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Para sociólogas, sociedade ainda é conservadora
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O linchamento moral
contra a aluna Geisy Arruda é consequência de um
pensamento coletivo que
ainda é conservador e machista, afirmam duas sociólogas ouvidas pela Folha. A violência atrelada
ao ato contra a estudante
de turismo da Uniban
também surpreende, dizem as estudiosas.
"A sociedade só parece
ser mais democrática",
afirma Miriam Abramovay, pesquisadora da Rede
de Informação Tecnológica Latino-Americana, um
organismo internacional
de cooperação técnica.
"Na verdade, ela continua sendo um lugar muito
conservador e muito machista", disse a socióloga à
Folha. "Mesmo com os
avanços dos direitos femininos em 40 anos", constatou a estudiosa.
Para Abramovay, neste
contexto, a visão machista
tradicional surge de forma
muito forte. "Existe um
pensamento entre os homens de que o mundo está
dividido entre santas e putas. De que o espaço [de
convívio social] tem que
ser quase sacrossanto",
afirma a pesquisadora.
Uma das pioneiras no
estudo da questão feminina no país, Heleieth Saffioti, professora aposentada da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de
Araraquara, concorda com
as observações da colega.
"O fato surgiu de um nicho de conservadorismo,
que não é normal no Brasil. Não acredito que a sociedade toda seja assim,
mas nem no inverso", afirmou a professora.
A violência vista nos
corredores da Uniban tem
uma origem na vida doméstica, diz ela.
Avanço?
"A cada 15 segundos
uma mulher é espancada
no país. É muito para o
meu gosto. A sociedade civilizada, em vez da patriarcal como temos, tem que
resolver isso na conversa",
disse Saffioti.
Para a professora, o fato
suscita outro debate: o
conceito de modernidade
social. "Acentuar o papel
da mulher como objeto é
um avanço ou queremos
outra coisa?", indaga.
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