São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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Falsa médica de Taubaté diz ter inventado assalto

Em depoimento, ela admite ter tentado suicídio

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O cinematográfico caso da mulher de Taubaté que denunciou ter sido seqüestrada por dois homens, sofrido corte nos dois pulsos, jogada num rio sem saber nadar e sobrevivido dentro da água por ficar uma madrugada inteira agarrada à vegetação foi, na realidade, uma invenção dela.
Cláudia Maria Gonzaga Ferreira, 49, admitiu ontem à polícia da cidade que a história do assalto serviu para encobertar uma tentativa malsucedida de suicídio. Ela disse que havia abusado de antidepressivos.
"Nós a ouvimos numa clínica particular de Taubaté. Ela estava sob efeito de remédios, mas lúcida. Demonstrou arrependimento por ter inventado a história do seqüestro", afirmou o delegado Marcelo Duarte Ribeiro, de Taubaté.
Segundo o delegado, porém, Cláudia Maria disse que não comentaria as acusações de que trabalharia como médica sem jamais ter estudado medicina. Afirmou que só falará sobre esse tema quando for intimada pela Justiça.
A tentativa de suicídio ocorreu na madrugada do dia 22 de fevereiro. Dois dias antes, a Santa Casa de São José dos Campos -hospital para o qual trabalhava como médica do trabalho havia nove meses- convocou-a para esclarecer por que o registro profissional que ela apresentava pertencia a outra pessoa. Em vez de médica, ela seria, na realidade, enfermeira. Essa descoberta pode ter sido o motivo da tentativa de suicídio.
Na noite em questão, em casa, ela tentou se matar: tomou 20 cápsulas de um antidepressivo e, em seguida, cortou os pulsos. Ela adormeceu. Quando acordou, de madrugada, viu que a tentativa de suicídio não havia tido resultado. Dirigiu seu carro até a ponte sobre o rio Paraíba do Sul e se jogou. No entanto, ela caiu sobre uma parte rasa do rio e ficou presa na vegetação. Logo pela manhã, homens que passavam pela margem do rio a viram e chamaram o resgate.
A polícia de Taubaté investigava apenas o falso seqüestro. Esse inquérito, agora concluído, será enviado à Justiça. Cláudia Maria responderá por falsa comunicação de crime. A pena pode chegar a seis meses de detenção.
O "seqüestro" chocou a região do Vale do Paraíba, principalmente em razão da crueldade dos criminosos que nunca existiram. Os investigadores de Taubaté disseram que Cláudia Maria, ao apresentar sua denúncia, não caiu em contradição nenhuma vez e deu vários detalhes. Chegou a fazer retrato falado dos seqüestradores e a reconstituição do crime.
Seu advogado, Osmar Carvalho de Oliveira, disse que sua cliente é uma pessoa "correta", que só inventou ter sofrido um roubo porque estava com "problemas emocionais".
De acordo com Oliveira, sua cliente está sendo submetida a tratamento na casa de parentes dela. Ele não quis se pronunciar sobre as acusações de exercício ilegal da medicina contra Cláudia, que, ontem, também não foi localizada pela reportagem para comentar o caso.


Colaborou o "Agora"


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