São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 2006

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CARNAVAL

Enredo da escola de samba paulistana Mancha Verde tratará de guerras e conflitos e promete causar polêmica

Desfile em SP terá até "homem-bomba"

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à controvérsia causada pela charge em que o turbante do profeta Maomé adquire contornos de bomba, uma escola de samba de São Paulo promete adicionar combustível à discussão, durante sua passagem pelo Sambódromo do Anhembi.
Com um enredo sobre personagens e povos perseguidos ao longo da história, a Mancha Verde desfilará com foliões fantasiados de homens-bomba. Os "suicidas" aparecerão no segundo setor, que tratará de conflitos seculares, como o que contrapõe muçulmanos e judeus. Pacificadores como Buda, Mahatma Gandhi e Nelson Mandela também serão representados pela escola.
Apesar dos preparativos, a Mancha Verde não sabe se poderá desfilar na primeira divisão do Carnaval paulistano. A Liga Independente das Escolas de Samba criou uma chave para abrigar as agremiações esportivas: Gaviões da Fiel e Mancha Verde. O braço corintiano do samba obteve uma liminar que lhe assegura o direito de abrir o desfile da sexta-feira.
Já os sambistas alviverdes não tiveram a mesma sorte: ouviram a 21ª Vara Cível da capital proferir sentença desfavorável. Mas entraram com mandado de segurança para tentar reverter a decisão.

Carnaval engajado
A questão dos direitos da criança é o destaque da Águia de Ouro. A escola aposta em um desfile com referências à gravidez na adolescência e à pornografia infantil na internet para levantar a bandeira da proteção à criança.
A incógnita X terá direito a uma revisão histórica, por obra da X-9 Paulistana. De Pitágoras aos X-burguers da atualidade, a escola aposta no enredo para conquistar o título que deixou escapar por pouco em 2005, quando foi vice.
Quem também ganha olhar retrospectivo é o vinho. A folia da Camisa Verde e Branco vai desde o mito grego de Dionísio (Baco) -deus do vinho sempre "escoltado" por sensuais bacantes- até a invenção do champanhe, irmão mais novo da bebida. No setor sobre a contribuição dos imigrantes para o desenvolvimento da vinicultura no Brasil, grupos folclóricos portugueses e alemães combinarão danças típicas e samba.
O centenário da aviação aterrissa na passarela pelas mãos da Gaviões da Fiel e da Unidos do Peruche. A primeira vai mostrar, por meio de desenhos egípcios, pipas chinesas e o imaginário ligado aos tapetes voadores, que o anseio de voar acompanha o homem desde a Antigüidade. Já a Peruche volta o foco para o pai do 14-Bis, Santos Dumont. Da escolha do tema participaram tanto integrantes da agremiação quanto alunos de duas escolas municipais. O carnavalesco Paulo de Andrade promete explorar facetas desconhecidas do aviador, como a ligação com a natureza e o espiritismo, além da influência sobre a moda. "Ele foi o primeiro metrossexual".
Andrade convidou o padre Pinto, afastado da paróquia da Lapinha (Salvador) por se fantasiar na Festa de Reis, para desfilar à frente da ala das baianas. O religioso ainda não respondeu.
A coincidência temática também une a Nenê da Vila Matilde e a Rosas de Ouro. Ambas tratarão da trajetória do negro ao longo da história. A Nenê associa a história da raça com a da Bahia, tendo como elo a ópera "Lídia de Oxum". A Rosas, por sua vez, relembra as atrocidades cometidas contra os negros. O carnavalesco Fábio Borges disse que a ala que retrata a captura de tribos africanas -com homens amarrados por forquilhas de madeira presas ao pescoço- vai emocionar.
Há ainda enredos sobre o cooperativismo, a agricultura, as festas populares das cidades que margeiam o Tietê, a cidade de São Vicente, a pecuária, o São Francisco e os primórdios do brasileiro no Piauí, além de homenagem aos transportadores de carga.


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