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VIOLÊNCIA
Cerco ao sequestrador Pedro Ciechanovicz em Curitiba mobilizou policiais civis, militares e federais no domingo
Perseguição ao grupo começou há 18 meses
DA REPORTAGEM LOCAL
À distância, policiais observam
um carro chegar. Um homem
magro, alto, de boné, guarda rapidamente sua picape na garagem.
A casa tem portões e muros altos,
parece uma fortaleza. Um cão rotweiller vigia o quintal.
Outro carro na garagem indica
a presença da mulher do sequestrador, Maria de Fátima Marcondes. A planta da casa e as rotas de
fuga são conhecidas. ""Não abordamos na rua porque ele dizia
sempre que iria reagir", diz o delegado que coordenou a operação
em Curitiba, Everardo Tanganelli
Júnior, do Denarc de São Paulo.
A todo custo, Pedro Ciechanovicz deveria ser preso vivo. Sua
morte impediria a libertação do
empresário João Bertin.
Às 20h do domingo, os policiais
avançam. Dois, pelos fundos, pulam o muro. Dois pela frente. Os
reforços estão chegando. Ciechanovicz percebe a movimentação,
tenta sair pelos fundos. Tiros. Sua
mulher solta o cachorro contra os
investigadores. Tiros. O cão morre. O sequestrador atira.
Cercado, Ciechanovicz pega o
telefone. Manda sumir com provas e telefones. Busca apagar pistas que o incriminem. Grita pela
janela que, se estivesse com as armas que tinha na véspera, enfrentaria todos. ""Por sorte, os fuzis e
as metralhadoras não estavam
lá", afirma o delegado Tanganelli.
O sequestrador tem duas pistolas à mão. Sua mulher chora, desesperada. Ciechanovicz ameaça
matá-la e se matar em seguida.
O delegado negocia. Sugere
acordo. Pergunta do ""Couro de
Boi", como a quadrilha chamava
Bertin nas conversas por telefone,
por causa do frigorífico.
Às 22h, policiais civis e militares
do Paraná, mais agentes da Polícia Federal, já cercam a casa. O sequestrador aceita se entregar na
presença de seu advogado, Paulo
César Carmo de Oliveira.
Às 4h de ontem, Ciechanovicz
se entregou à polícia, dizendo que
o fazendeiro demoraria para chegar em casa, pois estava em um sítio, distante de estradas.
Terminava ali uma história de
18 meses de investigação, com 38
pessoas da quadrilha identificadas -13 delas presas e duas mortas. Um enredo que tirou o sono
de mais de 30 policiais do Denarc.
O sequestrador deveria ter sido
preso na última quarta-feira, dia
5, se não fosse um incidente. Em
uma ação paralela, sem conhecer
a investigação da Polícia Civil, homens do serviço de inteligência da
Polícia Militar invadiram uma casa que estava sendo vigiada pelo
Denarc e onde era iminente a prisão do sequestrador. Grampos telefônicos haviam mostrado que
Ciechanovicz estava indo para o
local e que chegaria à noite.
Após a saída dos PMs, um garoto que estava na casa ligou para a
mulher do sequestrador, avisando da ação da polícia. Até aí, Ciechanovicz não sabia que estava
sendo procurado.
O incidente levou o delegado
Tanganelli Júnior e outros policiais do Denarc a viajar para o Paraná. Tentariam lá uma última
operação. Deu certo.
Cruzando ligações telefônicas
feitas pela quadrilha, descobriram
o endereço do líder. Ouvir grampos e rastrear telefonemas, inclusive de pessoas presas, foi o que os
policiais do Denarc mais fizeram
nos últimos meses. Somando isso
ao depoimento de membros da
quadrilha presos, montaram uma
teia de amantes, advogados e pessoas que se relacionavam com o
grupo. Descobriram, por exemplo, que integrantes da quadrilha
do sequestrador Wanderson Nilton de Paula, o Andinho, trabalharam para Ciechanovicz em
Campinas.
""Se não é a maior quadrilha de
sequestradores descoberta no Estado, é a maior organização que
enfrentamos", disse o secretário
da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho.
Ontem, na apresentação do sequestrador, o secretário não quis
comentar o incidente entre as
duas polícias, que quase comprometeu a prisão do sequestrador.
""Eu desconheço", afirmou.
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