São Paulo, domingo, 11 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Há registro de pelo menos 11 casos desde dezembro

Crianças indígenas morrem de desnutrição em reserva no RS

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Pelo menos 11 crianças indígenas com menos de três anos morreram por desnutrição clinicamente confirmada na reserva da Guarita, em Redentora (RS). Outras seis mortes estão sendo analisadas. Todas as crianças eram caingangues e guaranis.
O enfermeiro Marcos Pinheiro, coordenador da equipe de atenção à saúde do índio, que define o quadro como ""dramático".
Além dos 11 casos confirmados entre 17 mortes infantis desde dezembro, 16 crianças com sintomas de desnutrição estavam ontem nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) de cidades vizinhas e no Hospital Santa Rita, de Redentora, que não tem UTI.
A maioria das crianças apresenta sintomas como diarréia e vômito. Técnicos da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) estão no local para verificar se a causa das mortes é apenas carência de alimentos, especialmente leite. Até terça, eles pretendem ter um relatório oficial sobre a situação.
""Vômito e diarréia podem ser causados por vários motivos, como o consumo de alimento estragado ou um vírus. A desnutrição é um estado que diminui a imunidade das crianças e as deixa mais vulneráveis", afirmou a pediatra Cláudia Ricachnevsky, do Hospital da Clínicas de Porto Alegre.

Sem verba
""Faltam alimentos, falta leite. O pessoal morre de fome mesmo. Há certo abandono. A prefeitura e a Funasa têm responsabilidade nisso. É urgente a adoção de medidas de longo prazo", disse o procurador da República em Santo Ângelo, Osmar Veronese, que enviou ofício à Funasa pedindo providências.
O secretário da Saúde de Redentora, Nilson Costa, afirmou que os recursos da prefeitura são insuficientes para o atendimento aos indígenas e que os R$ 1.176 recebidos mensalmente por meio do Programa de Carências Nutricionais, destinados à aquisição de azeite e leite, serão canalizados agora apenas para o leite.
Além da carência alimentar, a Funasa diz haver, no local, falta de materiais e de equipamentos, o que dificulta a prevenção. O problema gerou uma crise entre a Funasa e o prefeito de Redentora, Adelar Paschoal (PMDB). A Funasa alega que convênios são descumpridos. O prefeito nega.
Segundo o coordenador regional da Funasa, Paulo Mabília, são entregues R$ 20 mil mensais para a prefeitura pagar a profissionais da saúde na reserva, mas tais recursos seriam destinados também à população branca.
O prefeito afirma que os profissionais foram substituídos porque quiseram deixar a tarefa.
A reserva tem 2.800 índios. A população de Redentora é de 8.460 pessoas. É, segundo o prefeito, um dos três municípios mais pobres do Estado.


Texto Anterior: Na lei, pedestre é respeitado
Próximo Texto: Violência: Briga por conta de água termina em homicídio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.