São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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Governo ainda se perde na nova ortografia

"Diário Oficial" da União publica palavras ora de acordo com normas do Acordo Ortográfico, ora seguindo regras antigas

Ambas as grafias serão aceitas até 31 de dezembro de 2012; no entanto, livros já não podem ir para as escolas com a regra antiga


RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministérios "apoiam" ou "apóiam" as atividades? Os quartéis vão abrir licitação para comprar "linguiça" ou "lingüiça"? Subiram as alíquotas de importação de rádios de "micro-ondas" ou "microondas"?
Um ano após o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrar em vigor no Brasil, o "Diário Oficial" da União -o jornal que publica todas as políticas, leis, contratos e editais do governo federal- ainda se confunde com a grafia das palavras.
Ao folhear edições recentes do "Diário Oficial", a Folha constatou uma bagunça ortográfica. Palavras como as do primeiro parágrafo desta reportagem ora se grafam pela maneira antiga, ora se escrevem segundo a nova regra.
O Acordo Ortográfico está em vigência no país desde o dia 1º de janeiro de 2009. Certos acentos caíram, o trema foi praticamente extinto e o hífen ganhou novas regras.
Assim, diz o Acordo Ortográfico, ministérios "apoiam", quartéis compram "linguiça" e rádios são de "micro-ondas".
A Imprensa Nacional, órgão que publica o "Diário Oficial", diz que não pode fazer alterações porque o conteúdo é de responsabilidade da Presidência, dos ministérios e de outras entidades públicas. "Quando vemos algo berrante, tentamos alterar. Mas não é nossa incumbência. Temos de manter o texto como nos foi encaminhado", explica um funcionário.
Ao pé da letra, porém, o governo federal não está cometendo erros, porque há um período de adaptação. Até 2012, tanto a grafia nova como a antiga são aceitas.
De qualquer forma, o governo que redige leis com uma certa instabilidade ortográfica é o mesmo que não permite que as editoras enviem para as escolas públicas livros e dicionários com a grafia antiga.
Em 2008, o governo disse que recomendaria que os documentos oficiais fossem todos redigidos na nova maneira a partir do ano seguinte.
"É natural que alguns errinhos ainda passem. Ainda estamos no período de transição", afirma Godofredo de Oliveira Neto, presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação.
Para Oliveira Neto, os erros no "Diário Oficial" não passam de exceção. "No Brasil, a adoção foi absolutamente avassaladora. Os jornais todos, de norte a sul, adotaram as novas regras. Não há nenhuma aula de gramática em que se ensinem as regras antigas. Foi uma coisa muito tranquila, sem trauma. Acho que nem precisávamos do prazo de adaptação."
O objetivo do Acordo Ortográfico, firmado em 1990, é tornar praticamente nulas as diferenças de escrita existentes entre os países que têm o português como idioma oficial.


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