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Governo ainda se perde na nova ortografia
"Diário Oficial" da União publica palavras ora de acordo com normas do Acordo Ortográfico, ora seguindo regras antigas
Ambas as grafias serão aceitas até 31 de dezembro de 2012; no entanto, livros já não podem ir para as escolas com a regra antiga
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministérios "apoiam" ou
"apóiam" as atividades? Os
quartéis vão abrir licitação para
comprar "linguiça" ou "lingüiça"? Subiram as alíquotas de
importação de rádios de "micro-ondas" ou "microondas"?
Um ano após o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
entrar em vigor no Brasil, o
"Diário Oficial" da União -o
jornal que publica todas as políticas, leis, contratos e editais do
governo federal- ainda se confunde com a grafia das palavras.
Ao folhear edições recentes
do "Diário Oficial", a Folha
constatou uma bagunça ortográfica. Palavras como as do
primeiro parágrafo desta reportagem ora se grafam pela
maneira antiga, ora se escrevem segundo a nova regra.
O Acordo Ortográfico está
em vigência no país desde o dia
1º de janeiro de 2009. Certos
acentos caíram, o trema foi
praticamente extinto e o hífen
ganhou novas regras.
Assim, diz o Acordo Ortográfico, ministérios "apoiam",
quartéis compram "linguiça" e
rádios são de "micro-ondas".
A Imprensa Nacional, órgão
que publica o "Diário Oficial",
diz que não pode fazer alterações porque o conteúdo é de
responsabilidade da Presidência, dos ministérios e de outras
entidades públicas. "Quando
vemos algo berrante, tentamos
alterar. Mas não é nossa incumbência. Temos de manter o
texto como nos foi encaminhado", explica um funcionário.
Ao pé da letra, porém, o governo federal não está cometendo erros, porque há um período de adaptação. Até 2012,
tanto a grafia nova como a antiga são aceitas.
De qualquer forma, o governo que redige leis com uma
certa instabilidade ortográfica
é o mesmo que não permite
que as editoras enviem para as
escolas públicas livros e dicionários com a grafia antiga.
Em 2008, o governo disse
que recomendaria que os documentos oficiais fossem todos
redigidos na nova maneira a
partir do ano seguinte.
"É natural que alguns errinhos ainda passem. Ainda estamos no período de transição",
afirma Godofredo de Oliveira
Neto, presidente da Comissão
de Língua Portuguesa do Ministério da Educação.
Para Oliveira Neto, os erros
no "Diário Oficial" não passam
de exceção. "No Brasil, a adoção foi absolutamente avassaladora. Os jornais todos, de
norte a sul, adotaram as novas
regras. Não há nenhuma aula
de gramática em que se ensinem as regras antigas. Foi uma
coisa muito tranquila, sem
trauma. Acho que nem precisávamos do prazo de adaptação."
O objetivo do Acordo Ortográfico, firmado em 1990, é tornar praticamente nulas as diferenças de escrita existentes entre os países que têm o português como idioma oficial.
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