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SAÚDE
Há registro de pelo menos 11 casos desde dezembro
Crianças indígenas morrem de desnutrição em reserva no RS
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Pelo menos 11 crianças indígenas com menos de três anos morreram por desnutrição clinicamente confirmada na reserva da
Guarita, em Redentora (RS). Outras seis mortes estão sendo analisadas. Todas as crianças eram
caingangues e guaranis.
O enfermeiro Marcos Pinheiro,
coordenador da equipe de atenção à saúde do índio, que define o
quadro como ""dramático".
Além dos 11 casos confirmados
entre 17 mortes infantis desde dezembro, 16 crianças com sintomas de desnutrição estavam ontem nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) de cidades vizinhas
e no Hospital Santa Rita, de Redentora, que não tem UTI.
A maioria das crianças apresenta sintomas como diarréia e vômito. Técnicos da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) estão
no local para verificar se a causa
das mortes é apenas carência de
alimentos, especialmente leite.
Até terça, eles pretendem ter um
relatório oficial sobre a situação.
""Vômito e diarréia podem ser
causados por vários motivos, como o consumo de alimento estragado ou um vírus. A desnutrição é
um estado que diminui a imunidade das crianças e as deixa mais
vulneráveis", afirmou a pediatra
Cláudia Ricachnevsky, do Hospital da Clínicas de Porto Alegre.
Sem verba
""Faltam alimentos, falta leite. O
pessoal morre de fome mesmo.
Há certo abandono. A prefeitura e
a Funasa têm responsabilidade
nisso. É urgente a adoção de medidas de longo prazo", disse o
procurador da República em Santo Ângelo, Osmar Veronese, que
enviou ofício à Funasa pedindo
providências.
O secretário da Saúde de Redentora, Nilson Costa, afirmou que os
recursos da prefeitura são insuficientes para o atendimento aos
indígenas e que os R$ 1.176 recebidos mensalmente por meio do
Programa de Carências Nutricionais, destinados à aquisição de
azeite e leite, serão canalizados
agora apenas para o leite.
Além da carência alimentar, a
Funasa diz haver, no local, falta de
materiais e de equipamentos, o
que dificulta a prevenção. O problema gerou uma crise entre a Funasa e o prefeito de Redentora,
Adelar Paschoal (PMDB). A Funasa alega que convênios são descumpridos. O prefeito nega.
Segundo o coordenador regional da Funasa, Paulo Mabília, são
entregues R$ 20 mil mensais para
a prefeitura pagar a profissionais
da saúde na reserva, mas tais recursos seriam destinados também à população branca.
O prefeito afirma que os profissionais foram substituídos porque quiseram deixar a tarefa.
A reserva tem 2.800 índios. A
população de Redentora é de
8.460 pessoas. É, segundo o prefeito, um dos três municípios
mais pobres do Estado.
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