São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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CASO RICHTHOFEN

Juiz atendeu a pedido de promotor que alegou que jovem coloca a vida do irmão, Andreas, em risco

Após 9 meses, Suzane volta para a prisão

ANDRÉ CARAMANTE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ré confessa dos pais, Suzane Louise von Richthofen, 22, voltou para a prisão ontem, depois de nove meses em liberdade provisória. A Justiça determinou o retorno dela para a cadeia a pedido do Ministério Público, que considerou que, além da possibilidade de fuga, Suzane representava um risco para seu irmão, Andreas, testemunha do crime e beneficiário dos bens da família.
A prisão preventiva -até o julgamento, marcado para 5 de junho- foi decretada pelo juiz Richard Francisco Chequini, do 1º Tribunal do Júri de São Paulo, às 17h40 de ontem. Duas horas depois, Suzane se entregou no 89º DP (Portal do Morumbi), zona oeste de São Paulo. Ela foi transferida para o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), onde permanecia até o fechamento desta edição.
Suzane confessou a participação na morte dos pais, Manfred, 49, e Marísia von Richthofen, 50. O casal foi assassinado enquanto dormia, com golpes de cano de ferro, em 2002. O então namorado de Suzane, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian, foram os autores dos golpes. Os dois, que chegaram a ficar em liberdade por cerca de três meses, voltaram à prisão em 23 de janeiro deste ano, quando tiveram a prisão decretada em decorrência de uma entrevista à rádio Jovem Pan.
Em junho do ano passado, Suzane conseguiu liberdade provisória, decretada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Segundo esse tribunal, ela não representaria risco à sociedade.
Uma entrevista concedida por Suzane ao programa "Fantástico", da Rede Globo, no final de semana, mudou esse cenário. O programa flagrou advogados orientando Suzane a chorar durante a entrevista e a culpar seu ex-namorado Daniel e o irmão dele, Cristian, pelo crime.
O promotor Roberto Tardelli usou essa entrevista para justificar o pedido de prisão. "A possibilidade de fuga era iminente. Descobriu-se a farsa. O tiro saiu pela culatra e ela poderia fugir porque tem pouco a esperar do julgamento", afirmou Tardelli. Segundo o promotor, Suzane conseguiu ficar "ainda mais antipática para a sociedade", o que complicou sua situação -ela será julgada por um júri popular.
Tardelli também afirmou à Justiça que Suzane, em liberdade, poderia colocar em risco a vida de seu irmão. "A permanência da ré em liberdade coloca em risco a vida de testemunha do feito, no caso, seu irmão, Andreas von Richthofen", escreveu o juiz Richard Chequini. "Tornaram-se públicas as divergências havidas entre Suzane e seu irmão, ora por desacordo na partilha de bens dos falecidos pais, vítimas", continuou ele.
No final de fevereiro, Suzane, orientada por seu advogado de defesa, Mário Sérgio de Oliveira, por seu tutor legal, o também advogado Denivaldo Barni, que trabalhava com Manfred na Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), e pelo filho dele, Denivaldo Barni Júnior, pediu à Justiça para administrar os bens da família.
Ela afirmou na petição que o irmão, hoje, administra o patrimônio da família "com total descaso e desleixo". Ela também pediu à Justiça o direito de receber parte do seguro de vida por conta das mortes de Manfred e Marísia.
O juiz Chequini também faz referência indireta ainda à entrevista que Suzane concedeu ao programa "Fantástico".
"Tem-se a necessidade de garantir a perfeita ordem de julgamento da ré e dos demais acusados, uma vez que se nota a clara intenção de criar fatos e situações novas, modificando, indevidamente, o panorama processual. Aos senhores jurados deverá ser assegurado o direito, constitucional, de julgamento pelas provas dos autos", argumentou o juiz.
Para o Ministério Público, a entrevista flagrou uma armação da defesa para que Suzane parecesse uma vítima dos irmãos Cravinhos. "Foi uma encenação de péssima qualidade", disse.
Suzane passaria a noite no DHPP. Ao contrário do que acontece normalmente com outros presos, ela não foi ao IML (Instituto Médico Legal) para passar por exame de corpo de delito. Um médico foi deslocado especialmente para examiná-la no DHPP. Ela será transferida para uma prisão na manhã de hoje.
A reportagem não conseguiu localizar ontem o advogado de Suzane, Mário Sérgio de Oliveira.


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