São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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PMs confessam ter decapitado ao menos 3 pessoas

Ao todo, 12 PMs estão presos sob a suspeita de integrar um grupo de extermínio conhecido como "Os Highlanders"

No computador da casa de um dos PMs presos em São Paulo foram descobertas imagens de duas crianças empunhando armas de fogo

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Presos sob a suspeita de integrar um grupo de extermínio conhecido como "Os Highlanders" (porque as vítimas eram decapitadas), três PMs confessaram, em depoimento à Polícia Civil, ter matado e degolado ao menos três pessoas. A polícia acredita que o grupo, que age em bairros pobres do extremo sul de São Paulo, tenha cometido outros oito homicídios.
Ao todo, foram presos 12 PMs sob a acusação de integrar o grupo de extermínio.
Segundo as confissões, duas das vítimas teriam sido decapitadas por serem traficantes. O terceiro caso teria sido um "acidente" -a vítima teria morrido durante um espancamento após uma abordagem.
Em 23 de outubro de 2008, a Folha revelou que ao menos cinco homens foram encontrados decapitados, entre abril e outubro, na divisa de bairros da zona sul de São Paulo e Itapecerica da Serra (Grande São Paulo).
Em seu depoimento, o soldado Marcos Aurélio Pereira Lima, do 37º Batalhão, relatou que ele e os PMs Rodolfo da Silva Vieira, Ronaldo dos Reis Santos e Jonas Santos Bento se passaram por viciados para sequestrar dois traficantes -a Folha não teve acesso ao depoimento de Bento.
Pelo relato, os dois homens foram levados para um matagal e espancados. Então, foram esfaqueados e decapitados.
O crime ocorreu em maio do ano passado. Para Santos, "apesar de estar arrependido, o que lhe conforta é achar que os indivíduos mortos ... eram criminosos e integrantes do PCC".
Os policiais presos disseram se sentir ameaçados porque os dois supostos traficantes eram integrantes da facção criminosa PCC. Segundo a polícia, não há provas dessa ligação entre as vítimas e o grupo criminoso.
O terceiro caso confessado foi o do deficiente mental Antonio Carlos Silva Alves, 31. Ele foi visto com vida ao ser colocado no carro da PM. Nesse veículo estaria o soldado Vieira. Pelo relato de Santos, Alves foi decapitado para não ser reconhecido, já que acabou morrendo durante espancamento.
Nos depoimentos, porém, não é explicada a razão de Alves ter sido abordado. A Polícia Civil desconfia que os PMs acreditavam que ele poderia ser traficante ou que tenham se irritado por achar que o deficiente mental estava zombando deles.
No computador da casa do soldado Lima, os investigadores localizaram fotografias em que duas crianças aparecem empunhando armas de fogo.
Anteontem, um machado e facas supostamente usados nas decapitações foram achados dentro do poço de um posto de gasolina da zona sul onde os policiais militares se reuniam.
O primeiro PM a assumir homicídios na zona sul foi o soldado Vieira, filho de um oficial da corporação e que, segundo apurava a promotora Eliana Passarelli, seria protegido do coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque da PM. O coronel teria tentado evitar que a investigação descobrisse a possível participação dos PMs.
Félix, segundo apurou a promotora, ordenou que fossem destruídos relatórios em que os PMs narravam abordagens de pessoas que mais tarde apareceram decapitadas.
Após chegar ao nome de Félix, a promotora foi afastada do caso pelo procurador-geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, sob a alegação de que ela não pode atuar em investigações fora da esfera da Justiça Militar.
Além das cinco decapitações, os PMs são suspeitos de terem cometido uma chacina em agosto de 2008, na favela no Morro do Índio.


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