São Paulo, terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Para sociólogas, sociedade ainda é conservadora

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O linchamento moral contra a aluna Geisy Arruda é consequência de um pensamento coletivo que ainda é conservador e machista, afirmam duas sociólogas ouvidas pela Folha. A violência atrelada ao ato contra a estudante de turismo da Uniban também surpreende, dizem as estudiosas.
"A sociedade só parece ser mais democrática", afirma Miriam Abramovay, pesquisadora da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, um organismo internacional de cooperação técnica.
"Na verdade, ela continua sendo um lugar muito conservador e muito machista", disse a socióloga à Folha. "Mesmo com os avanços dos direitos femininos em 40 anos", constatou a estudiosa.
Para Abramovay, neste contexto, a visão machista tradicional surge de forma muito forte. "Existe um pensamento entre os homens de que o mundo está dividido entre santas e putas. De que o espaço [de convívio social] tem que ser quase sacrossanto", afirma a pesquisadora.
Uma das pioneiras no estudo da questão feminina no país, Heleieth Saffioti, professora aposentada da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara, concorda com as observações da colega.
"O fato surgiu de um nicho de conservadorismo, que não é normal no Brasil. Não acredito que a sociedade toda seja assim, mas nem no inverso", afirmou a professora.
A violência vista nos corredores da Uniban tem uma origem na vida doméstica, diz ela.

Avanço?
"A cada 15 segundos uma mulher é espancada no país. É muito para o meu gosto. A sociedade civilizada, em vez da patriarcal como temos, tem que resolver isso na conversa", disse Saffioti.
Para a professora, o fato suscita outro debate: o conceito de modernidade social. "Acentuar o papel da mulher como objeto é um avanço ou queremos outra coisa?", indaga.


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