São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2005

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Prefeito trava queda-de-braço com a Câmara

DA REPORTAGEM LOCAL

Responsável pelo primeiro revés do governo José Serra (PSDB), a Câmara Municipal de São Paulo ainda é hoje um dos principais focos de insatisfação do prefeito, que trava uma queda-de-braço com os vereadores.
Adotando um discurso que vai acabar com o "fisiologismo" entre Executivo e Legislativo e fazendo reclamações públicas quanto à atuação dos parlamentares, Serra acabou se distanciando ainda mais de um entendimento com a Casa. O único projeto apresentado até agora pelo prefeito, o da reforma da Previdência municipal, está parado, aguardando leitura em plenário para que possa tramitar nas comissões.
Sem maioria garantida, o secretário de Governo, Aloysio Nunes Ferreira, articula uma negociação pontual para a aprovação da reforma, que segundo Serra pode garantir uma economia de R$ 300 mil por dia à cidade.
Sua estratégia é desarticular a composição do centrão, grupo de 16 vereadores que se dizem independentes. Para isso, tenta atrair o PTB prometendo participação no governo, o que incluiria cargos na administração.
Auxiliares de Serra dizem não se tratar de "lotear" a prefeitura, transformando departamentos municipais em "feudos" de vereadores, mas de garantir espaço a partidos aliados como ocorreu com o PDT, PFL e PV -além de secretarias, as legendas foram agraciadas com subprefeituras.
O cientista político Marco Antônio Teixeira, pesquisador da FGV, prevê dificuldades a Serra na composição da maioria. "Historicamente a distribuição de cargos [aos vereadores] foi o maior instrumento para conquistar a maioria, porque os vereadores precisam responder a uma demanda popular nos seus redutos eleitorais", disse Teixeira. "Eles se acostumaram a essa relação e hoje é difícil ter governabilidade se não for por concessões como essas".
Para o também cientista político Fernando Abrúcio, da PUC, Serra "acerta e erra" na sua relação com a Câmara até agora. "Ele acerta ao não transformar a relação do Legislativo e do Executivo num clientelismo desbragado", afirmou. "Mas está errando ao mostrar que não tem uma estratégia política eficiente para montar a maioria, o que é fundamental".

Ação e reação
Aliado ao PT, o centrão conseguiu eleger o presidente da Câmara em janeiro. O então tucano Roberto Trípoli deixou o partido para se lançar ao posto e derrotar o candidato governista, Ricardo Montoro (PSDB). No dia da derrota, Serra disse ao senador Eduardo Suplicy (PT) que a responsável pelo revés era sua antecessora, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Muito petistas atribuem a esse episódio a decisão da administração do PSDB de adotar o discurso da "herança nefasta", apontando um rombo nas contas municipais deixado por Marta de R$ 1,8 bilhão.
(CONRADO CORSALETTE E FABIO SCHIVARTCHE)


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