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entrevista
Evitar ocupação de encosta não dá voto, diz arquiteto
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O arquiteto Flavio Farah,
pesquisador aposentado do
IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas) e autor do livro "Habitação e Encostas",
afirma que os governos, de
forma geral, não impedem
que as pessoas construam
casas ao pé de barrancos.
"O interesse genuíno é pequeno. Talvez seja porque
não dá voto. Esse tipo de trabalho é pulverizado e não
rende dividendo político."
Cinco pessoas morreram
anteontem na Grande SP soterradas dentro de casa. Barrancos vizinhos desmoronaram por causa do temporal.
Farah viu famílias em
áreas de risco em diversas regiões do Brasil. "Meu trabalho [o livro] foi bastante divulgado, mas raríssimos municípios se interessaram. As
prioridades deles são outras. Me aposentei [em 2007] totalmente frustrado."
FOLHA - Que medidas se devem
tomar para que os deslizamentos
deixem de ser realidade?
FLAVIO FARAH - Em primeiro
lugar, é preciso identificar as
áreas de risco. Depois, tomar
a providência adequada. Pode ser drenar o terreno,
construir um paredão na
frente do barranco, plantar
grama... Cada solo tem sua
necessidade. E o governo
tem de oferecer habitações à
população, para que não invada terrenos nas encostas.
FOLHA - A Prefeitura de São
Paulo tem um mapa das áreas de
risco feito em 2003.
FARAH - Não adianta ter um
mapa desatualizado. A ocupação do solo é dinâmica.
Um terreno que está vago hoje já estará ocupado amanhã.
E são justamente as áreas de
encosta ocupadas recentemente as que merecem mais
atenção, pois têm maiores
chances de deslizamento.
Quando passou algum tempo
e o terreno ficou mais ocupado, ele já está mais consolidado, mais impermeável. O que
tinha de rolar já rolou. Além
disso, é mais fácil atualizar o
mapa ano a ano do que partir
do zero a cada seis anos.
FOLHA - As medidas de contenção têm sido tomadas?
FARAH - Existem medidas
que são tomadas. O problema é que o poder público fecha os olhos para essas ocupações inadequadas porque
não tem alternativa a oferecer. Fico triste quando vejo
tudo isso [deslizamentos]
outra vez. O interesse genuíno é pequeno. Talvez seja
porque não dá voto. Esse tipo
de trabalho é pulverizado e
não rende dividendo político. E vira problema crônico.
FOLHA - Adianta tentar conscientizar a população?
FARAH - O risco que corre vivendo em encosta talvez seja
uma das menores preocupações. Ela sabe que ali é perigoso, mas tem coisas mais
básicas com que se preocupar, como ter o que comer.
FOLHA - O sr. então não vê uma
solução para São Paulo?
FARAH - Aqui o desastre já se
implantou. O espaço urbano
não foi planejado, e o jeito é
remediar e recuperar o que
há. Não importa a ação, o resultado não será bom. As cidades de médio porte, ao
contrário, ainda podem fazer
alguma coisa para não repetir o problema de São Paulo.
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