indústria eletrônica, na capital paulista.
"Naquela época, o Japão já estava começando a melhorar,
mas eu vim para cá para ter
mais independência", afirma.
"Lá, o trabalho nas empresas é
muito hierarquizado, é difícil
ser promovido."
Hoje aposentado, ele trabalhou por dois meses como voluntário na Comissão de Registro Histórico da Associação.
Durante esse período, traduziu
mais de mil fichas. "O mais interessante, para mim, era imaginar essas famílias, suas histórias, a partir dos nomes", diz.
"Quais eram suas expectativas,
os sonhos dessas pessoas no
Brasil, e o que podem ter conseguido realizar."
Matsui se diz nipo-brasileiro.
Ele chegou a voltar a morar no
Japão durante a década de 90, e
admite que, numa partida de
futebol entre Japão e Brasil,
ainda torce pelo país onde nasceu. Mas sua única queixa com
relação à nova pátria é a falta de
segurança nas ruas. "Quando
eu vim morar aqui, você podia
passear pela avenida São João,
à noite. Agora, é impossível, há
violência. Quando penso nisso,
tenho saudade do Japão."
Mesmo após mais de meio
século no Brasil, Emiko Nakashima, 61, fala baixinho como as
japonesas. Ela ainda lembra da
viagem no navio. "Para as
crianças, aquilo era uma festa.
Havia muito espaço para brincar", diz, com um sorriso no
rosto, apesar da timidez. Ela
conta que, quando criança, a
expressão "japonês garantido"
a incomodava. "Eu não entendia, na época. Mas hoje eu acho
que era um elogio à nossa honestidade."
(GQ)
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