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ANÁLISE
Jovens se tornam presas fáceis com acessórios
CARMITA ABDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O fascínio que situações de
risco exercem sobre púberes e
adolescentes é característico
dessa fase e pode explicar, ao
menos em parte, a "febre" das
pulseirinhas coloridas, mensageiras de uma perigosa licenciosidade. O perigo não está no
sexo em si, mas na péssima parceria para a atividade, deflagrada, no caso, mais pelo desafio
que pelo desejo, mais por atrevimento que por atração.
Desafio e atrevimento que
tem deixado sequelas em alguns jovens. E do que têm se
aproveitado sociopatas, oportunistas sexuais, abusadores.
As pulseiras sinalizam uma
disponibilidade sexual aparentemente fácil, mas difícil de se
assumir e absurda, mesmo entre adultos bem resolvidos. No
pulso desses jovens, tornam-se
uma auto-ameaça à integridade
física, psíquica e moral.
As mensagens que aos enfeites transmitem, cobradas às últimas consequências por aqueles que não perdoam a ingenuidade da ousadia juvenil, merecem nossa reflexão.
Vetar o comércio e o uso não
atinge o âmago da questão, apesar de ser uma tentativa honesta de debelar o mal pela raiz. Porém, pode até estimular o uso
camuflada ou gerar polêmica.
Se os sociopatas não deixaram passar essa oportunidade
-fazendo dela uma licença para
violência- pais, educadores e a
sociedade não podem se furtar
à necessidade de análise que a
gravidade da situação exige.
A análise que se impõe diz
respeito à formação que estamos oferecendo às nossas
crianças, as quais -antes que
atinemos- tornam-se adolescentes e deliberadamente se
opõem à autopreservação e à
autoestima, arriscando sua própria integridade.
Estariam os jovens se insurgindo contra o excesso de cuidados parentais? Ou dando sequência à condição de abandono afetivo a que foram submetidos na infância? Abandono esse
exercido por uma sociedade
que cada vez mais banaliza o sexo e o dissocia do amor.
Essa sociedade negligencia,
quando contempla atônita e
não decodifica que as pulseiras
algemam, tornando os jovens
presas fáceis de um modismo
insensato, um comportamento
de grupo autodestrutivo.
Modismos e comportamentos esses infiltrados e disseminados por adultos que se apropriam da fragilidade de uma geração que legitimamente almeja se afirmar, mas para isso não
mede consequências. Não atina
para o desatino.
CARMITA ABDO é psiquiatra e professora do
Departamento de Psiquiatria da USP
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