São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Aluno diz que foi chicoteado durante trote

Calouro do curso de veterinária foi internado em coma alcoólico e disse que foi obrigado a beber e a entrar em uma lona cheia de fezes

Um estudante, cujo nome não foi divulgado, foi indiciado; universidade Anhanguera abriu inquérito para identificar envolvidos

Robson Ventura/Folha Imagem
Calouro Bruno Ferreira mostra como ficou sua calça após o trote

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Um calouro de medicina veterinária da universidade Anhanguera Educacional, em Leme (189 km de SP), foi internado na segunda-feira em coma alcoólico após receber um trote. O rapaz, de 21 anos, diz que foi obrigado a ficar alcoolizado, teve de entrar em uma lona que continha restos de animais em decomposição, fezes e esterco e ainda foi submetido a uma sessão de chicotada por um grupo de veteranos.
O aluno e balconista Bruno César Ferreira, 21, que mora em Iracemápolis, cidade vizinha a Leme, teve de ficar três horas no hospital. Tomou soro e recebeu oxigênio. Com diversas marcas de agressão pelo corpo, ele foi deixado na sarjeta perto do campus e deu entrada no hospital como indigente.
Além dele, a polícia confirma que outro rapaz, de Rio Claro, também foi agredido durante o trote. Um estudante da universidade, cujo nome não foi divulgado pela polícia, foi indiciado.
De acordo com Ferreira, eram cerca de 40 veteranos aplicando o trote em 30 calouros. Parte do grupo filmava e tirava fotos -os vídeos estavam na internet ontem mesmo.
O rapaz diz que foi obrigado a beber e que foi colocado em uma cadeira amarrada a um poste. Um veterano chutou os pés da cadeira e ele caiu, batendo a cabeça na guia da calçada.
A mãe de uma aluna -também caloura- foi quem socorreu o estudante e telefonou para que uma ambulância fosse buscá-lo, após ele ter sido abandonado na sarjeta.
Ontem, já em casa, o estudante disse que tem medo de represálias e que desistiu do curso. Vai pedir de volta o dinheiro da matrícula -R$ 800.
O pai do universitário, o consultor de vendas Paulo Sérgio Ferreira, 45, classificou o caso como "deplorável". "Quando cheguei ao hospital, ele estava com os pés frios, tomava soro e oxigênio deitado em uma maca. Ele poderia ter morrido", disse.
Segundo o pai, o estudante deu entrada no hospital como indigente, pois estava sem os documentos -retirados por alguns veteranos antes do início do trote. "Ele estava todo sujo e molhado. A impressão que tive é que ele foi jogado no esgoto."
A Polícia Civil de Leme instaurou um inquérito para apurar os responsáveis pelo trote.
O estudante indiciado sob acusação de praticar o trote será chamado nos próximos dias para prestar depoimento, segundo o delegado Fernando Teixeira Bravo. Ao menos duas testemunhas vão ajudar na identificação dos responsáveis pelo trote violento.
Em nota oficial, a universidade informou que "colocou um médico à disposição do aluno agredido, abriu uma sindicância para apurar os responsáveis pela agressão e irá tomar as medidas cabíveis".
A Anhanguera Educacional informou ainda que "é totalmente contra o trote violento".

História do trote
A prática do trote no Brasil começou nas academias militares. O calouro sofria agressões como ser amarrado nu a uma cama e suportar que um veterano passasse um jornal em chamas sobre seu corpo. A primeira vítima fatal de trote no país foi Francisco da Cunha Meneses, morto a facadas em 1831, em Recife.


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