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Ataque no Rio expõe guerra por caça-níquel
Carro em que estava o bicheiro Rogério Andrade foi alvo de bomba na quinta; na ação, ele ficou ferido e seu filho, de 17 anos, morreu
PM que tem ligação com a contravenção, segundo a polícia, sofreu atentado
nos mesmos moldes em outubro do ano passado
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Uma bomba explode no carro de um poderoso integrante
da máfia e mata o motorista, na
Sicília. O verdadeiro alvo, Michael Corleone, porém, não foi
atingido; morre sua mulher italiana, a siciliana Apollonia.
Uma cena semelhante à do
filme "O Poderoso Chefão"
aconteceu em plena tarde de
quinta-feira, no Recreio dos
Bandeirantes, zona oeste do
Rio. O Toyota Corolla blindado
que explodiu era do contraventor Rogério Andrade, provável
objetivo do atentado.
Mas naquele momento quem
dirigia o carro era seu filho,
Diogo, 17, que morreu na hora.
O corpo do rapaz foi destroçado
pela explosão, que destruiu
completamente o automóvel e
também feriu o rosto do pai, fora de risco de morte. O explosivo teria sido colocado sob o
banco do motorista.
Não foi o primeiro atentado a
bomba nesses moldes no Rio,
com a explosão sob o motorista.
Em outubro, o sargento da PM
Rony Lessa teve uma perna arrancada e a Hilux blindada destruída em uma explosão. A polícia apura se o autor do crime
-o detentor da "tecnologia
operacional"- é o mesmo. Lessa também é ligado à contravenção, de acordo com a polícia. A Folha não o localizou para comentar a acusação.
A ação de quinta-feira foi um
dos mais impressionantes capítulos da guerra pelo controle
dos caça-níqueis na zona oeste
do Rio, que já resultou em mais
de 50 assassinatos e tentativas
de homicídio desde o início, no
fim dos anos 90.
Disputa na família
Ao contrário de outras guerras de máfia, entre diferentes
famílias, esta é uma disputa entre inimigos familiares. O motivo é o espólio de jogo do bicho e
máquinas de caça-níqueis de
Castor de Andrade, integrante
da cúpula da contravenção do
Rio, morto em 1997.
Os dois protagonistas da disputa no Rio são Rogério Andrade, sobrinho do patrono, e Fernando Iggnácio, seu genro, casado com a filha Carmen Lúcia.
Na partilha de Castor, dividiu-se o negócio principal entre o filho, Paulinho, o sobrinho
Rogério -que cuidariam do jogo do bicho- e o genro, Fernando Iggnácio, um dos pioneiros das máquinas caça-níqueis
no Rio. No ano seguinte à morte do "capo", seu filho Paulinho
foi morto a tiros.
Rogério Andrade foi condenado, como mandante, a 19
anos e 11 meses de prisão, mas o
julgamento foi anulado, e novo
júri está marcado para agosto.
Nesse meio-tempo, foi preso,
mas obteve habeas corpus.
Assumindo os negócios deixados por Paulinho, Rogério
passou a disputar com Fernando Iggnácio a hegemonia da exploração da contravenção na
zona oeste, passando a explorar
também as máquinas caça-níqueis, arrendando a área para
máquinas alheias.
Houve mortes, destruição de
máquinas de lado a lado e tentativas de homicídio.
Em 2001, Rogério disse ter
escapado de uma tentativa de
assassinato quando um militar
da reserva invadiu um apart-hotel onde estava, mas a arma
falhou. O celular do pistoleiro
tinha registros do telefone de
Iggnácio, apontado como o
mandante. Policiais desconfiam de que tenha sido uma armação para incriminar o rival.
Nessas guerras, o enredo inclui mortes, atentados, dinheiro e proteção de policiais.
Os dois inimigos sempre contaram com a segurança de dezenas de policiais civis e militares. A operação Gladiador, da
Polícia Federal, prendeu em
2006 PMs e policiais civis que
davam proteção à contravenção. O ex-chefe de Polícia Civil
Álvaro Lins foi apontado como
"chefe da quadrilha" pela PF,
ao lado dos "Inhos", grupo de
agentes de sua confiança com
os apelidos no diminutivo.
Rogério e Iggnácio já tinham
sido presos antes, no mesmo
ano. Foram condenados no início do ano passado, mas soltos
em março e junho.
No período de um mês, antes
da operação, a PF flagrou nas
escutas quatro assassinatos e
dois atentados determinados
por Iggnácio. A cada morte,
Marcos Paulo Silva, o Marquinhos Sem Cérebro, ligava para
o chefe e dizia: "bingo", avisando que a vítima estava morta.
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