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SAÚDE/ DERMATOLOGIA
Brasil ignora alerta sobre os riscos causados pelo sol
Índice de incidência de raios ultravioleta não entra em campanhas de prevenção
Com ele, é possível saber o quanto é preciso se proteger do sol em atividades feitas ao ar livre e que tipo de proteção deve ser adotada
DANIELA TÓFOLI
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de o câncer mais freqüente no Brasil ser o da pele, o
país não utiliza em estratégias
de saúde pública o índice ultravioleta (IUV), desenvolvido e
validado há mais de dez anos
pela Organização Mundial da
Saúde em parceria com outras
agências como uma estratégia
de prevenção à doença.
O índice calcula, em uma escala de 0 a 14, a quantidade de
radiação solar que chega à Terra e indica o quanto é necessário se proteger do sol em atividades ao ar livre e que tipo de
proteção deve ser adotada.
Pequenas quantidades de radiação UV são benéficas e essenciais na síntese da vitamina
D, mas o perigo é o excesso, que
pode levar ao câncer da pele.
Quanto maior o índice, maior
a necessidade de sair do sol e se
proteger com bastante filtro
solar, óculos com proteção especial contra os raios ultravioleta, chapéus, camisetas e guarda-sóis bem escuros -os brancos pouco protegem.
Em um dia em que o índice
for três, por exemplo, quem
precisar sair por volta das 12h,
mesmo que por apenas dez minutos, deve passar protetor solar e usar chapéu e guarda-chuva ao caminhar, recomendam
os dermatologistas. Se o índice
passar de sete, o ideal é evitar a
exposição ao sol.
"Lamento que a informação
não chegue de maneira mais
agressiva à população. Tentamos inserir em políticas públicas, mas são feitas apenas campanhas temporárias. Não entendo por que prefeituras, hospitais não utilizam. Talvez porque trabalhem mais com o fato
consumado que com prevenção", diz Luiz Francisco Maia,
coordenador do Laboratório de
Estudos em Poluição do Ar (Lepa), da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, que divulga o
índice na internet em parceria
com a Sociedade Brasileira de
Dermatologia.
Regina Maura de Miranda,
pesquisadora do Cptec, outro
órgão que mede raios ultravioleta e os coloca na internet,
também faz críticas. "As informações estão lá, mas ainda é
preciso mais divulgação."
"É preciso que a população
seja informada dos riscos. Estão cada vez maiores", alerta o
ambientalista Fábio Feldman,
que em 93, como deputado federal, apresentou projeto para
obrigar a divulgação do índice
-a proposta foi arquivada.
Desde 1987, países como a
Nova Zelândia fazem campanhas utilizando o índice. No
continente americano, o Canadá foi um dos primeiros, seguindo recomendação feita durante a Eco-92.
O Brasil tem registrado 160
mil novos casos de câncer da
pele por ano, e mil mortes
anuais. O Inca (Instituto Nacional de Câncer), responsável
pelas políticas de prevenção ao
câncer no país, diz que há ações
mais importantes do que o uso
do IUV. "É mais importante ensinar à população como evitar
os perigos do sol de maneira geral que divulgar o índice de radiação", diz Carlos Eduardo Alves dos Santos, chefe da seção
de dermatologia do Inca. "No
dia-a-dia, é mais útil mostrar as
formas corretas de prevenção."
O ideal, afirma Santos, é que,
independentemente do índice,
a população lembre sempre de
sair de casa protegida. "Mesmo
antes das 10h ou após as 16h,
quando a radiação ultravioleta
está mais fraca, é necessário se
proteger."
Josilene Ferrer, coordenadora do Grupo Técnico de Questões Globais da Assessoria de
Planejamento Estratégica da
Cetesb (agência ambiental do
Estado de São Paulo), diz que o
órgão conta principalmente
com os meios de comunicação
para divulgar o índice no Estado. "Campanhas não estão previstas, mas o secretário novo
[do Meio Ambiente, Francisco
Graziano] está chegando, vamos ver."
Regiões do país
Estudo da UFRJ indica que
as regiões Norte e Nordeste são
as que apresentam radiação ultravioleta mais elevada no verão e ainda preocupante no inverno. Nas outras regiões do
país, foram registrados níveis
seguros no inverno.
Outro levantamento feito
apenas na região Sul mostrou
que Porto Alegre, por exemplo,
chega a registrar, no verão, índice acima de 11, um nível extremo.
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