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BARBARA GANCIA
Não venha me dizer que foi ele
Se eu me convencer do envolvimento de Alexandre, comprometo minha fé no sucesso da humanidade
ESCREVO SEM conhecer o resultado da investigação sobre a
morte de Isabella.
Enquanto batuco o teclado, na TV
os repórteres ainda dão plantão na
entrada do prédio de onde ela caiu e
o apresentador do canal de notícias
repete mais uma vez que a polícia já
teria terminado de montar o quebra-cabeça que irá indicar o culpado
(ou os culpados).
Desde o primeiro momento em
que tomei conhecimento deste caso,
tenho me recusado terminantemente a aceitar o fato de que o pai
possa estar envolvido.
Algo me diz que, a partir do momento em que eu me convencer de
que Alexandre Nardoni teve alguma
coisa a ver com a morte da filha, minha crença no sucesso do ser humano ficará irremediavelmente comprometida. Minha convicção também está respaldada em um punhado de fatos. A eles:
1) Não foi estabelecido um motivo
para o crime;
2) Segundo o exame toxicólógico,
na noite da morte de Isabella, Alexandre Nardoni não teria consumido drogas ou álcool;
3) Quem já tentou cortar uma rede de proteção, como a instalada na
janela de que Isabella teria caído, sabe que se trata de uma operação hercúlea, que leva tempo e empenho e
não pode ser empreendida em uns
poucos minutos;
4) Porteiros de prédio não são
cientistas da Nasa. Não é incomum
que eles deixem passar pela portaria
quem deveria ficar de fora;
5) As imagens dos familiares feitas
no supermercado, poucas horas antes do crime, não trazem evidências
de desentendimentos entre eles.
São essas imagens emblemáticas,
aliás, que reforçam minha fé de que
Alexandre Nardoni não pode estar
envolvido de jeito nenhum.
Se eu for deduzir o contrário, como vou cruzar impunemente no supermercado com a próxima família
de classe média que vir empurrando
um carrinho de bebê? Como vou
deixar de pensar nos segredos tenebrosos que eles escondem, nos ódios
reprimidos que nutrem uns pelos
outros ou nas violências que são capazes de cometer?
Digamos que, num ato do que chamam de "insanidade temporária",
Alexandre tenha, de fato, machucado a filha. Será que, passada a emoção do momento e baixada a adrenalina, ele não iria cair em si, desmoronar e confessar dizendo que sua vida
acabou? Quem seria capaz de escrever uma carta para a filha morta jurando amor eterno depois de cometer uma barbaridade dessas?
Nos últimos dias, muito tem se especulado sobre a possibilidade de
que Alexandre esteja encobrindo a
culpa da mulher, Anna Carolina. A
justificativa para isso seria o fato de
ele ter mais dois filhos com ela.
Se essa hipótese -que é aventada,
inclusive, pelas autoridades- tiver
algum fundamento, a mãe de Isabella, Ana Carolina com um "n" só, terá
me fornecido o conforto que procuro. Poucas vezes se viu uma jovem
de 24 anos demonstrar publicamente tamanha maturidade, propriedade e comedimento depois de passar
pelo que ela passou.
Estive presente na missa de sétimo dia de Isabella e fiquei impressionada com a sua serenidade. Se a
madrasta teve alguma responsabilidade na morte de Isabella, Ana Carolina será, para mim, a prova de que
nem tudo está perdido neste mundão de meu Deus.
barbara@uol.com.br
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