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SAÚDE
Demora no diagnóstico pode agravar a doença a ponto de comprometer outros órgãos e até levar à morte
Cardiopatia congênita evolui em silêncio
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
A recém-descoberta de uma séria doença cardíaca do ator Norton Nascimento, 41, chamou a
atenção para as cardiopatias congênitas que podem passar despercebidas por anos. Com o tempo,
até as mais simples tendem a se
agravar, comprometendo outros
órgãos e até levando à morte.
Segundo um dos médicos que
atendeu o ator no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, o cirurgião-assistente da equipe de transplante Rodrigo Moreira Castro, a demora em diagnosticar as doenças congênitas pode
piorar o quadro e atingir órgãos
como rins e pulmões.
"As cardiopatias congênitas
descobertas tardiamente são pouco comuns, mas são as mais graves. São doenças de longa data e
submetem o coração a um estresse intenso. Quando diagnosticadas em adultos, são geralmente
mais complexas", disse Castro.
"A maioria dessas cardiopatias
fica em orifícios do coração responsáveis pela comunicação do
lado direito com o lado esquerdo
do órgão, o que sobrecarrega
muito os pulmões."
No caso do ator, um problema
na válvula aórtica, responsável
por movimentos de regulação
sanguínea, evoluiu até atingir o
ventrículo esquerdo do coração e
formar um aneurisma, chegando
a atrofiar o músculo cardíaco.
A doença foi detectada há cinco
meses. Quando Nascimento se
submeteu a uma cirurgia para
substituir a válvula, no dia 15, o
procedimento não foi suficiente e
ele precisou de um transplante de
coração, feito quatro dias depois.
Segundo sua mulher, Kely Candia, 28, o ator só começou a apresentar sintomas há pouco tempo.
"Recentemente, ele parou de beber e de fumar e começou a ter
dor, mas achava que era pela falta
das drogas [nicotina e álcool]. Aí
descobriu o aneurisma."
Candia disse que Nascimento tinha "certeza da vitória com
Deus", antes mesmo de conseguir
um doador. "Ele sempre fez campanhas e já tinha essa sementinha
plantada. Agora, vai se empenhar
nas campanhas de doação."
Último estágio
Mesmo quando a origem não é
no coração, mas em artérias ou
válvulas, as cardiopatias podem
se agravar até o ponto de exigir
transplante cardíaco, como no caso de Nascimento, ou transplante
duplo (coração e pulmão).
"O transplante cardiopulmonar
é o último estágio, quando já passou a fase de correção cirúrgica e
o problema levou o coração ao extremo, sobrecarregando o pulmão. Nesse caso, é necessário trocar o coração e os pulmões. O risco é elevadíssimo", disse Castro.
Para o cardiologista do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Renato
Barroso, "o desafio é evitar o
transplante. A maioria dos pacientes que entra na fila não sobrevive até conseguir o órgão".
Em geral, exames como o ecocardiograma, radiografia de tórax
e a ausculta cardíaca, feita com estetoscópio para identificar ruídos,
são suficientes para detectar cardiopatias, mesmo sem sintomas.
Em cardiopatas, falta de ar, cansaço e tontura são muitas vezes
confundidos com sinais de estresse e desgaste físico.
São poucos os dados sobre as
doenças congênitas descobertas
apenas em adultos. De acordo
com Castro, as válvulas aórticas
bicúspides, uma das ocorrências
mais comuns, atingem de 20% a
30% dos diagnósticos tardios. A
comunicação interatrial também
é frequente.
Segundo o professor de cardiologia da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo) Antônio
Carlos Camargo Carvalho, as cardiopatias congênitas atingem de
oito a dez nascimentos em cada
grupo de mil. Para ele, o maior
acesso aos serviços de saúde e o
aprimoramento no diagnóstico e
tratamento das doenças congênitas reduz os casos tardios.
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