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Falsa médica de Taubaté diz ter inventado assalto
Em depoimento, ela admite ter tentado suicídio
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O cinematográfico caso da
mulher de Taubaté que denunciou ter sido seqüestrada por
dois homens, sofrido corte nos
dois pulsos, jogada num rio sem
saber nadar e sobrevivido dentro da água por ficar uma madrugada inteira agarrada à vegetação foi, na realidade, uma
invenção dela.
Cláudia Maria Gonzaga Ferreira, 49, admitiu ontem à polícia da cidade que a história do
assalto serviu para encobertar
uma tentativa malsucedida de
suicídio. Ela disse que havia
abusado de antidepressivos.
"Nós a ouvimos numa clínica
particular de Taubaté. Ela estava sob efeito de remédios, mas
lúcida. Demonstrou arrependimento por ter inventado a história do seqüestro", afirmou o
delegado Marcelo Duarte Ribeiro, de Taubaté.
Segundo o delegado, porém,
Cláudia Maria disse que não comentaria as acusações de que
trabalharia como médica sem
jamais ter estudado medicina.
Afirmou que só falará sobre esse tema quando for intimada
pela Justiça.
A tentativa de suicídio ocorreu na madrugada do dia 22 de
fevereiro. Dois dias antes, a
Santa Casa de São José dos
Campos -hospital para o qual
trabalhava como médica do
trabalho havia nove meses-
convocou-a para esclarecer por
que o registro profissional que
ela apresentava pertencia a outra pessoa. Em vez de médica,
ela seria, na realidade, enfermeira. Essa descoberta pode
ter sido o motivo da tentativa
de suicídio.
Na noite em questão, em casa, ela tentou se matar: tomou
20 cápsulas de um antidepressivo e, em seguida, cortou os
pulsos. Ela adormeceu. Quando acordou, de madrugada, viu
que a tentativa de suicídio não
havia tido resultado. Dirigiu
seu carro até a ponte sobre o rio
Paraíba do Sul e se jogou. No
entanto, ela caiu sobre uma
parte rasa do rio e ficou presa
na vegetação. Logo pela manhã,
homens que passavam pela
margem do rio a viram e chamaram o resgate.
A polícia de Taubaté investigava apenas o falso seqüestro.
Esse inquérito, agora concluído, será enviado à Justiça.
Cláudia Maria responderá por
falsa comunicação de crime. A
pena pode chegar a seis meses
de detenção.
O "seqüestro" chocou a região do Vale do Paraíba, principalmente em razão da crueldade dos criminosos que nunca
existiram. Os investigadores de
Taubaté disseram que Cláudia
Maria, ao apresentar sua denúncia, não caiu em contradição nenhuma vez e deu vários
detalhes. Chegou a fazer retrato falado dos seqüestradores e a
reconstituição do crime.
Seu advogado, Osmar Carvalho de Oliveira, disse que sua
cliente é uma pessoa "correta",
que só inventou ter sofrido um
roubo porque estava com "problemas emocionais".
De acordo com Oliveira, sua
cliente está sendo submetida a
tratamento na casa de parentes
dela. Ele não quis se pronunciar sobre as acusações de exercício ilegal da medicina contra
Cláudia, que, ontem, também
não foi localizada pela reportagem para comentar o caso.
Colaborou o "Agora"
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