São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Interior paulista sente menos impacto da lei seca

Líder em vítimas do trânsito em SP, região teve menor diminuição de mortes

Enquanto a capital teve queda de 15,7%, no interior as ocorrências caíram 5,7% e superam 2006; fiscalização é deficiente, dizem técnicos

Carlos Bassan - 22.jul.08/ "Correio Popular"
Carro atingido por motorista embriagado em Campinas, SP

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

É no interior de São Paulo que estão concentrados os índices mais altos de vítimas do trânsito no Estado. E a mesma região é a que menos sentiu os efeitos positivos da lei seca, conforme sinalizam estatísticas de mortes em acidentes.
Uma das principais explicações de especialistas para esse resultado está ligada às deficiências da polícia para fiscalizar motoristas embriagados fora da cidade de São Paulo.
Entre julho e setembro, já sob a vigência da lei mais dura contra quem dirige bêbado, a quantidade de homicídios culposos (sem intenção) por acidente de trânsito na capital paulista, registrada pela Secretaria da Segurança Pública, caiu 15,7% em relação ao mesmo período de 2007 (além de ser 27,5% inferior à do ano retrasado). No restante da Grande São Paulo, a queda beirou 24%.
Já no interior, houve uma diminuição bem mais discreta, de 5,7%, no terceiro trimestre deste ano. E, mesmo com a lei seca, a soma das ocorrências (841) supera as (759) de 2006.
Na capital, a PM tem 51 bafômetros à disposição e um programa de policiamento de trânsito que faz operações constantes, apesar da queda de abordagens no último mês -na média, 65 motoristas passam pelo teste de embriaguez a cada dia.
Em Campinas (a 93 km de SP), os policiais vinham se revezando com só um aparelho para aferir a alcoolemia -e sem blitze periódicas, principalmente nos trechos urbanos.
"O interior tem diversas cidades universitárias, onde os jovens bebem bastante e que têm grande potencial de acidentes. Mas nem a polícia nem os órgãos de trânsito estão equipados. A fiscalização tem que ser mais espalhada", afirma Jaime Waisman, professor da Universidade de São Paulo.
O especialista Horácio Augusto Figueira cobra uma fiscalização aleatória. "Não pode ser só próximo dos bares. Tem que diversificar regiões, dias e horários, porque a tendência é que os motoristas relaxem", diz.
A PM diz ter hoje 51 bafômetros na capital e 79 no restante da malha rodoviária estadual.
Embora a insegurança viária seja freqüentemente associada a grandes centros, como São Paulo, é no interior que estão as maiores taxas de mortes.
Em 2007, enquanto a capital tinha 1,44 homicídio culposo no trânsito por 10 mil veículos, no interior havia 3,92. A discrepância cresceu após a lei seca.
Além da falta de fiscalização, parte da diferença é explicada pela própria infra-estrutura precária e pela falta de sinalização em regiões onde há expansão dos automóveis.
A gravidade dos acidentes nas rodovias (devido à alta velocidade) também interfere nessa situação -embora mesmo nas estradas os casos estejam concentrados nas proximidades dos trechos urbanos.
Na malha rodoviária estadual de São Paulo, houve redução de 16% nas mortes e de 2,7% nos acidentes, de julho a outubro, na comparação com igual período de 2007.
Marcos Pimentel Bicalho, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), considera ser cedo para avaliações conclusivas, mas afirma que a repercussão das medidas na mídia pode ter mais impacto no comportamento da população do que a própria fiscalização sozinha.
"Mais importante do que ver um guarda no trânsito é quando a pessoa vê no jornal", diz.


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