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Criança é maior vítima de abuso, diz estudo
Pesquisa do Hospital Pérola Byington indica que 43% dos casos de violência sexual são contra crianças de até 12 anos
Levantamento, feito com
1.926 casos em 2007,
aponta, ainda, que 517
registros de abusos foram
contra jovens de até 17 anos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase metade dos casos de
violência sexual atendidos em
2007 no Hospital Pérola Byington, em São Paulo, é de crianças
até 12 anos, revela levantamento divulgado ontem pela Secretaria de Estado da Saúde. A instituição é referência na América Latina em atendimento às
vítimas de violência sexual.
As crianças nessa faixa etária
representaram 43% de 1.926
casos de violência sexual atendidos no hospital. No mesmo
período, houve 517 casos de
abusos contra adolescentes até
17 anos. Somando crianças e
adolescentes, a taxa de violência sexual chega a 70%.
Em quase 15 anos de trabalho, o hospital já computou cerca de 9.000 notificações de
abuso sexual contra menores
de 18 anos. O Pérola não dispõe
de dados tabulados sobre a faixa etária das vítimas de violência em anos anteriores, mas, segundo o coordenador do serviço, Jéferson Drezett, os casos
envolvendo crianças pequenas
têm sido mais freqüentes. "Pode ser que esses casos estivessem debaixo do tapete. Agora,
com mais informações e serviços de atendimento às vítimas,
eles estão aparecendo."
Agressores
Drezett afirma que 85% dos
agressores são pessoas próximas às crianças, sendo que 40%
deles são pais ou padrastos. O
restante se divide em tios, avós,
amigos da família e vizinhos.
Segundo o médico, 60% dos
casos de abuso ocorrem mais
de um ano antes da descoberta
do crime -12% mais de cinco
anos antes. "Muitos casos só
vêm à tona quando a criança
aparece com uma DST [doença
sexual transmissível] ou quando começa a menstruar e engravida do agressor."
Do total de casos de crianças
violentadas atendidas no Pérola, 30% sofreram violência física (penetração vaginal ou anal).
"Na maioria [dos casos] são
atos libidinosos, masturbação,
por exemplo. O dano à criança é
de fundo emocional, e as seqüelas são terríveis", diz ele. O serviço conta com três psicólogas.
Drezett conta que como esse
tipo de abuso não costuma deixar sinais físicos como prova, é
preciso que os pais acreditem
nos relatos e queixas dos seus
filhos. "É importante desenvolver uma relação de confiança
entre pais e filhos e criar um espaço em que os filhos possam
se expressar sem medo de punição. E precisam se atentar
para mudanças comportamentais da criança."
Foi exatamente mudanças
no comportamento de Maria, 7,
que levou seu pai e sua madrasta a descobrir que a menina havia sido abusada pelo padrasto,
no período em que morava com
a mãe em uma casa de dois cômodos em Campinas (SP).
A garota era ansiosa, chorava
muito, tinha medo de dormir
sozinha e dificuldade de se relacionar com outras crianças. Por
indicação médica e da escola,
foi encaminhada a uma psicóloga. No consultório, Maria fazia repetidos desenhos de uma
cama e, quando questionada
sobre o significado, dizia: "ele
vem vindo".
Após o trabalho terapêutico,
descobriu-se que a menina era
abusada ao menos desde os cinco anos de idade.
A transcrição que consta no
relatório de atendimento do
programa onde a garota foi
atendida em Araçatuba (SP),
onde mora atualmente com o
pai e a madrasta, é aterrorizante. Diz a menina:
"Uma vez, a mãe viu um pouquinho, ficou brava e bateu nele
[padrasto] de pau, na cabeça".
Mas depois a mãe falou para eu
não contar para ninguém. Ou
ela me levaria para bem longe,
mas antes me daria uma surra."
O documento informa ainda
que a mãe de Maria qualificou-a como "sem-vergonha" e acusou a menina de "ter provocado" sexualmente o padrasto.
Mãe e padrasto respondem a
processo na Justiça.
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