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SAÚDE
Doença de Crohn tem difícil diagnóstico
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem é portador da doença de
Crohn começa a enfrentar dificuldades antes mesmo de saber que
sofre do mal. Isso porque essa
doença crônica, que ataca o aparelho digestivo, dificilmente é
diagnosticada corretamente, a
não ser por um especialista.
Segundo Flávio Steinwurz, médico gastroenterologista e presidente da ABCD (Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e
Doença de Crohn), o diagnóstico
é difícil porque os sintomas se assemelham aos de muitas outras
doenças. "Os pacientes têm febre,
cólicas, diarréia e emagrecimento.
Muitos pensam que estão com
Aids", diz.
Outra confusão comum é com a
apendicite. "As partes do intestino mais atacadas pela doença -o
ílio e o cólon (veja quadro ao lado)- ficam na mesma região do
apêndice. Há pessoas que descobrem que o problema é outro na
mesa de operação", diz Steinwurz
Uma vez diagnosticada a doença, há tratamentos para que os
portadores possam levar uma vida normal, sem limitações.
Para o médicos que encabeçam
o Grupo de Intestino da Disciplina de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP, Aytan Miranda
Sipahi e Adérson Omar Mourão
Cintra Damião, o tratamento da
doença de Crohn é muito complexo e envolve uma série de drogas,
que vão desde antiinflamatórios a
antibióticos.
Eles afirmam que a introdução
de novas drogas tem permitido
controlar melhor a doença. "Os
avanços nas áreas de imunologia,
genética e biologia molecular
abrem perspectivas para o controle mais efetivo dessa enfermidade", diz Sipahi.
Uma droga norte-americana
obtida por meio da biologia molecular, o Remicade, tem trazido
benefícios para os pacientes de
Crohn. Segundo Steinwurz, que
trata dez pacientes com o Remicade, a droga apresentou bons resultados em 80% dos casos.
O problema do Remicade, assim como o de outras drogas utilizadas para o controle da doença
de Crohn, é o preço. Cada ampola
do remédio custa US$ 600, e a dose correta é de uma ampola para
cada 20 quilos. Ou seja, uma pessoa de 80 quilos irá gastar US$
2.400 por uma dose que deve ser
tomada a cada três meses.
Mas, em São Paulo, há opções
para baratear o tratamento. Um
delas é associar-se à ABCD, o que
pode ser feito no site da entidade
(www.abcd.org.br). A mensalidade custa R$ 12 por mês e o associado consegue uma série de descontos em medicamentos, que são
fruto de convênios entre a entidade e laboratórios farmacêuticos.
"Um paciente gasta aproximadamente de R$ 500 a R$ 600 por
mês em remédios. Conseguimos
descontos que vão de 35% a 40%,
o que pode representar uma economia de cerca de R$ 200 por
mês", afirma Steinwurz.
Outra forma menos onerosa de
se tratar é procurar o Grupo de
Intestino no Hospital das Clínicas, que tem ambulatório especializado em doença de Crohn e
atende cerca de 500 pacientes.
O ambulatório se tornou um
centro de referência para o tratamento de doenças inflamatórias
intestinais e faz pesquisas clínicas
e experimentais sobre o tema.
Contudo, os médicos não são
capazes de traçar um quadro geral da doença no Brasil. "Não temos ainda estudos nacionais epidemiológicos da doença, apenas
alguns trabalhos regionais. No
entanto há consenso entre pesquisadores sobre a necessidade
desse estudo", afirma Damião.
O presidente da ABCD concorda com Damião. Como comparação, ele informa que, nos EUA, há
cerca de 750 mil portadores da
doença, o equivalente a 0,3% da
população do país.
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