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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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EXCLUSÃO DIGITAL

Quase metade dos que atuam em educação básica não tem acesso à internet; TV é principal meio de distração

Profissional de educação fica longe da rede

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa época em que o mercado de trabalho exige cada vez mais qualificação profissional, inclusive com conhecimentos de informática, praticamente metade dos profissionais de educação básica no Brasil (48%) não tem acesso a computadores ou à internet.
Nos momentos de lazer, a televisão aparece como um dos principais meios de distração, em detrimento do teatro ou do cinema, que são frequentados uma ou mais vezes ao mês por apenas 6% dos educadores.
Quando se fala em leitura, os índices melhoram: 41% lêem um ou mais livros por mês. Porém o dado não especifica o tipo de livro, podendo incluir os usados em sala de aula, por exemplo.
A maioria tem ensino superior simples (38,7%) ou superior com especialização (27,6%). Uma boa parcela (22,8%), porém, tem apenas o ensino médio. Sobre a rede de ensino, 71,1% são da escola pública estadual.
Para completar o perfil dessa categoria, a maioria dos trabalhadores em educação básica -53,1%- está na faixa etária entre 40 e 59 anos e tem de 12 a 18 anos de tempo de serviço. Isso significa que, além de a formação e a atualização da categoria ficar abaixo do esperado, a maior parte está na metade da carreira, podendo se candidatar nos próximos anos à aposentadoria.
Os dados compõem o Retrato da Escola 3, pesquisa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) feita no ano passado e divulgada ontem. Apesar de usar números de dez Estados, com uma base que representa 30% dos 2,5 milhões de trabalhadores em educação básica, a confederação diz que o quadro reflete a realidade do país.
Dos entrevistados, 75% são professores; 19,4%, funcionários e 3,9%, especialistas. Além disso, 83% são mulheres, que podem se aposentar com 25 anos de serviço ou 55 anos de idade -ou, no caso das que entraram no magistério antes de 1998, com 48 anos.
"A médio prazo, dez anos aproximadamente, o país começará a sofrer a escassez de docentes, fato que já é visível em várias redes estaduais, especialmente nas áreas técnicas (matemática, química e física), cuja formação encontra em outras atividades da iniciativa privada remuneração superior à oferecida pelo poder público", afirma o documento.
Para a presidente da CNTE, Juçara Dutra Vieira, o educador não consegue acompanhar a velocidade das inovações tecnológicas. "Não há uma política de formação continuada. Além disso, muitas vezes o professor precisa pagar o curso, e o salário é insuficiente."
O Retrato da Escola 3 mostra que a remuneração de 36,9% dos entrevistados está entre R$ 500 e R$ 1.000, mas não considera o regime de trabalho -de 20 ou 40 horas semanais. Outros 36,9% ganham de R$ 200 a R$ 500 e 10,3%, de R$ 1.000 a R$ 1.250. Apenas 8,5% recebem acima desse valor.
Para tentar reverter esse quadro, a CNTE apresentou ao governo federal uma proposta de rever o financiamento para a educação, incluindo um piso salarial para os professores vinculado ao Fundeb.
O novo fundo substituirá o atual Fundef e deve englobar financiamento para ensino infantil, fundamental e médio.
O Ministério da Educação deve encaminhar ao Congresso até o fim do primeiro semestre um projeto de lei que trata do piso salarial para professores.
Esse é um dos passos para o que o ministro Cristovam Buarque chama de "escola ideal" -toda criança matriculada e aprendendo, com professores sensíveis, preparados, bem remunerados e valorizados, além de prédios e estrutura física de qualidade. Um projeto para os próximos 15 anos.
Enquanto essa escola não chega, 41% dos estudantes não conseguem terminar a educação fundamental e 39% têm idade superior à adequada para a série que cursam, segundo o governo federal.


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