São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Não venha me dizer que foi ele

Se eu me convencer do envolvimento de Alexandre, comprometo minha fé no sucesso da humanidade

ESCREVO SEM conhecer o resultado da investigação sobre a morte de Isabella.
Enquanto batuco o teclado, na TV os repórteres ainda dão plantão na entrada do prédio de onde ela caiu e o apresentador do canal de notícias repete mais uma vez que a polícia já teria terminado de montar o quebra-cabeça que irá indicar o culpado (ou os culpados).
Desde o primeiro momento em que tomei conhecimento deste caso, tenho me recusado terminantemente a aceitar o fato de que o pai possa estar envolvido.
Algo me diz que, a partir do momento em que eu me convencer de que Alexandre Nardoni teve alguma coisa a ver com a morte da filha, minha crença no sucesso do ser humano ficará irremediavelmente comprometida. Minha convicção também está respaldada em um punhado de fatos. A eles:
1) Não foi estabelecido um motivo para o crime;
2) Segundo o exame toxicólógico, na noite da morte de Isabella, Alexandre Nardoni não teria consumido drogas ou álcool;
3) Quem já tentou cortar uma rede de proteção, como a instalada na janela de que Isabella teria caído, sabe que se trata de uma operação hercúlea, que leva tempo e empenho e não pode ser empreendida em uns poucos minutos;
4) Porteiros de prédio não são cientistas da Nasa. Não é incomum que eles deixem passar pela portaria quem deveria ficar de fora;
5) As imagens dos familiares feitas no supermercado, poucas horas antes do crime, não trazem evidências de desentendimentos entre eles. São essas imagens emblemáticas, aliás, que reforçam minha fé de que Alexandre Nardoni não pode estar envolvido de jeito nenhum.
Se eu for deduzir o contrário, como vou cruzar impunemente no supermercado com a próxima família de classe média que vir empurrando um carrinho de bebê? Como vou deixar de pensar nos segredos tenebrosos que eles escondem, nos ódios reprimidos que nutrem uns pelos outros ou nas violências que são capazes de cometer?
Digamos que, num ato do que chamam de "insanidade temporária", Alexandre tenha, de fato, machucado a filha. Será que, passada a emoção do momento e baixada a adrenalina, ele não iria cair em si, desmoronar e confessar dizendo que sua vida acabou? Quem seria capaz de escrever uma carta para a filha morta jurando amor eterno depois de cometer uma barbaridade dessas?
Nos últimos dias, muito tem se especulado sobre a possibilidade de que Alexandre esteja encobrindo a culpa da mulher, Anna Carolina. A justificativa para isso seria o fato de ele ter mais dois filhos com ela.
Se essa hipótese -que é aventada, inclusive, pelas autoridades- tiver algum fundamento, a mãe de Isabella, Ana Carolina com um "n" só, terá me fornecido o conforto que procuro. Poucas vezes se viu uma jovem de 24 anos demonstrar publicamente tamanha maturidade, propriedade e comedimento depois de passar pelo que ela passou.
Estive presente na missa de sétimo dia de Isabella e fiquei impressionada com a sua serenidade. Se a madrasta teve alguma responsabilidade na morte de Isabella, Ana Carolina será, para mim, a prova de que nem tudo está perdido neste mundão de meu Deus.


barbara@uol.com.br

Texto Anterior: Apartamento foi lacrado três dias depois do crime
Próximo Texto: Qualidade das praias: Cinco praias estão impróprias em Caraguatatuba, diz Cetesb
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.