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Uniban recua e cancela expulsão de aluna
Pressionada por entidades que criticaram a punição da estudante do microvestido, universidade cancela também suspensão de agressores
Assessor jurídico não comentou os motivos que levaram ao recuo; antes da decisão, Geisy ameaçou processar a universidade
Rubens Cavallari/Folha Imagem
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Geyse Arruda, 20, aluna de turismo da Uniban durante entrevista
coletiva ontem
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um comunicado com 58
palavras assinado pelo reitor
Heitor Pinto Filho, a Uniban
(Universidade Bandeirante de
SP) revogou ontem a decisão de
expulsar a aluna Geisy Villa
Nova Arruda, 20, tomada pelo
Conselho Universitário da instituição na última sexta. Com
isso, a aluna de turismo poderá
voltar a frequentar a faculdade.
A Uniban não informou se
pretende adotar medidas especiais de segurança para garantir
que Geisy não volte a ser hostilizada pelos colegas que, no último dia 22, a perseguiram, encurralaram, xingaram e ameaçaram -inclusive de estupro-,
alegadamente por causa do microvestido rosa que ela trajava.
Ontem, o assessor jurídico da
Uniban, Décio Machado, afirmou que o reitor também havia
participado da reunião do colegiado que decidiu expulsar a
aluna. O assessor não quis comentar os motivos que levaram
ao recuo da universidade.
Também ficou sem efeito a
decisão de suspender seis dos
alunos apontados como agressores da universitária.
No domingo, a Uniban divulgou pelos jornais a decisão de
expulsar a aluna. Em um texto
com 400 palavras encimadas
pelo slogan "Responsabilidade
Educacional", acusou-a, entre
outras coisas, de frequentar as
dependências escolares "em
trajes inadequados, indicando
uma postura incompatível com
o ambiente da universidade".
Geisy, que deu uma entrevista coletiva ontem à tarde, defendeu-se: "Eu não quis provocar. Eu sou assim, sempre me
vesti dessa maneira. Eles quiseram me humilhar ainda mais".
Nem ela nem seus advogados
quiseram comentar o recuo da
administração universitária,
anunciado no fim da tarde.
Na coletiva, os advogados
ameaçaram a universidade
com processo por danos morais
e materiais, além de recitarem
os sete crimes que teriam sido
cometidos contra a jovem: "Foi
difamação, injúria, ameaça,
constrangimento ilegal, cárcere privado, incitação ao crime e
ato obsceno", disse o chefe da
equipe, Nehemias Melo.
Durante todo o dia, a universidade foi alvo de protestos. A
Secretaria de Políticas para as
Mulheres do governo federal
enviou ofício à Uniban e ao Ministério Público condenando a
expulsão e pedindo justificativas formais da universidade.
Em São Paulo, a Procuradoria
já abriu inquérito sobre o caso.
A ministra Nilcéa Freire chamou de "arbitrariedade" o ato
da Uniban, porque transformou Geisy em culpada pela
agressão de que foi vítima.
O Ministério da Educação
notificou a Uniban para que explicasse a decisão de expulsar a
aluna. Até aliados históricos da
Uniban, como o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT),
o Vicentinho, garoto-propaganda da instituição em que se
graduou em direito (2003), criticaram a atitude da universidade. "Foi um grave erro. Como
é que a vítima é quem paga?"
Na sexta-feira, a Uniban realiza debate com o senador
Eduardo Suplicy (PT-SP), que
se ofereceu para intermediar
uma conversa entre a instituição, Geisy e os estudantes que a
agrediram. "Para que todos venham a aprender com o que
aconteceu", disse o senador.
(LAURA CAPRIGLIONE, TALITA BEDINELLI, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)
Colaborou a Sucursal de Brasília
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