São Paulo, terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Uniban recua e cancela expulsão de aluna

Pressionada por entidades que criticaram a punição da estudante do microvestido, universidade cancela também suspensão de agressores


Assessor jurídico não comentou os motivos que levaram ao recuo; antes da decisão, Geisy ameaçou processar a universidade

Rubens Cavallari/Folha Imagem
Geyse Arruda, 20, aluna de turismo da Uniban durante entrevista
coletiva ontem


DA REPORTAGEM LOCAL

Em um comunicado com 58 palavras assinado pelo reitor Heitor Pinto Filho, a Uniban (Universidade Bandeirante de SP) revogou ontem a decisão de expulsar a aluna Geisy Villa Nova Arruda, 20, tomada pelo Conselho Universitário da instituição na última sexta. Com isso, a aluna de turismo poderá voltar a frequentar a faculdade.
A Uniban não informou se pretende adotar medidas especiais de segurança para garantir que Geisy não volte a ser hostilizada pelos colegas que, no último dia 22, a perseguiram, encurralaram, xingaram e ameaçaram -inclusive de estupro-, alegadamente por causa do microvestido rosa que ela trajava.
Ontem, o assessor jurídico da Uniban, Décio Machado, afirmou que o reitor também havia participado da reunião do colegiado que decidiu expulsar a aluna. O assessor não quis comentar os motivos que levaram ao recuo da universidade.
Também ficou sem efeito a decisão de suspender seis dos alunos apontados como agressores da universitária.
No domingo, a Uniban divulgou pelos jornais a decisão de expulsar a aluna. Em um texto com 400 palavras encimadas pelo slogan "Responsabilidade Educacional", acusou-a, entre outras coisas, de frequentar as dependências escolares "em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade".
Geisy, que deu uma entrevista coletiva ontem à tarde, defendeu-se: "Eu não quis provocar. Eu sou assim, sempre me vesti dessa maneira. Eles quiseram me humilhar ainda mais". Nem ela nem seus advogados quiseram comentar o recuo da administração universitária, anunciado no fim da tarde.
Na coletiva, os advogados ameaçaram a universidade com processo por danos morais e materiais, além de recitarem os sete crimes que teriam sido cometidos contra a jovem: "Foi difamação, injúria, ameaça, constrangimento ilegal, cárcere privado, incitação ao crime e ato obsceno", disse o chefe da equipe, Nehemias Melo.
Durante todo o dia, a universidade foi alvo de protestos. A Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo federal enviou ofício à Uniban e ao Ministério Público condenando a expulsão e pedindo justificativas formais da universidade. Em São Paulo, a Procuradoria já abriu inquérito sobre o caso.
A ministra Nilcéa Freire chamou de "arbitrariedade" o ato da Uniban, porque transformou Geisy em culpada pela agressão de que foi vítima.
O Ministério da Educação notificou a Uniban para que explicasse a decisão de expulsar a aluna. Até aliados históricos da Uniban, como o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT), o Vicentinho, garoto-propaganda da instituição em que se graduou em direito (2003), criticaram a atitude da universidade. "Foi um grave erro. Como é que a vítima é quem paga?"
Na sexta-feira, a Uniban realiza debate com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que se ofereceu para intermediar uma conversa entre a instituição, Geisy e os estudantes que a agrediram. "Para que todos venham a aprender com o que aconteceu", disse o senador.
(LAURA CAPRIGLIONE, TALITA BEDINELLI, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)


Colaborou a Sucursal de Brasília


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