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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Cerco ao sequestrador Pedro Ciechanovicz em Curitiba mobilizou policiais civis, militares e federais no domingo

Perseguição ao grupo começou há 18 meses

DA REPORTAGEM LOCAL

À distância, policiais observam um carro chegar. Um homem magro, alto, de boné, guarda rapidamente sua picape na garagem. A casa tem portões e muros altos, parece uma fortaleza. Um cão rotweiller vigia o quintal.
Outro carro na garagem indica a presença da mulher do sequestrador, Maria de Fátima Marcondes. A planta da casa e as rotas de fuga são conhecidas. ""Não abordamos na rua porque ele dizia sempre que iria reagir", diz o delegado que coordenou a operação em Curitiba, Everardo Tanganelli Júnior, do Denarc de São Paulo.
A todo custo, Pedro Ciechanovicz deveria ser preso vivo. Sua morte impediria a libertação do empresário João Bertin.
Às 20h do domingo, os policiais avançam. Dois, pelos fundos, pulam o muro. Dois pela frente. Os reforços estão chegando. Ciechanovicz percebe a movimentação, tenta sair pelos fundos. Tiros. Sua mulher solta o cachorro contra os investigadores. Tiros. O cão morre. O sequestrador atira.
Cercado, Ciechanovicz pega o telefone. Manda sumir com provas e telefones. Busca apagar pistas que o incriminem. Grita pela janela que, se estivesse com as armas que tinha na véspera, enfrentaria todos. ""Por sorte, os fuzis e as metralhadoras não estavam lá", afirma o delegado Tanganelli.
O sequestrador tem duas pistolas à mão. Sua mulher chora, desesperada. Ciechanovicz ameaça matá-la e se matar em seguida.
O delegado negocia. Sugere acordo. Pergunta do ""Couro de Boi", como a quadrilha chamava Bertin nas conversas por telefone, por causa do frigorífico.
Às 22h, policiais civis e militares do Paraná, mais agentes da Polícia Federal, já cercam a casa. O sequestrador aceita se entregar na presença de seu advogado, Paulo César Carmo de Oliveira.
Às 4h de ontem, Ciechanovicz se entregou à polícia, dizendo que o fazendeiro demoraria para chegar em casa, pois estava em um sítio, distante de estradas.
Terminava ali uma história de 18 meses de investigação, com 38 pessoas da quadrilha identificadas -13 delas presas e duas mortas. Um enredo que tirou o sono de mais de 30 policiais do Denarc.
O sequestrador deveria ter sido preso na última quarta-feira, dia 5, se não fosse um incidente. Em uma ação paralela, sem conhecer a investigação da Polícia Civil, homens do serviço de inteligência da Polícia Militar invadiram uma casa que estava sendo vigiada pelo Denarc e onde era iminente a prisão do sequestrador. Grampos telefônicos haviam mostrado que Ciechanovicz estava indo para o local e que chegaria à noite.
Após a saída dos PMs, um garoto que estava na casa ligou para a mulher do sequestrador, avisando da ação da polícia. Até aí, Ciechanovicz não sabia que estava sendo procurado.
O incidente levou o delegado Tanganelli Júnior e outros policiais do Denarc a viajar para o Paraná. Tentariam lá uma última operação. Deu certo.
Cruzando ligações telefônicas feitas pela quadrilha, descobriram o endereço do líder. Ouvir grampos e rastrear telefonemas, inclusive de pessoas presas, foi o que os policiais do Denarc mais fizeram nos últimos meses. Somando isso ao depoimento de membros da quadrilha presos, montaram uma teia de amantes, advogados e pessoas que se relacionavam com o grupo. Descobriram, por exemplo, que integrantes da quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula, o Andinho, trabalharam para Ciechanovicz em Campinas.
""Se não é a maior quadrilha de sequestradores descoberta no Estado, é a maior organização que enfrentamos", disse o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho.
Ontem, na apresentação do sequestrador, o secretário não quis comentar o incidente entre as duas polícias, que quase comprometeu a prisão do sequestrador. ""Eu desconheço", afirmou.


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