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Planos terão de cobrir transplante de medula
A partir de 1º de junho, procedimento que chega a custar R$ 80 mil entrará no pacote mínimo de serviços das operadoras
Novos procedimentos incluem ainda um sofisticado exame para detectar câncer e os tratamentos odontológicos chamados de bloco e coroa
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 1º de junho, planos de
saúde de todo o Brasil passarão
a cobrir os custos do transplante de medula óssea -que chega
a custar R$ 80 mil- e de um sofisticado exame capaz de detectar diversos tipos de câncer.
E os planos odontológicos,
por sua vez, passarão a oferecer
os tratamentos popularmente
conhecidos como bloco e coroa.
A Folha apurou que esses
são alguns dos cerca de 70 procedimentos que, por determinação da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), entrarão no pacote mínimo que
as operadoras são obrigadas a
oferecer a seus clientes.
Procurada, a ANS disse à Folha que não poderia comentar
o tema. A agência afirmou que
só amanhã apresentará a nova
lista de procedimentos obrigatórios. A atualização beneficiará os 43,7 milhões de pessoas
com plano médico ou odontológico contratado após janeiro
de 1999, quando entrou em vigor a lei que regula o mercado.
O transplante de medula que
será incluído na lista é o alogênico (doação feita por outra
pessoa). Os planos já cobrem o
autólogo (a medula transplantada é do próprio paciente).
O transplante é indicado
principalmente para tratar a
leucemia (câncer nas células do
sangue). Incluindo os cuidados
do paciente após o transplante,
o procedimento custa ao governo entre R$ 60 mil e R$ 80 mil.
Para o médico Carmino Antonio de Souza, presidente da
Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, a inclusão do transplante de medula óssea no pacote básico não
terá um impacto grande nas
contas das operadoras:
"O procedimento é caro [até
R$ 80 mil], mas não é tão comum. Deveremos ter uns 150
transplantes por ano [cobertos
pelos planos]. A maioria continuará sendo feita pela rede pública. Imagino que R$ 1 a mais
nas mensalidades cobrirá os
custos na área privada."
Exame de câncer
O exame de câncer que os
planos terão de cobrir é o
PET/CT. Ele tem duas funções
básicas: identificar o câncer em
estágio inicial e mostrar em
tempo real como o organismo
está reagindo ao tratamento.
Um exame de PET/CT custa
na rede privada algo em torno
de R$ 3.500. De acordo com a
Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, 30 clínicas e hospitais brasileiros possuem esse
aparelho de R$ 2 milhões.
"A inclusão no rol da ANS
certamente vai estimular o aumento do número de aparelhos
no Brasil", afirma o médico
Marcelo Livorsi da Cunha, presidente da Associação Brasileira de Medicina Nuclear.
A Abramge (associação das
operadoras do tipo medicina de
grupo) diz que a atualização
dos serviços básicos encarecerá
os planos médicos.
A ANS diz que, em 2008,
quando ocorreu a última atualização, houve um reajuste de
1% nas mensalidades.
As empresas de planos odontológicos preveem também aumento nas mensalidades. Segundo o presidente do sindicato das empresas de odontologia
de grupo, Carlos Squillaci, os
planos hoje se concentram nas
classes mais baixas. As mensalidades giram em torno de R$
15, diz, um valor que cobre todos os procedimentos básicos.
"É como se agora tivéssemos
de dar à população só TV de
plasma. Mas não se pode dar
TV de plasma se a mensalidade
só cobre TV comum", compara.
Já Newton Miranda de Carvalho, da Associação Brasileira
de Odontologia, acredita que,
na prática, as operadoras não
aumentarão as mensalidades
-por causa da alta concorrência. Mas os clientes serão prejudicados de qualquer forma.
"A mensalidade paga pelo
cliente é a mesma, e o valor que
o dentista recebe do plano é o
mesmo. Há muita operadora
que paga R$ 4 por procedimento. Mas as próteses [o bloco e a
coroa] são caras. Resultado: o
dentista trabalhará com material de má qualidade ou abandonará o plano."
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