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EXCLUSÃO DIGITAL
Quase metade dos que atuam em educação básica não tem acesso à internet; TV é principal meio de distração
Profissional de educação fica longe da rede
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa época em que o mercado
de trabalho exige cada vez mais
qualificação profissional, inclusive com conhecimentos de informática, praticamente metade dos
profissionais de educação básica
no Brasil (48%) não tem acesso a
computadores ou à internet.
Nos momentos de lazer, a televisão aparece como um dos principais meios de distração, em detrimento do teatro ou do cinema,
que são frequentados uma ou
mais vezes ao mês por apenas 6%
dos educadores.
Quando se fala em leitura, os índices melhoram: 41% lêem um ou
mais livros por mês. Porém o dado não especifica o tipo de livro,
podendo incluir os usados em sala de aula, por exemplo.
A maioria tem ensino superior
simples (38,7%) ou superior com
especialização (27,6%). Uma boa
parcela (22,8%), porém, tem apenas o ensino médio. Sobre a rede
de ensino, 71,1% são da escola pública estadual.
Para completar o perfil dessa categoria, a maioria dos trabalhadores em educação básica
-53,1%- está na faixa etária entre 40 e 59 anos e tem de 12 a 18
anos de tempo de serviço. Isso
significa que, além de a formação
e a atualização da categoria ficar
abaixo do esperado, a maior parte
está na metade da carreira, podendo se candidatar nos próximos anos à aposentadoria.
Os dados compõem o Retrato
da Escola 3, pesquisa da CNTE
(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) feita no
ano passado e divulgada ontem.
Apesar de usar números de dez
Estados, com uma base que representa 30% dos 2,5 milhões de
trabalhadores em educação básica, a confederação diz que o quadro reflete a realidade do país.
Dos entrevistados, 75% são professores; 19,4%, funcionários e
3,9%, especialistas. Além disso,
83% são mulheres, que podem se
aposentar com 25 anos de serviço
ou 55 anos de idade -ou, no caso
das que entraram no magistério
antes de 1998, com 48 anos.
"A médio prazo, dez anos aproximadamente, o país começará a
sofrer a escassez de docentes, fato
que já é visível em várias redes estaduais, especialmente nas áreas
técnicas (matemática, química e
física), cuja formação encontra
em outras atividades da iniciativa
privada remuneração superior à
oferecida pelo poder público",
afirma o documento.
Para a presidente da CNTE, Juçara Dutra Vieira, o educador não
consegue acompanhar a velocidade das inovações tecnológicas.
"Não há uma política de formação continuada. Além disso, muitas vezes o professor precisa pagar
o curso, e o salário é insuficiente."
O Retrato da Escola 3 mostra
que a remuneração de 36,9% dos
entrevistados está entre R$ 500 e
R$ 1.000, mas não considera o regime de trabalho -de 20 ou 40
horas semanais. Outros 36,9% ganham de R$ 200 a R$ 500 e 10,3%,
de R$ 1.000 a R$ 1.250. Apenas
8,5% recebem acima desse valor.
Para tentar reverter esse quadro, a CNTE apresentou ao governo federal uma proposta de rever
o financiamento para a educação,
incluindo um piso salarial para os
professores vinculado ao Fundeb.
O novo fundo substituirá o atual
Fundef e deve englobar financiamento para ensino infantil, fundamental e médio.
O Ministério da Educação deve
encaminhar ao Congresso até o
fim do primeiro semestre um
projeto de lei que trata do piso salarial para professores.
Esse é um dos passos para o que
o ministro Cristovam Buarque
chama de "escola ideal" -toda
criança matriculada e aprendendo, com professores sensíveis,
preparados, bem remunerados e
valorizados, além de prédios e estrutura física de qualidade. Um
projeto para os próximos 15 anos.
Enquanto essa escola não chega,
41% dos estudantes não conseguem terminar a educação fundamental e 39% têm idade superior
à adequada para a série que cursam, segundo o governo federal.
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