São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2001

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PF investiga ação de "megaquadrilha"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal acredita ter desvendado qual é e como age a maior organização criminosa especializada em assaltos a aeroportos, bancos e carros-forte do país. Com integrantes em pelo menos quatro Estados, essa é a mais estruturada e uma das mais lucrativas já conhecidas, segundo os delegados que investigaram o grupo nos últimos seis meses.
Até agora, a PF identificou e relacionou ao grupo nove crimes de 98 a 2000 (veja quadro). Só os crimes descobertos e bem-sucedidos teriam rendido mais de R$ 10 milhões.
Há indícios de que a quadrilha mantenha ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa com origem nos presídios paulistas. Segundo a polícia, membros do PCC teriam participação em crimes da quadrilha.
Um deles, de acordo com as investigações, seria Airton Ferreira da Silva, conhecido como Rambo ou Gordão. Airton, considerado um criminoso da "elite" da megaquadrilha, está preso. Ele é acusado, entre outros crimes, de ter participado de um assalto ao aeroporto de Brasília, em julho do ano passado.
Na ação, quinze homens armados levaram uma carga de 61 kg de ouro, avaliada em R$ 1 milhão, de um avião da Vasp que esperava para decolar.
Apesar de bem equipada e preparada, a quadrilha cometeu um erro básico: nenhum dos integrantes cobriu o rosto, e o grupo foi identificado a partir das fitas do circuito interno de TV.
"Eles acreditavam que, por estar escuro e por serem de outras cidades, ninguém iria reconhecê-los", afirma o delegado Antônio Celso dos Santos, da PF de Brasília. Segundo o delegado, os principais integrantes do grupo são de São Paulo e do Paraná.
Durante as apurações daquele assalto foram ficando claras as conexões entre os dez crimes já identificados, os modos de ação e as fontes de informação do grupo. A Folha consultou, por telefone, os delegados responsáveis pela apuração de todos os crimes relacionados pela PF de Brasília. Eles confirmaram as informações.
Segundo o delegado de Brasília, que viajou para o Paraná e para Minas Gerais em busca de pistas sobre a quadrilha, fazem parte do grupo cerca de 50 pessoas.
Elas não agem sempre juntas, mas pessoas-chave do grupo atuaram em todos os crimes.
A quadrilha, de acordo com a investigação, tem cerca de dez chefes, que definem os "serviços" e convidam outros criminosos, de acordo com o tipo de delito. Os chefes fazem o planejamento das ações e ficam com a maior parte do dinheiro roubado.
Além de Airton Ferreira da Silva, outros dois chefes já foram identificados e estão presos, segundo a PF. O mais conhecido é Marcelo Moacir Borelli. Ele foi reconhecido pelos funcionários do aeroporto de Brasília pelo assalto em julho, mas nega participação no crime.
Àquela altura, Borelli já estava sendo investigado pelo assalto à sede da empresa de carros-fortes da Proforte, em Londrina, e pelo sequestro do avião da Vasp que saiu de Foz do Iguaçu com destino a Curitiba, em agosto do ano passado. Nesse último, não ficou provada sua participação direta, mas a PF afirma ter evidências de que outros dois chefes da quadrilha tenham participado.
O grupo teria oferecido também algum apoio logístico ao crime, como a pista de pouso usada pelos sequestradores. O principal acusado pelo sequestro, em que R$ 5,5 milhões foram roubados, é o piloto Gerson Palermo.
Borelli foi preso em 15 de outubro passado, em Curitiba, quando a PF interceptou um caminhão em que ele trazia armas compradas no Paraguai.
No apartamento onde ele estava foi encontrado armamento pesado (rifles, fuzis, uma submetralhadora e quatro granadas), munição antiaérea e 21 fitas de vídeo, além de evidências do envolvimento do grupo no assalto ao aeroporto de Brasília.
Também foi apreendida no local uma fita de vídeo que mostrava Borelli e duas mulheres torturando a menina M.L., de 3 anos.


Colaborou a Reportagem Local

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