São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

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CEGONHA DE RISCO

Segundo a ANS, 80% dos partos realizados por operadores são cesáreas; agência tenta pacto para reduzir índice

Plano de saúde é recordista em cesarianas

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

As taxas de cesariana praticadas por planos e seguros-saúde brasileiros são as mais elevadas do mundo -79,7%, índice quatro vezes acima do recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Considerado mais arriscado, esse tipo de parto é o preferido dos médicos, por ser bem mais rápido do que o normal -mas com o mesmo custo.
Os dados são do relatório da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). É a primeira vez que a agência analisa os números de parto cesariana no sistema de saúde suplementar e o impacto deles nos indicadores nacionais. A partir desses dados, a ANS pretende pactuar com as 1.540 operadoras de saúde uma redução de 15% na taxa de cesáreas em um período de três anos.
Segundo a ANS, em 2004 ocorreram 2.552.766 nascimentos. Desses, 87,9% foram atendidos pelo SUS, que apresentou uma taxa de 27,53% de cesáreas. Os demais nascimentos (12,1%) ocorreram no setor suplementar de saúde, com um índice de cesarianas de 79,7%.
A gerente de assistência de produtos da ANS, Karla Santa Cruz Coelho, afirma que, no próximo mês, a agência vai reunir as operadoras de saúde e as entidades médicas como a AMB (Associação Médica Brasileira) e o CFM (Conselho Federal de Medicina), além de técnicos do Ministério da Saúde e de ONGs que atuam no setor, para discutir as estratégias para a redução das cesáreas.
Uma delas é uma espécie de premiação às operadoras que diminuírem o número de cesarianas. Elas ganharão pontos a mais em um programa de qualificação que existe dentro da ANS. Por enquanto, não estão previstas sanções às empresas que descumprirem a meta estabelecida.

Educação médica
Mesmo considerando um "absurdo" os atuais números de cesáreas no sistema suplementar de saúde, Arlindo de Almeida, presidente da Abramge (entidade representante dos planos de saúde), diz que esse panorama só será mudado com educação médica.
"O que podemos fazer é promover palestras sobre os riscos das cesáreas. Fica difícil vetar o procedimento se o médico está indicando e justificando o ato", afirma Almeida, médico pediatra.
Segundo ele, hoje as mães são "seduzidas" pelos médicos a optar pela cesariana mesmo quando o parto vaginal não implica riscos à mulher ou ao bebê.
Estudos usados pela ANS na elaboração do relatório apontam que a alta prevalência de bebês prematuros, que geram problemas respiratórios graves, pode estar relacionada, em grande parte, às cesarianas e às induções do trabalho de parto realizadas antes da completa maturidade fetal.


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